Depois de uma pesquisa de quatro anos, o teatrólogo, ator e professor de teatro brasileiro da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Rubens Brito, finalizou, em março, sua tese de doutorado sobre o dramaturgo Luis Alberto de Abreu, de Ribeirao Pires. Intitulada 'Dos peoes ao rei: o teatro épico-dramático de Luis Alberto de Abreu', o estudo discorre detalhadamente sobre o processo de criaçao do dramaturgo, e coloca em destaque a multiplicidade de linguagens explorada nas suas obras.

Esta é a primeira vez que Abreu tem sua obra analisada do ponto de vista acadêmico. Apesar disso, Brito o coloca como um dos principais representantes do teatro brasileiro deste fim de século. "Ele é uma das grandes revelaçoes da dramaturgia da década de 80, senao a maior; e também uma das personalidades mais instigantes dos anos 90. Acho que, depois de Nelson Rodrigues, ele será tido como o grande dramaturgo dos últimos 20 anos e o mais importante dos próximos dez anos, pelo menos", afirma.

Tantos elogios surgem, principalmente, da capacidade de Abreu enredar por caminhos diversos a cada texto teatral e por explorar o teatro épico e narrativo.

Em quase 20 anos de carreira, o dramaturgo escreveu 35 peças - a de número 36, chamada Till, estréia em julho. Entre elas, pode-se encontrar textos em verso, prosa, drama, melodrama, comédia, teatro infantil, de mamulengos e até peças didáticas escritas para empresas e escolas.

Como exemplo da diversidade de linguagens, Brito cita a brilhante e densa peça O livro de Jó, escrita em versos, que foi montada pelo grupo Teatro da Vertigem e, no ano passado, foi encenada em Moscou, na Rússia, e Iepe, uma comédia hilariante vista por mais de 15 mil pessoas.

"É um trabalho diversificado, cuja característica central é o teatro épico. Este tipo de trabalho nao é fácil porque tem de carregar a história de emoçao. Ao contrário de Bertolt Brecht, que o fazia com um certo distanciamento da platéia, a genialidade de Abreu é contar a história sem se distanciar. Ele consegue, dentro de uma estrutura épica, emocionar", explica.

Para Abreu, que acompanhou a defesa da tese de Brito na USP, sua principal intençao atualmente é resgatar o valor da narrativa. "O teatro se tornou todo dramático. Tento restabelecer o épico como valor moderno. Os diálogos levavam ao esgotamento e o teatro se tornou apenas representativo. A junçao do teatro épico, narrativo e dramático é muito nova e tem um poder comunicativo grande", diz.

Segundo Brito, a peça Till fecha uma trilogia chamada por Abreu de "diálogo de narrativas", na qual praticamente nao há açao em tempo presente. Todos os atores narram suas aventuras e, ao mesmo tempo, as representam. "É uma pesquisa única no Brasil. Ele fez isto em O livro de Jó, Iepe e agora, brilhantemente, no Till. A banca examinadora (da sua tese) nao conhecia outro autor no Brasil que faz isto. Eles ficaram surpresos", afirma.

A tese de doutorado de Brito possui 230 páginas e é dividida em quatro capítulos. O primeiro traz uma longa entrevista com Abreu. O segundo capítulo mostra a visao da crítica especializada sobre a obra do dramaturgo (inclusive três artigos publicados no Diário). No terceiro, Brito faz uma análise detalhada do seu processo de criaçao; no quarto, fala sobre Abreu no teatro brasileiro atual.

O professor pretende publicar sua tese em livro, e já está em contato com editoras.