Dona Luzia é moradora do bairro há 15 anos e ajuda famílias a saírem da situação de fome; atualmente, distribui leite e alimentos aos carentes
No bairro Centreville, em Santo André, uma moradora ajuda a garantir o direito das mulheres. Dona Luzia Santos Silva, 61 anos, está ali há 15 anos e já mudou a vida de muitas famílias da região.
Presidente e fundadora da Ambec (Associação Mãe Bem Estar Criança), perdeu a conta de quantas pessoas que não tinham o que comer foram auxiliadas por ela. Atualmente, dona Luzia distribui na sede do local leite para 100 famílias, por meio do programa do governo do Estado Viva Leite. Em parceria com o banco de alimentos da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), também ajuda 40 famílias.
Nascida na Bahia, veio para São Bernardo em 1989 com o marido e os cinco filhos em busca de oportunidades melhores. Logo que chegou começou a fazer trabalho social no bairro Pedreira, onde vivia. “Morava em área de risco e assumi a liderança das mulheres, mas em cunho mais político. Reivindicava as melhorias junto aos vereadores. Eles iam pedir votos, mas tinham que cumprir a promessa”, disse.
Foi quando morava no local que dona Luzia perdeu o marido. Ele morreu em um assalto e a deixou sozinha com os filhos para criar e um salário de encarregada de um bufê.
Preocupada com o futuro, viu anúncio de terrenos baratos no Centreville e resolveu comprar. Dona Luzia ergueu a casa em que mora sozinha. “Eu e Deus construímos tudo. Não é fácil criar cinco filhos sozinha, mas sempre fui atrás dos meus direitos. Quando cheguei aqui, vi que muitas mães estavam em situação parecida com a minha, passando muito mais dificuldades e não tinham nenhuma ajuda.”
Ela afirmou que a situação no bairro andreense era pior que em São Bernardo na época. A maioria da população vivia em moradias irregulares e não tinha nem o que comer.
Dona Luzia não se intimidou com as dificuldades. Pegou emprestada uma Kombi e ia, na companhia de outras mães, para a Craisa coletar as sobras, que seriam o único alimento na mesa daquelas famílias. Também ajudou as mulheres que tinham direito a benefícios assistenciais.
“Hoje a situação mudou muito. É raro alguém passar fome, graças a Deus. Mas, as necessidades mudaram”, afirmou, a respeito do bairro que era para ser um condomínio de luxo, mas há 33 anos foi ocupado por famílias carentes.
Todo mês dona Luzia se reúne com as mulheres para prestar contas do dinheiro da associação, que sobrevive principalmente de doações. Preocupada com as crianças, ela montou pequena biblioteca na sede, que também foi construída por ela.
Anualmente, organiza as tradicionais festas de Dia das Crianças e Natal no bairro. Ela compra brinquedos para as crianças e distribui doces, além de proporcionar um dia com muitas brincadeiras e atividades.
Emocionada, lembra da história de um dos meninos, que, segundo ela, foi desprezado até pela família. “Ele não tinha jeito, roubava, usava drogas e eu sempre conversando com ele. Um dia ele caiu, e eu ia visitá-lo, dava banho e comida. Hoje ele é um pai de família e está totalmente recuperado. Veio até aqui me agradecer.”
Para quem tiver interesse de fazer doações à associação, como brinquedos, cestas básicas ou dinheiro, pode entrar em contato por meio do telefone 4458-1770 ou direto no endereço na Rua Miguel Calmon, 53.
Renan vende LPs para ajudar crianças
Um dos parceiros de dona Luzia é o fotógrafo Renan Perobelli, 23 anos. Ele, que coleciona discos de vinil desde os 8, hoje vende a coleção e destina a renda a projetos sociais.
Fã de rap nacional e rock, ele afirmou que a coleção começou pela influência da banda Charlie Brown Jr., que também o apresentou a um dos seus maiores ídolos, o rapper Sabotage. Há dois anos Renan decidiu se desapegar da coleção, guardando apenas 100 LPs para si.
“Basicamente são três instituições que me abriram os olhos: o rap nacional, a família e a igreja. Criei consciência e aprendi que a gente deve ser feliz sem depender de nada. Vi que a dona Luzia estava passando dificuldades para fazer uma festa de Natal na comunidade. Aí resolvi catalogar todos e coloquei na internet. No outro dia vendi tudo e dei o dinheiro para ela”, contou.
O projeto Sebo Social tem página no Facebook e cerca de 800 seguidores. Por lá, diversos usuários fazem doações de discos, CDs e jogos de videogames, além de terem acesso ao catálogo de Renan. Hoje ele destina a renda a diversas associações que atuam no bairro.
Segundo o jovem, participar de um projeto social é cansativo, principalmente ao se conciliar com o trabalho. Porém, vale a pena. “Pensei em desistir, mas a vida é uma batalha. Você já faz um papel que não é o seu, mas do Estado,não recebe ajuda e ganha um monte de críticas negativas. É difícil ter equilíbrio, porque é uma responsabilidade muito grande no meu colo, mas, graças a Deus, não desisti, Ele me deu forças para seguir”, garantiu, com fé.
Renan, que também é voluntário nos eventos da associação, pensa muito no futuro das crianças. “Minha preocupação é fazer com que elas entendam que usando drogas, sustentam o tráfico e matam famílias. Droga não é liberdade, é uma prisão.”
Família mantém avícola há 30 anos
Localizada no centro comercial do Centreville, a Avícola do Val é conhecida pela maioria dos moradores. O estabelecimento está no bairro há quase 30 anos e foi fundado pelo patriarca da família, que dá nome ao local. Atualmente, cerca de 300 frangos são vendidos no fim de semana.
Do Val, a mulher e as duas filhas se mudaram de Minas Gerais para o Centrevile há 33 anos. “Viemos em busca de melhores condições de trabalho, tanto que ele começou a trabalhar na indústria primeiro. Somente depois de alguns anos decidiu abrir negócio próprio”, disse a mulher, Lúcia do Val, 59 anos.
A família não conhecia nada de aves, mas isso não foi empecilho. O pai teve aulas com dois sobrinhos que já tinham trabalhado no ramo e passou os ensinamentos para a filha.
Hoje quem toca o estabelecimento é uma das filhas, Clarice Pereira do Val, 36, junto com o marido. O pai é aposentado, mas, segundo ela, não quer nem ouvir falar em vender o local. “A avícola que ajudou a criar a mim e a minha irmã dá o sustento para toda a família. O meu pai também não quer que eu venda, ele tem ciúmes daqui”, contou.
As aves são vendidas por pedaço e, de acordo com Clarice, o sucesso se deve à qualidade dos produtos. “A gente traz tudo do Interior, porque é muito mais fresco. Ao contrário do frango, que é comprado nos supermercados, você não vai pagar pelo gelo, e sim pela carne. Além disso, não há nenhum tipo de conservante, é muito mais saudável.”
O carro-chefe da casa é o frango assado, que é mantido aquecido na máquina e vem com batatas e farofa. Sai por R$ 25.
Apesar de o negócio ser administrado pela filha, a terceira geração da família, composta por Eloá Alves do Val Oriole, 10, sobrinha de Clarice, não pensa em fazer o mesmo. “Acho que não conseguiria mexer com carne crua”, disse a pequena.
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