Acabou o serviço de ensino fundamental gratuito oferecido pelo Sesi (Serviço Social da Indústria) aos filhos de funcionários da indústria. O benefício, mantido por meio de doações das empresas ao sistema, foi criado em 1965. Comunicado nesta segunda-feira aos pais, o fato gerou protestos em frente ao Centro Educacional de Vila Clarice, em Santo André. A unidade tem 1,2 mil alunos.

A partir de 2007, os pais que quiserem manter os filhos em um dos Centros Educacionais com ensino fundamental (1ª a 8ª série) terão de pagar taxa anual de R$ 300. Já nos chamados CATs (Centros de Atividades), unidades maiores e que reúnem como o nome sugere melhor infra-estrutura, o valor salta para R$ 500 ao ano. Já o custo do ensino infantil (4 a 6 anos) será de R$ 700 anual para um período de quatro horas diárias. Os valores podem ser pagos em até 10 parcelas.

A partir de 2007, os CATs passam a ter também o ensino médio, com mensalidades de R$ 250, ou R$ 2,5 mil ao ano. Os pais alegam ter sido pegos de surpresa, às vésperas do período de rematrícula. “Avisaram na última quarta-feira que teríamos uma reunião com a diretoria da escola nesta segunda-feira. É um absurdo depois de tantos anos implantarem essa cobrança”, disse a desempregada Fabiola Favorito, 34 anos.

Analista de sistemas, Fabiola tem um fillha de 9 anos e um filho de 13 matriculados na 2ª e 7ª séries do ensino fundamental do Centro Educacional de Vila Lucinda e no CAT de São Caetano. “Como vou fazer para pagar R$ 600. Mesmo que seja parcelado, é algo que nem todos têm como pagar.”

O soldador da Volkswagen, Nelson Milato, 39 anos, está preocupado. “Tenho duas filhas de 11 anos que estudam no ensino fundamental aqui (Centro Educacional de Vila Lucinda) e um menino de 6 no CAT Prefeito Saladino. Para mantê-los no Sesi vou gastar R$ 1,3 mil. Não tenho condições.”

O aposentado Luís de Deus Marcos, 52 anos, que tem um filho de 13 anos no Centro Educacional de Vila Lucinda,criticou a decisão do Sesi. “Se não tem mais condições, que entregue então para o município ou ao Estado. O que não dá é fazer essa pressão. Avisar em cima da hora. Quem não puder pagar vai para onde?”

O inspetor de processo da Volkswagen Wanderley Gimenes Sert, 39, já fala em protestar em frente à Fiesp, na avenida Paulista. “O Sesi chamou os empresários para uma reunião e comunicou que passaria a cobrar dos pais. E os empresários nada fizeram. Quem sabe se protestarmos mudem de opinião!”

Atualmente, os pais contribuem apenas com R$ 80 anuais às APMs (Associação de Pais e Mestres). Os recursos são usados na manutenção das unidades, mas a contribuição não é obrigatória.

O coordenador de Gestão e Planejamento do Sesi/Senai, Walter Vicioni, alegou que a cobrança será feita para que o Sesi possa dar ao aluno um ensino de excelência. “Entendemos que o Brasil está perdendo espaço no mundo moderno. Pedimos apenas uma contribuição para continuarmos a oferecer um ensino de qualidade e chegar à excelência. Precisamos criar talentos para competir com outros mercados. E como competir se não tivermos gente qualificada?”

Segundo Vicioni, nenhum aluno ficará fora da escola caso o pai não tenha condições de pagar. “Haverá uma taxa de isenção. Se a divisão da renda per capita da família for igual ou menos que R$ 350, a pessoa estará isenta. Se uma família tem quatro pessoas e a renda é de R$ 1,4 mil, por exemplo não vai pagar.”

Vicioni garantiu que a escolha dos alunos que vão ingressar no ensino médio no próximo ano não será por sorteio, como disseram os pais. “Isso não existe. Teremos classes em cada unidade do CAT. Quem termina o fundamental tem vaga garantida.”

As salas do ensino médio vão ocupar espaços onde hoje funcionam as de ensino fundamental. “Estamos desativando uma sala de fundamental em cada uma dessas unidades (CATs)”, disse o coordenador do Sesi.

A renovação das matrículas ocorre de 27 de novembro a 1º de dezembro, período em que os pais devem dizer se manterão os filhos nas unidades. O Sesi tem 16 unidades escolares na região e atende 12.097 alunos.