Desvendando a economia Titulo Desvendando a economia
O Brasil estragou tudo ?
Sandro Maskio
30/05/2015 | 07:20
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Este é o título de matéria especial publicada na última semana pela revista inglesa The Economist. A reportagem gerou grande repercussão mundial e desagradou a Presidência da República, especialmente em razão das críticas. O artigo se contrapõe à matéria publicada na própria The Economist em 2009, quando o Brasil foi apontado como um dos países com melhores perspectivas de progresso na economia mundial. Naquele momento, a economia brasileira chamava atenção pela rapidez com que conseguira estimular a atividade econômica após a crise do sistema financeiro de 2008, cujos efeitos se prolongam até os dias atuais em diversos países. Além disso, havia à época a expectativa de que as obras para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas seriam capazes de impulsionar ainda mais a atividade interna.

Entretanto, o Brasil não conseguiu engrenar sua locomotiva no trilho do progresso, como previa a matéria escrita em 2009. Dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) demonstram que entre 2000 e 2012 a economia brasileira cresceu a uma média de 3,31% ao ano; superior à média de 1,99% ao ano observada entre 1995 e 2000. Entretanto, de 2008 a 2012, mesmo com a expansão de 7,5% em 2010, o crescimento médio registrado foi de 2,6% ao ano. Os dados apresentados pelo IBGE comprovam que a economia brasileira não conseguiu decolar, como estampava a The Economist em 2009. Mas, por que não conseguimos? Esta é a pergunta colocada na recente matéria da revista inglesa que desagradou o governo federal. Para desvendar essa questão, precisamos resgatar a recente evolução da economia. Após a década de 1970, quando o Brasil viveu a melhor fase de crescimento em sua história, o sistema econômico brasileiro perdeu capacidade de realização de investimentos.

De um lado, o setor público passou a enfrentar problemas orçamentários que o tornaram cada vez mais rígido, além do próprio crescimento da máquina estatal, o que tem dificultado a realização de investimentos públicos, que não ultrapassaram 3% do PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos anos. De outro lado, mesmo com o processo de abertura econômica, da maior presença do setor privado, da estabilização da inflação, da modernização produtiva, entre outras mudanças no sistema econômico brasileiro, não conseguimos estimular o fluxo de investimentos privados. Nos últimos anos, esse fluxo tem variado entre 15% e 17% do PIB. É fundamental esclarecer que o processo de investimento (aquisição de máquinas, equipamentos, tecnologia, edificações) é o que aumenta a capacidade de produção na economia. Como ampliar a produção e subir o PIB, se a capacidade de produção cresce a passos lentos?

Os fatores que têm atravancado o processo de investimento no Brasil foram os tópicos debatidos na revista The Economist. Dentre esses fatores estão a elevada carga tributária, concentrada na tributação indireta, que incrementa o custo do processo produtivo e torna o sistema tributário regressivo. O sucateamento da infraestrutura, prejudicada nas últimas décadas pela falta de investimento público. A necessidade de se realizar reformas administrativa e política no Estado brasileiro, com objetivos principais de tornar a utilização dos recursos públicos mais eficaz, assim como a eficiência do sistema jurídico e a segurança do sistema regulatório. A urgência em melhorar o sistema educacional brasileiro, para que não percamos o “bônus demográfico” (enquanto a nação ainda é jovem) e melhorarmos a qualificação da mão de obra. Esses fatores geram incertezas sobre a economia, o que afasta os investidores, apesar de termos também atributos importantes. Ao longo dos últimos 30 anos, as ações de política econômica brasileira não conseguiram restabelecer sistema econômico que conseguisse estimular o volume de investimento e estruturar sistema econômico progressista. Se o Brasil “estragou” as oportunidades, isso é reflexo de sucessão de escolhas que não priorizaram o planejamento de longo prazo, voltado ao desenvolvimento produtivo.  




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