O comerciante Filipe dos Anjos foi excluído do quadro de filiados da ACE (Associação Comercial e Empresarial de Diadema) após criticar a entidade em reportagens publicadas pelo Diário neste mês. Anjos, que presidiu a associação entre 1993 e 1997, diz que é vítima de perseguição e acusa a direção atual de ser “truculenta”.

No dia 14, o comerciante denunciou ao jornal o fato de a Prefeitura de Diadema espalhar pela cidade faixas promovendo o comércio de São Bernardo sem que a ACE adotasse medidas para coibir a ação. Menos de uma semana depois, Anjos deu outra entrevista ao Diário, na qual afirmou que as associações do setor são omissas, ultrapassadas e restritas a atividades burocráticas e cartoriais.

Carta enviada pela ACE ao comerciante, datada do dia 26, diz que o então associado seria excluído da entidade por justa causa, e cita que Anjos teria infringido dois artigos do regulamento interno. O documento é assinado pela presidente Vera Lucia Rocha.

“Tal decisão é motivada diante das constantes violações dos referidos dispositivos por vossa senhoria através (sic) de jornais, folhetos, pessoalmente, em redes sociais e mensagens eletrônicas”. O texto informa que o comerciante pode propor recurso em até 15 dias após a notificação.

O estatuto, por si só, demonstra autoritarismo. No artigo 9º, o documento alerta que “os associados poderão ser advertidos, suspensos ou excluídos por deliberação da maioria da diretoria” se: “rebelarem-se contra os princípios e objetivos da associação”; “fizerem referências desairosas de modo geral à associação”; e “causarem deliberadamente, danos morais ou materiais à associação”.

“Eu não sei quais são as motivações dessa expulsão. Mas posso imaginar que tenha a ver com o fato de a ACE ter sido questionada e, não tendo resposta à altura, partiu para a retaliação, achando que isso vai esgotar o assunto”, diz Anjos. Ele alega que não teve direito à defesa prévia e garante que irá entrar na Justiça contra a postura da entidade.

Questionada pelo Diário, a associação respondeu por e-mail, que foi enviado com cópia para o advogado Ricardo André Barros de Moraes. Diz que, em 43 anos de história, Anjos foi o primeiro associado excluído, e que várias gestões já “sofreram com acusações infundadas, calúnia e difamação, mas somente agora foi aberto um processo pela ACE diante do desrespeito”. O material informa que, em abril, o comerciante foi condenado em primeira instância e teve de tirar postagens sobre a agremiação em uma rede social.

A gerente da ACE Carla Bassi garante que o processo foi democrático e que Anjos já havia sido “repreendido inúmeras vezes” por integrantes da direção, que solicitaram retratação. A entidade acrescenta o fato de ele ter 15 dias para apresentar defesa.