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Turismo traz dinheiro a Ribeirao
Valmir Zambrano
Da Redaçao
17/07/1999 | 18:54
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A elevaçao de Ribeirao Pires à categoria de estância turística, em dezembro do ano passado, está produzindo agora seus melhores reflexos. Após 20 anos de muita discussao e poucos resultados, o título obtido pelo município estimulou a busca por uma açao melhor articulada entre o Poder Público e a iniciativa privada, o que vem atraindo o interesse de empreendedores para a indústria do turismo na cidade.

Uma leva de proprietários de sítios e chácaras, antes improdutivos ou administrados de forma amadora, está injetando dinheiro para reformar as áreas e oferecê-las como local para eventos de confraternizaçao de empresas e lazer familiar. Dados do Soae (Serviço de Orientaçao e Apoio ao Empresário), órgao da Prefeitura de Ribeirao, mostram que o número de interessados em abrir ou incrementar negócios em Ribeirao cresceu.

Em janeiro deste ano, foram duas consultas ao Soae, contra 29 em abril e 42 em junho. Dessas 42, 19 foram procuras para abertura de firmas, das quais oito eram para o ramo turístico. Das cerca de 100 consultas feitas ao Soae neste ano, 12 foram de donos de chácaras e sítios interessados em investir.

O caso mais emblemático dessa transformaçao é o Centro Hípico Amarelinho. De uma chácara modesta, que existia há dois anos em meio a uma grande área de mata , surgiu recentemente um negócio que atrai de 8 a 10 mil pessoas por fim de semana para ouvir música country e sertaneja, beber, comer e dançar noite adentro, em meio à Mata Atlântica.

O negócio pegou de tal maneira, que o Amarelinho está gastando R$ 1,5 milhao para montar uma arena e realizar o que promete ser o segundo maior rodeio do Estado, atrás apenas da tradicional festa do peao de Barretos. Parece muito dinheiro para ser investido em um sítio de 200 mil m², no meio do mato, a 50 quilômetros do Centro de Sao Paulo, mas o retorno é garantido.

Outro grande negócio na cidade é um pesque-pague. Aberto em abril, ele já consumiu R$ 300 mil para ser um pesqueiro, mas a intençao do dono é gastar mais R$ 300 mil para transformar o local em um clube.

Na indústria do turismo, iniciativas de grande porte sao fundamentais para puxar uma cadeia de negócios. Pousadas, campings e até lojas de produtos country estao começando a pipocar na cidade na órbita dos grandes negócios. Sao empresários que estao enxergando oportunidades de ganhar dinheiro com o turismo emergente.

Como em qualquer aposta, há o risco de contratempos. Ninguém pode garantir que Ribeirao vá se transformar em um fenômeno como aconteceu com Campos do Jordao.

Por outro lado, se Ribeirao mantiver a marcha atual, aqueles que se estabelecerem neste momento estarao largando na frente. Ser pioneiro na indústria do turismo pode significar a inserçao do nome em calendários e guias turísticos de forma quase automática. Além disso, os custos de uma instalaçao em um lugar ainda nao consagrado sao muito mais baixos. Há 50 anos, um terreno em Ribeirao era como um pedaço de terra na Lua. Hoje, o mesmo terreno tem valor e, daqui a dez anos, seu preço pode estar proibitivo.

Nessa trajetória, quem faz o papel de sinalizador é o Poder Público, investindo em infra-estrutura. Nos dois últimos anos, pelo menos R$ 6 milhoes foram gastos em obras de recuperaçao de locais públicos e sítios turísticos, além dos trabalhos de divulgaçao da cidade.

O título de estância turística foi o detonador de todo esse processo. Virar estância nao é questao de vaidade de quem administra ou uma possibilidade de se fazer um letreiro bonito em um portal à entrada da cidade. Significa dinheiro e, ainda, compromisso do município em sinalizar ao empresário que o turismo é viável.

Na condiçao de estância, Ribeirao Pires pode integrar os calendários turísticos do Estado, ganhando projeçao no Brasil e no exterior. Pode também entrar no rateio do Fundo de Melhoria das Estâncias Turísticas. Neste ano, a cidade deve receber uma cota de cerca de R$ 400 mil.

Outro benefício do título é o Fungetur (Fundo Geral de Turismo), fundo de divisas destinado aos empreendedores do turismo.

