Um guarda civil municipal armado em ronda noturna. Dois adolescentes em uma motocicleta de baixa cilindrada na periferia. Repete-se o roteiro em que o provável despreparo policial acaba em mais uma morte no Grande ABC.
Primeiro grau completo e dez anos de corporação, o GCM Jairo de Souza Cardozo, 38 anos, está preso desde a madrugada de sexta-feira no 3º DP de Diadema sob a acusação de ter assassinado a tiro o estudante Carlos Eduardo Delves Rodrigues Ferrez, 17 anos, e ferido o ajudante-geral João Bosco Pantaleão, de 19 anos.
O caso aconteceu na Rua Sinésio Pereira, no bairro Campanário, em Diadema. Por volta das 21h20 da sexta-feira os dois amigos estavam em uma moto e cruzaram um comboio de seis carros oficiais da Guarda Civil Municipal, integrantes da Prefeitura de Diadema e da Polícia Militar. Eles fiscalizavam o cumprimento da lei sonora e a que determina fechamento de bares e estabelecimentos comerciais às 23h.
A partir daí, vítimas e o acusado pelo assassinato contam versões diferentes. Em depoimento ao delegado Wagner Camargo, João Bosco disse ter cruzado primeiro o carro da PM. Ao receber ordem de parada de um dos carros da GCM , estacionou. Quando ele e o amigo desciam da moto, disse que recebeu um tiro de um dos guardas que nem teria descido do carro.
O projétil calibre 38 transfixou o seu ombro e acertou o pescoço do amigo e vizinho Carlos Eduardo. Embora socorrido, o estudante morreu por não resistir aos ferimentos. "Saí correndo e me escondi no meio da multidão", disse João Bosco. "Ele já tinha matado meu amigo. Quem confiaria num caras desses?" O corpo de Carlos foi enterrado ontem à tarde em Diadema.
Outro lado - Em depoimento à polícia, o GCM Cardozo disse que ao avistar dois rapazes numa moto sem capacete pela contramão achou a atitude do carona suspeita.
Segundo contou, o rapaz levava as mãos no bolso da blusa. Ao descer da moto, o garupa teria tirado uma pistola automática prateada e, por isso, reagiu atirando. A versão do GCM não convenceu o delegado Camargo, que deu voz de prisão em flagrante ao guarda municipal, indiciado por homicídio culposo.
Em nota, a Prefeitura reafirmou a a versão da arma contada pelo GCM, mas garantiu a instauração de um processo administrativo que poderá inclusive levar ao afastamento definitivo do servidor público municipal.
Também foi informado que o rapaz que morreu tinha antecedentes criminais, mas não explicita quais. Segundo a Prefeitura, o condutor não era o proprietário da moto e não tinha habilitação. "Meu irmão não iria tentar fugir como uma moto de baixa cilindrada. Não tinha carteira, mas isso não quer dizer que seja bandido nem justifica um assassinato", rebateu Andriu Pantaleão, irmão de João Bosco.
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