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Relação luso-brasileira

Em 2012 e 2013 será celebrado o Ano de Portugal no
Brasil em simultâneo com o Ano do Brasil em Portugal

Luciane Mediato
Especial para o Diário
09/01/2012 | 07:00
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Em 2012 e 2013 será celebrado o Ano de Portugal no Brasil em simultâneo com o Ano do Brasil em Portugal. A comemoração, que se realiza pela primeira vez, foi decidida em maio de 2010. Segundo o comissário-geral do programa e presidente da Fundação Luso-Brasileira, Miguel Horta, a proposta é mostrar a criatividade e o conhecimento português nas artes, no pensamento, na ciência e na economia.

O programa das comemorações tem início em 7 de setembro - Dia da Independência do Brasil - e termina em 10 de junho de 2013 - Dia de Portugal. Nos próximos dois meses, Horta coordenará equipe que organizará os eventos para o Ano de Portugal no Brasil. "Queremos despertar mais interesse pela cultura e pelos produtos portugueses, atrair mais turistas e empresas brasileiras e estreitar vínculos entre as sociedades civis", diz Horta.

Esse ano oferecerá dupla oportunidade para reavaliar os laços culturais, afetivos e até genéticos que nos ligam ainda à antiga metrópole. O primeiro elemento dessa avaliação concentra-se justamente na língua portuguesa: o ideal da ‘lusofonia' - isto é, o desejo de que nossa língua deixasse de ser minoritária, desconhecida e confundida com o espanhol, enfim, a ideia de vê-la difundir-se, congregar várias comunidades políticas e sociais de expressão universal - deixou de ser sonho: é realidade.

A mais evidente herança portuguesa para a cultura brasileira é a língua, eternizada pela escrita. Como parte das celebrações deste ano, o escritor Fernando Pessoa foi escolhido para ser o embaixador do programa de divulgação da literatura portuguesa junto aos brasileiros.

Pessoa é um cartão que facilita a entrada da literatura portuguesa no Brasil e tem expressão no Exterior que os portugueses ainda não reconheceram. "Ele é considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa e da literatura universal. A obra é legado da língua portuguesa ao mundo", ressaltou Inês Pedrosa, diretora da Casa Fernando Pessoa, de Lisboa. A instituição destinará verba de 55 mil euros para a divulgação da vida e obra do autor no Brasil.

HERANÇA
A arte de escrever e perpetuar as palavras em obras começou com as manifestações literárias mais esporádicas, textos literários ou para-literários dos viajantes portugueses.

O professor de literatura e linguística da Universidade de São Paulo, Benjamin Abdala Júnior, explica que o processo de fixação, empreendido sobretudo por brasileiros de descendencia portuguesa, propiciou uma literatura que tanto os portugueses quanto os brasileiros vinculam à respectiva nacionalidade. "Quando qualquer escritor ainda hoje cria textos em língua portuguesa, não podemos nos esquecer - por mais criativo que ele seja - de que está trabalhando um repertório literário, cuja plasticidade começou na formação do Estado Nacional português", afirma Abdala Júnior.

Os principais autores desse intercâmbio literário - depois do paradigma camoniano, sem desconsiderar pontualmente alguns outros poetas - foram Bocage, Herculano, Garrett, mas sobretudo, no fim do século 19, Eça de Queirós. "Ele foi importante para os escritores brasileiros impropriamente designados regionalistas, como Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado, Raquel de Queirós e outros", diz Abdala Júnior.


Troca de conhecimentos é mútua na atualidade

O fato de Portugal ter contribuído e muito para construção da nossa identidade cultural é indiscutível. Hoje, essa troca de conhecimentos e convergência de costumes ocorre mutuamente. Temos uma presença muito forte da cultura brasileira em Portugal, a partir das telenovelas e das músicas populares.

O ator Luis de Lima chegou ao Brasil no início da década de 1950. Trilhou longa carreira no teatro, incluindo a mímica, ao lado dos maiores nomes de nossa dramaturgia. Fez algumas novelas também e morreu durante a gravações de Esperança.

Outro exemplo é Tony Corrêa, que foi galã de muito sucesso na década de 1970, com o sorriso largo e os olhos azuis. Nos anos 2000, o sucesso de Ricardo Pereira abriu espaço para outra leva de atores portugueses em tramas urbanas – e não apenas em novelas de época.

Atualmente, ‘uma nova versão’ de Tony Correia está no ar na Rede Globo. Trata-se de Paulo Rocha, que interpreta Guaracy em Fina Estampa, novela das 21h. Apaixonado pela protagonista Griselda (Lília Cabral), Guaracy tenta conquistar a mulher que banca a durona.

No campo literário, a troca cultural já acontece há tempos entre os dois países. Um exemplo é o ficcionista Graciliano Ramos que teve impacto muito grande em Portugal, como também os nossos poetas modernistas.

O sentido comunitário das trocas culturais se intensifica. A partir da revolução anti-salazarista, os nossos autores clássicos passaram a ser editados ou melhor editados em Portugal, onde um Machado de Assis era conhecido apenas de restrito público universitário.

Hoje, os escritores estão escrevendo cada vez mais para um público supranacional de língua portuguesa. Podemos ver com frequência um autor português fazendo circular suas efabulações entre Portugal e Brasil, como em Inês Pedrosa; ou do Brasil para Portugal,como em Luiz Rufatto; ou de Angola para Portugal e Brasil, como em Agualusa.

Apesar dessa produção ‘comunitária’, existem grandes diferenças entre a cena literária brasileira e a portuguesa. A literatura nacional ainda derrapa em alguns pontos enquanto nova geração de autores portugueses ocupa as prateleiras e seduz a crítica internacional.

 

 




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