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Marqueteiro de Obama evita falar do PT
Tatiane Conceição
Do Diário Online
04/10/2009 | 07:15
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Citado como contratação certa do PT para as eleições de 2010, o norte-americano Ben Self, 32 anos, mais conhecido como marqueteiro do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, nega a ligação com o partido de Lula.

A sua empresa, a Blue State Digital - responsável pela estratégia online da campanha de Obama - ostenta números grandiosos: mais de 13 milhões de pessoas contatadas via e-mail, US$ 500 milhões arrecadados por meio da web, e 2 milhões de participantes de redes sociais, que organizaram 200 mil eventos em todo o país.

Em entrevista exclusiva ao Diário, concedida de seu escritório em Washington (EUA), Self, especialista em ciência da computação e engenharia, conta que procura incentivar as pessoas a agirem além do mundo virtual.

DIÁRIO ONLINE - Quais foram os pontos principais da campanha de Obama, e o que pode ser usado na realidade brasileira?
BEN SELF - Em relação à parte online da campanha, nós temos uma empresa que possui clientes e parceiros pelo mundo. Há itens técnicos que mudam de um país para outro, que funcionam em uma cultura e não em outra, mas há várias coisas que são gerais, como possuir a habilidade de criar um conteúdo que dê condições para as pessoas distribuírem o material do site para as suas listas de e-mails, ajudando a democracia, construindo relacionamentos online. Isso é algo que pertence 100% à natureza humana e que pode ser usado para a política.

DOL - É verdade que o e-mail pode ser considerado o ponto fundamental da sua estratégia de campanha?
SELF - É uma aplicação que tem se tornado massiva ao longo dos anos. Eu acredito que a real importância do e-mail não tem sido realmente avaliada. Não afirmando que outras mídias não sejam importantes, mas, no final do dia, o número de pessoas que você consegue alcançar por e-mail é muito maior. Por isso, ter uma crescente e dinâmica lista de e-mails é um componente-chave.

DOL - O que uma campanha precisa ter para ser um sucesso na web?
SELF - Eu não acredito que haja um item "mágico" em particular. É necessário ter uma estrutura, a partir do topo, disposta a fazer as coisas de maneira ligeiramente diferente; você precisa de um bom conteúdo, para gerar tráfego que leve as pessoas para o site; é necessário ainda uma estratégia para engajar pessoas e ajudá-las a agir. Possuir um grande site não significa que haja pessoas agindo por você.

DOL - Todos os candidatos precisam utilizar a Internet nas próximas eleições?
SELF - Obviamente, há candidatos que, eu tenho certeza, estão estabilizados em suas áreas e por isso não precisam fazer nada em uma campanha eleitoral. Mas para aqueles que pensam em fazer campanha sem utilizar a web para engajar as pessoas, um aviso: não há motivo para deixar de usar a rede, já que ela é algo disponível para todos os candidatos. Portanto, quem pensa em fazer campanha utilizando todos os recursos possíveis tem de incluir a internet.

DOL - Como foi a interação entre o trabalho de campo e a equipe online?
SELF - A campanha na internet é uma parte da campanha como qualquer outra, não é separada do resto do trabalho. Em termos de mensagem, contatos, estratégia, tudo deve ser completamente integrado.

DOL - Há diferença entre a campanha para presidente e para deputado, por exemplo?
SELF - Eu acredito que há diferenças, mas, tratando da perspectiva online, eu acredito que o trabalho na web é parte do que você faz, não importa em que projeto você esteja. Nós também trabalhamos em campanhas para prefeitos ou organizações locais. Não há muita diferença, no final trata-se de construir e engajar pessoas em relacionamentos, e usar essas relações para construir interações em um bom nível.

DOL - O acesso à rede mundial de computadores no Brasil ainda é limitado, de acordo com pesquisas. Como uma campanha pode lidar com essa dificuldade?
SELF - Uma das impressões erradas que as pessoas têm é de que a internet irá substituir a televisão, a carta, o contato pessoal. De várias maneiras a web pode ser usada para incentivar os mais dedicados voluntários, para depois eles engajarem outras pessoas fora do mundo virtual. Não é uma preocupação real o fato de que nem toda a população possui acesso a internet.

DOL - Uma das principais barreiras para o acesso à internet é o custo da rede. Além disso, no Brasil, as pessoas não têm o hábito de doar às campanhas. Como a sua empresa pode captar recursos neste cenário?
SELF - Doações são apenas parte da campanha. Esse não é o nosso único objetivo; a meta é vencer a eleição. Nós temos clientes em outros países que não possuem tradição de doações, e trabalhamos para incentivá-los a doarem mais. Mesmo nos Estados Unidos, há dez anos poucas pessoas faziam doações, e essa realidade mudou muito. Isso é algo que pode mudar, engajando as pessoas como parte do todo da campanha.

DOL - Vocês possuem clientes em quantos países?
SELF - Sete ou oito, não me recordo direito.

DOL - Vocês trabalham apenas para partidos considerados de esquerda? (O nome da empresa, Blue State Digital, significa Estados Azuis Digitais; Estado Azul é o termo utilizado para denominar uma região dominada pelo Partido Democrata, de esquerda).
SELF - Nós trabalhamos para o Partido Democrata aqui nos Estados Unidos. Obviamente, não trabalhamos apenas para o comunismo, mas também não iríamos trabalhar para a "direita pura", para uma empresa muito conservadora.

DOL - O Brasil está entre os seus clientes?
SELF - Nós não comentamos isso, como parte de nossa estratégia.

DOL - Você confirma que sua empresa foi contratada pelo PT?
SELF - Não comentamos o assunto, desculpe.

DOL - Quantas vezes você veio para o Brasil?
SELF - Duas vezes, pela empresa. A última visita foi recente, há poucas semanas.

DOL - Quando você estará de volta ao País?
SELF - Em duas semanas. Estarei em São Paulo para uma série de conferências organizadas pela Universidade George Washington.

DOL - Você disse em vários momentos da entrevista "engajar pessoas". Poderia dizer que elas definem o seu trabalho?
SELF - Boa pergunta, essa é difícil. Eu não tenho palavras melhores, mas também não estou certo quanto a estas duas (risos). Bem, engajar pessoas é parte da minha natureza, então acredito que é uma boa definição.




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