Os primeiros indícios do tipo de utilizaçao que os guerrilheiros estao fazendo da zona desmilitarizada deu um sentido de urgência à formaçao de uma comissao de verificaçao internacional.
Por desavenças entre governo e guerrilha quanto às atividades dessa comissao, a reuniao de segunda-feira em Uribe (Departamento de Meta), na zona desmilitarizada, quando deveriam começar efetivamente as discussoes substanciais, corre o risco de nao ocorrer.
As incertezas e tensoes nas vésperas da reuniao crucial dizem muito sobre o estágio do conflito armado e, com ele, do incipiente processo de paz.
Previsibilidade nunca foi o forte das Farc. Seu líder máximo, Pedro Antonio Marín, aliás Tirofijo (Tiro Certo), nao compareceu à reuniao das negociaçoes, em San Vicente del Caguán (Caquetá), em janeiro. O presidente Andrés Pastrana esperou sentado, constrangido e esnobado.
Desta vez, tudo indica que a própria realizaçao da reuniao ficará em suspense até o último instante, enquanto as Farc regateiam com o governo sobre o que fará a comissao de verificaçao.
O argumento da guerrilha é simples: nunca foram definidas regras de sua atuaçao na chamada zona de distensao. Portanto, o que a comissao verificaria?
Nos 42 mil quilômetros quadrados do lado colombiano da Bacia do Orinoco, de onde o Exército colombiano se retirou a partir do dia 7 de novembro, as Farc impuseram, pela primeira vez, controle efetivo sobre um território. Os colombianos tiveram esta semana uma idéia de como esse controle é exercido. O chefe da Defensoria do Povo (equivalente ao Ministério Público), José Fernando Castro, denunciou a execuçao de 11 pessoas pelas Farc, acusadas de serem paramilitares (grupos de autodefesa rivais da guerrilha) infiltrados na zona de distensao.
Além disso, com a ofensiva das Farc em várias frentes e o êxito das Forças Armadas em contê-la, deixando 300 guerrilheiros mortos, provou-se o que já vinha sendo objeto de denúncias havia muito tempo: o recrutamento maciço, pela guerrilha, de crianças e jovens mulheres, dezenas das quais estavam entre os cadáveres.
O governo do presidente Pastrana, cujo principal tema de campanha eleitoral, há um ano, foi o lançamento de negociaçoes de paz, vê-se na difícil situaçao de ter de prestar contas sobre os resultados obtidos com as concessoes territoriais que fez.
Em Bogotá, o ceticismo domina a percepçao dos cidadaos comuns. A visao corrente é a de que a guerrilha é um negócio - que envolve o narcotráfico, os seqüestros e a cobrança de "impostos" e "pedágios". Nao será tirada dessas lucrativas atividades a nao ser pela força.
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