Empresário pode obter até R$ 1 mi de crédito

Da Redaçao

O Fungetur é mais um dos benefícios trazidos pela transformaçao de Ribeirao Pires em estância turística do Estado. A linha de crédito é do Banco do Brasil e foi criada para empresários que queiram investir na indústria do turismo. Ela deve estar disponível aos interessados em aproximadamente dois meses.

Os empréstimos podem ir de R$ 25 mil até R$ 1 milhao. Valores acima desse teto também poderao ser contemplados, mas a análise cadastral é mais rigorosa. Para empresas grandes, a taxa de juro é de 8% ao ano mais TR (Taxa Referencial). Para as pequenas, os juros sao de 6% ao ano mais a TR. O prazo de carência é de três anos. O tomador tem 13 anos para quitar a dívida.

Segundo Pedro Alexandre de Souza Campos, coordenador do Soae (Serviço de Orientaçao e Apoio ao Empresário), da Prefeitura de Ribeirao Pires, o Fungetur contempla todas as fases de implementaçao de uma empresa.

O empréstimo pode ser concedido para que o empreendedor toque a terraplenagem de uma área, a construçao civil, a compra de veículos e móveis e até mesmo para treinar pessoal. — VZ

Chácara vira negócio rentável

Valmir Zambrano<br>Da Redaçao

Donos de chácaras em Ribeirao Pires estao pegando carona na indústria do turismo emergente na cidade para transformar suas áreas em empreendimentos rentáveis. Eles estao deixando de lado o conceito de terreno destinado a moradia fixa ou de fim de semana, com direito a dores de cabeça com problemas caseiros e custos fixos sem compensaçoes, para atender à demanda externa por lazer.

O exemplo mais claro dessa mudança é o Centro Hípico Amarelinho, no bairro Quarta Divisao. Há dois anos, era uma chácara como centenas em Ribeirao, voltada para o uso da família do proprietário. A transformaçao começou com o início de atividades hípicas.

Depois vieram um bar, um restaurante e uma imensa tenda amarela que dá nome ao lugar. Hoje, em todos os fins de semana, o Amarelinho atrai de 8 a 10 mil pessoas para seus bailes country às sextas-feiras e sábados. Aos domingos, a gastronomia ganha espaço com boi e javali no rolete, as especialidades da casa.

“A maior parte dos clientes é de fora de Ribeirao Pires, o que mostra que estamos virando atraçao turística”, diz o gerente de marketing do Amarelinho, Mário Augusto Simone. O negócio vai tao bem que o Amarelinho vai promover, entre 5 e 8 de agosto, um rodeio que só perderá em estrutura em Sao Paulo para a consagrada festa do peao de Barretos.

Trata-se de um investimento de R$ 1,5 milhao, o que dá ao Amarelinho o status de âncora de uma série de empreendimentos em sua órbita. Já existem consultas à Prefeitura sobre como abrir pousada, camping e até loja de produtos country nas proximidades do centro hípico ou até mesmo no Centro da cidade, sob influência de uma imagem à moda caubói.

Do outro lado da cidade, no km 40 da rodovia Indio Tibiriçá, o Pesqueiro do Alemao abriu as portas (em 1º de abril último) e já pensa em expansao. Segundo Adriano Hepp, sócio do empreendimento, a idéia é transformar o pesque-pague em um clube, com direito a calendário com eventos. Ele afirma ter gasto R$ 300 mil no negócio e planeja injetar a mesma quantia na ampliaçao.

Outra ampliaçao ocorre na chácara de Eduardo Nogueira, que tem sua área há 14 anos, em Ouro Fino, distrito de Ribeirao. Ele já trabalha para melhorar o salao, os quiosques, churrasqueiras e piscina, mas busca parceria para erguer chalés. “Se eu tivesse lugar, abrigaria parte da organizaçao do rodeio do Amarelinho, que veio em busca de vagas. Há também eventos de empresas e até de evangélicos que demandam lugares para pernoite”, diz ele.

O professor de Administraçao Geraldo Zaccaro é outro que está investindo em seu sítio, o Rancho Fundo. Ele está pondo a mao na massa para erguer banheiros, churrasqueira e melhorar a infra-estrutura já existente. A área de 15 mil m² já foi exclusiva para o lazer de sua família, mas isso vai mudar. “Posso receber grupos de até 100 pessoas. Quero preservar o jeito rústico do lugar, mas oferecendo conforto”, afirma.

