O estilista trabalha para uma elite consumidora com poder aquisitivo léguas distante da miséria social. Como fez em sua coleção outono/inverno, Versolato olha também para a base da pirâmide social: haverá cobrança de ingressos (R$ 60 e R$ 120) com renda revertida para a Escola do Futuro, com 400 alunos, dos quais 40% não podem pagar educação. O Hospital Samaritano, parceiro da escola que oferece convênio médico aos alunos, e o Centro de Educação Infantil Jardim Aeroporto também serão beneficiados.
O pagamento não é obrigatório. “Quem quiser, paga. As pessoas costumam deixar os problemas para o governo. Então parece que o presidente seria um milagre que resolve tudo. Se não mudarmos essa mentalidade, o Brasil não mudará nunca”. Do desfile, ele só antecipa uma novidade: corte a laser nas roupas OV Sport, feitos em uma máquina espanhola. “Ela é supernova, ilimitada, e não foi usada em nenhum lugar ainda”.
Um pólo industrial de alta-costura em São Bernardo é um antigo desejo de Versolato, que ele espera concretizar nos próximos seis meses. Em três anos, estima, a fábrica deve estar apta para exportar. O projeto e os recursos são dele. A confecção será um centro formador de mão-de-obra especializada e fabricará para grandes estilistas e o próprio Versolato.
Ele pensa nas deficiências na fabricação de produtos de luxo com qualidade e tecnologia. “Eu não precisava mais de aplauso em Paris. Minha marca é reconhecida no mundo inteiro. O que preciso é desenvolver a fabricação, onde está o meu problema. O projeto está em desenvolvimento e o prefeito Maurício Soares também está ajudando”.
O estilista deve voltar em agosto para Paris, onde fechou sua maison, para abrir um show room, também em Milão e Nova York. Suas clientes são socialites brasileiras, européias e norte-americanas fiéis a seu estilo ousado, e até princesas árabes.
Fazer moda requer base cultural, diz Versolato. “O meu trabalho é falar para as pessoas o que pode ser melhor para elas e agregar senso estético. Eu conheço a história da arte, adoro pintura, conheço os maiores designers dos séculos XVIII, XIX e XX. É isso o que procuro em minhas criações. De banalidade o mercado está cheio”.
Versolato critica o uso da palavra fashion no Brasil. “Eu já ouvi gente dizer ‘moda fashion’, que é uma redundância absurda. Existe moda que não é moda? Fashion é quando, sei lá, calça tem três pernas, camisa não tem manga? Já ouvi falarem ‘você é mais fashion, você é mais não sei o quê’. Não tem nada mais fashion que blazer bege. Acho que é falta de informação e necessidade de mudar as coisas”.
Há oito anos, Versolato prepara figurinos para shows de Ney Matogrosso e já trabalha nos dois próximos, que terão músicas de Cartola e Cazuza. Mas seu sonho é fazer um filme. “Isso é uma piração minha e da Sonia Braga, uma superamiga. Uma vez falei para ela que eu gostaria de fazer um filme que falasse da estética, como ela é importante para a vida das pessoas. Às vezes a gente se fala por telefone e comenta sobre isso. Um dia eu gostaria de fazer o roteiro, resumindo todo o meu universo”.
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