A confiança do empresariado na economia do país se deteriorou, como conseqüência de fatores como a conjuntura de juros elevados e o clima de incertezas provocado pela crise política. É o que aponta a CNI (Confederação Nacional da Indústria), que divulgou nesta terça-feira o indicador ICEI (Índice de Confiança do Empresário Industrial). Em julho, o ICEI foi a 50,7 pontos, 5,1 pontos a menos que o índice de abril e menor número desde outubro de 2002.
O dado da CNI aparentemente conflita com os sinais de recuperação apontados pelo Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas). O instituto projetou para este mês crescimento de 1,8% na produção industrial brasileira ante maio. Mas, para analistas, o número da produção mensal tem de ser visto com cautela. "Não há contradição. Não é a produção de um mês que vai mudar a expectativa dos empresários", diz o diretor executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Júlio Gomes de Almeida.
O indicador de confiança do empresário industrial pode variar teoricamente de zero a 100 pontos. Os valores acima de 50 pontos refletem empresários otimistas e, abaixo desse limite, percepção pessimista. Dessa forma, neste mês, eles se mantém otimistas, mas bem menos que antes. A pesquisa ouviu 1.356 empresários da indústria entre os dias 28 de junho e 15 de julho.
Foi o segundo recuo do indicador no ano, que totaliza queda de 14,2 pontos na comparação com janeiro, quando o indicador encontrava-se em 64,9 pontos. Para a CNI, o dado aponta para a continuidade do processo de desaceleração da atividade industrial.
Segundo o coordenador de política econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, o desempenho do índice reflete o aperto da política monetária nos últimos meses (juros mais elevados) e a desaceleração da demanda. Ele afirma que há também a percepção de um ambiente político que traz "alto grau de incertezas".
O dirigente do Iedi concorda que o processo de aumento dos juros no início do ano e, mais recentemente, a crise política, contribuíram para a piora na confiança. Os juros elevados desestimulam novos investimentos e provocam a desvalorização do dólar, o que não incentiva a exportação, avalia o diretor titular do escritório do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Diadema, Ignácio Martinez Conde-Barrasa.
Para Castelo Branco, no segundo semestre, há um fator favorável, como a possibilidade de redução da taxa básica de juros (Selic), que pode servir como estímulo para as indústrias. Mas, por outro lado, o ambiente político contribui para a insegurança aos investimentos das empresas.
O diretor adjunto do Ciesp de Santo André, Shotoku Yamamoto, tem avaliação semelhante. "Se a Selic for reduzida, poderia se reverter esse quadro". Ele acrescenta que o governo poderia mudar o receituário para atacar o problema da contenção da demanda. "O Banco Central, em vez de utilizar a Selic como único instrumento para atacar a inflação, poderia elevar o depósito compulsório dos bancos. Isso tiraria os meios de pagamento (dinheiro) do mercado."
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