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Uniao das bolsas de Londres e Frankfurt afetará mercados
Por Do Diário do Grande ABC
07/05/2000 | 15:45
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A associaçao das bolsas de valores de Londres e Frankfurt com a bolsa eletrônica norte-americana, batizada de Nasdaq-iX, vem consolidar a tendência de fusao entre bolsas que deve se acentuar em todo o mundo. A iniciativa é considerada uma uniao entre a velha e a nova economia. Alguns analistas, no entanto, alertam para os reflexos que a associaçao poderá provocar no mercado acionário brasileiro, com a perspectiva de fuga de capital do país para o exterior em níveis maiores do que os já registrados nos últimos meses.

Na opiniao de vários economistas, no entanto, trata-se de um processo de sobrevivência no mundo globalizado. "Nao dá para fugir disso e a América Latina já deveria estar pensando no mesmo para tornar-se mais competitiva e atraente ao capital acionário externo", alerta o especialista em mercado internacional da consultoria Tendências, Christian Vecchi.

Ele considera que os grandes fundos globais buscam competir em mercados seguros, que ofereçam retornos rápidos e dinâmicos. "Desta forma, a nova bolsa deve atrair um volume financeiro cada vez maior", afirmou.

Sobrevivência - Com giros financeiros diários inferiores a R$ 1 bilhao, os países emergentes ainda movimentam volumes inexpressivos se comparados aos das bolsas americanas, que giram mais de US$ 1 trilhao diariamente. A saída para estes mercados, portanto, também será a associaçao, considera o economista chefe do Lloyds Bank, Odair Abate.

Esta mesma idéia é também defendida pelo presidente da Bovespa, Alfredo Rizkallah, que concluiu na semana passada a uniao acionária das bolsas paulista e carioca, num processo que deverá contemplar todas as bolsas nacionais. "Esta é uma necessidade absolutamente indispensável para a sobrevivência dos mercados acionários brasileiro e latinoamericano", diz. "No entanto, ainda existem dificuldades de ordem regulatória e tributária entre os países do Cone Sul, mas nós precisamos rapidamente cuidar de harmonizar as condiçoes tributárias de todos esses países. Isto é perfeitamente factível e iremos evoluir neste sentido", tem garantido Rizkallah.

A grande concentraçao de negócios que o novo índice provocará com as açoes das empresas de alta tecnologia americanas e européias também pode criar uma certa tensao nos mercados emergentes. Há consenso entre os economistas de que a uniao dessas bolsas, gerando um grande centro acionário que ficará 24 horas no ar, deverá se refletir também num interesse maior do mercado financeiro pelos principais indicadores europeus de inflaçao.

Além dos juros básicos da economia norteamericana, por exemplo, passa a valer também o índice de desemprego (que segue uma reta descendente) da indústria alema, ou britânica. "Ficaremos sob influência direta desses indicadores e a nova bolsa será para nós, no futuro, o que o Nasdaq é hoje", considerou Vecchi.

Crash - "A nova bolsa também fica suscetível a um possível crash (quebra) global", alertou o operador de um banco estrangeiro que prefere nao se identificar. Mas, para Vecchi, esta é uma possibilidade bastante remota."

O mercado acionário mundial hoje tem uma capacidade muito maior de se ajustar às novidades e aos fatores de tensao de mercado, como aconteceu com o próprio Nasdaq", comentou. Segundo ele, após as crises da Asia e da Rússia, os mercados têm se comportado com mais serenidade diante da tensao mundial em torno dos indicadores de inflaçao.

Na opiniao de Abate, a uniao de bolsas de países que possuem os maiores Produtos Internos Brutos (PIBs) mundiais nao pode passar despercebida. Ele lembra que o PIB americano gira em torno dos US$ 9,5 trilhoes, o alemao está por volta de US$ 2,4 trilhoes e o PIB do Reino Unido foi de US$1,28 trilhao em 1999. "Sao três importantes economias a chacoalhar o mundo", afirmou ele.

O economista lembra que os indicadores da economia européia sao cada vez melhores. O desemprego está em linha descendente, apesar da desvalorizaçao do Euro, economia do continente vem se estabilizando e o índice de confiança na economia européia é crescente.

Como contraponto, acrescentou Vecchi, o alto aquecimento da economia americana poderá continuar a sacudir o índice da nova bolsa. No final das contas, o que continua sendo determinante, apesar dos outros indicadores de inflaçao, é a política monetária e de juros adotada pelo Federal Reserve (Banco Central americano), concluiu.




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