Todas as iniciativas empresariais em Ribeirao devem levar em conta a questao ambiental. Apesar de a Lei de Proteçao aos Mananciais ter sido abrandada para atrair investimentos para as cidades que têm áreas de preservaçao, ainda sao necessários cuidados. De acordo com Pedro Alexandre de Souza Campos, coordenador do Soae (Serviço de Orientaçao e Apoio ao Empresário), da Prefeitura de Ribeirao, as áreas de preservaçao de primeira categoria, por exemplo, nao podem receber ligaçao de energia elétrica.

Segundo ele, é preciso sempre consultar a Prefeitura para fazer obras. “Nossa intençao nao é atrapalhar, mas apenas orientar para que nao haja prejuízos ao meio ambiente e ao próprio empreendimento”, diz.

Imobiliária diz que nível de vendas foi mantido

Da Redaçao

Apesar do otimismo em torno do sucesso da política voltada ao turismo, os donos de imobiliárias de Ribeirao Pires estao desolados com os resultados. Eles afirmam que a elevaçao da cidade à categoria de estância turística, em dezembro passado, nao ajudou na venda de chácaras.

Andrelino Gonçalves da Silva, dono da Imobiliária Central, diz que o nível de vendas está igual ao do ano passado. “Continuo mantendo a média de 70 chácaras no cadastro de vendas. O problema da falta de dinheiro persiste e nao adianta transformar a cidade em estância. Todo mundo quer comprar, mas nao tem como”, afirma ele.

Para Antonio Geraldo Ferreira, proprietário da Pérola da Serra Imóveis, a questao é realmente conjuntural. “Falta dinheiro na praça.” Ele diz acreditar, no entanto, que priorizar o turismo na cidade é a política certa. “Quando a economia ganhar fôlego, as vendas vao melhorar”, prevê.

Para a Prefeitura, quem está aproveitando chácaras para ganhar com turismo sao os que já têm o imóvel, mas, no futuro, Ribeirao deverá atrair gente interessada em comprar áreas para abrir um negócio. — VZ

Luta por título tem 20 anos

Da Redaçao

A batalha de Ribeirao Pires em busca do título de estância tem pelo menos 20 anos. Cidade inteiramente recoberta por Mata Atlântica, ela conhece sua vocaçao pelo turismo. Sempre foi um ponto disputado por quem procura lazer na pesca, ou o sossego de suas chácaras imersas em clima de montanha. Mas também foi ocupada por indústrias, atraídas pelos baixos preços dos terrenos e pela proximidade do parque fabril do Grande ABC.

A criaçao da Lei de Proteçao aos Mananciais, em 1978, acabou por desestimular a instalaçao de fábricas, uma vez que o município está 100% em área de preservaçao. A partir daí, ficou claro que a opçao pelo turismo seria a única forma de viabilizar a cidade economicamente.

A busca pela elevaçao à categoria de estância ganhou força, mas esbarrou sistematicamente na poluiçao trazida por cidades vizinhas, inclusive Cubatao, além do desinteresse político do Estado em dar o título a Ribeirao. Durante anos, o município tentou os títulos de estância hidromineral e climática, sem sucesso.

Faltava também ao município um projeto melhor definido para convencer as autoridades do Estado. A administraçao da prefeita Maria Inês Soares levantou a bandeira do turismo de forma sistemática, trazendo para a Prefeitura pessoas com experiência no tema para trabalhar de organizada e consistentemente.

Conjuntura – No início do ano passado, a cidade recebeu pela primeira vez o selo de cidade potencialmente turística concedido pela Embratur. Foi este selo que deu o empurrao que faltava para que a reivindicaçao da cidade fosse aceita.

O projeto de lei para a transformaçao foi apresentado à Assembléia Legislativa de Sao Paulo e o presidente da casa, Paulo Kobayashi (nascido em Ribeirao Pires), ajudou a garantir a votaçao.

Hoje, Ribeirao é reconhecida em âmbito estadual como estância turística. Falta agora o mesmo título vindo da Embratur. Por enquanto, Ribeirao já recebeu do órgao federal o selo de cidade potencialmente turística por dois anos seguidos, mas ainda falta eliminar a palavra potencialmente.

Futuro – Para o futuro, Ribeirao terá o desafio de, além de investir dinheiro, criar uma cultura voltada ao turismo. A idéia é buscar o envolvimento da populaçao, dos trabalhadores e dos empresários da indústria do turismo. Além de atraçoes, a cidade tem de criar um clima propício ao turismo, com o devido tratamento a quem traz os recursos: o turista.

Outra questao para o futuro é a construçao do rodoanel. Se o atual traçado for mantido, ele passará próximo ao bairro Quarta Divisao, facilitando o acesso à cidade. — VZ




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