Badan nao soube explicar porque o laudo feito por ele apresentou conclusoes tao diferentes, mas prometeu que vai detalhar mais a autópsia que fez em seu próximo depoimento, previsto para dezembro, em Maceió, na qual está prevista uma acareaçao com o legista Jorge Sanguinetti. No entanto, ele nao reconheceu, em momento algum, que tenha errado no laudo do caso PC.
Para o relator da CPI do Narcotráfico, Moroni Torgan (PFL-CE), outro fato intrigante é o desaparecimento do algodao usado para a retirada do resíduo da epiderme da mao de Suzana para a verificaçao de resíduos de pólvora.
"Depois, na exumaçao, foi feito um exame mais profundo onde nao foi encontrado resíduo de pólvora", afirmou. O único componente encontrado, segundo ele, nao condiz com a tese de que ela deu dois tiros contra PC.
Badan lamentou nao ter incluída no trabalho a informaçao sobre a altura de Suzana Marcolino, que era namorada do ex-tesoureiro de Fernando Collor. Segundo investigaçoes da polícia, Suzana teria uma altura dez centímetros superior a considerada pelo legista da Unicamp.
O dado levou à conclusao de crime passional. O trabalho, no entanto, é contestado pela polícia alagoana, que, na semana passada, indiciou nove pessoas, entre elas um dos irmaos de PC, o deputado Augusto Farias (PPB-AL), sob a acusaçao de homicídio. Badan disse que mediu a altura de Suzana em mesa com marcaçao.
"Estranho nao levar em conta todas as condiçoes, inclusive se nao há um aumento do tamanho da pessoa com o óbito", afirmou Torgan.
Badan acabou reconhecendo ter cometido enganos em dois laudos, sem dizer no entanto em quais. Ele revelou que fez um laudo sobre a morte do ex-deputado e ex-vice-governador da Paraíba Raimundo Asfora, ocorrida em 1987, sem ter realizado um dos testes, o exame para a verificaçao do ponto de impacto da bala disparada contra a vítima. Ele informou ainda que a arma do crime foi deslocada de sua posiçao inicial após a morte.
Mesmo depois de chamar a atençao a falhas que podem ter sido cometidas em laudos considerados importantes, como o da morte de Paulo César Farias, os deputados nao obtiveram indícios de uma suposta ligaçao do legista com o crime organizado.
"Nos casos que mais interessavam ficaram pontos dúbios", avaliou Torgan. As explicaçoes de Badan foram muito fracas; esperava que fosse muito mais técnico e ele mostrou que cometeu erros crassos", emendou. Para Torgan, ficou no ar a dúvida se os erros foram cometidos por falta de competência ou intencional.
Badan, que se mostrou paciente ao responder as perguntas dos parlamentares, nao admitiu falhas no caso de Alagoas. "Meu laudo só nao será correto se aparecerem fatos novos."
Em relaçao à morte do vice-governador da Paraíba, Badan concluiu que Asfora se suicidou, o que é contestado pelo perito criminalista Domingos Tochetto, que foi submetido a uma acareaçao com o legista. A tese de suicídio confronta-se com a suspeita de que Asfora foi morto por motivaçao política.
O legista reconheceu que nao solicitou a realizaçao de um exame de DNA para se tirar dúvidas sobre a identificaçao de um corpo que seria do jovem José Antônio Penha Brito Júnior, desaparecido em 1988, no Maranhao. O menino, filho de um ex-gerente do Banco do Brasil, teria sido assassinado pelo ex-deputado José Gerardo Abreu, que perdeu o mandato por causa dos indícios de envolvimento com uma quadrilha de roubo de carga e tráfico de drogas denunciada pelo traficante Jorge Meres. Meres diz que Farias e o empresário Willian Sozza, de Campinas, tramaram a morte de PC.
O grupo seria integrado ainda por Augusto Farias e pelo ex-deputado Hildebrando Pascoal, que teve seu mandato cassado depois de ter sido investigado pela CPI. Segundo Magno Malta, várias denúncias, vindas de Sao Paulo e Sao Luís do Maranhao, foram feitas à CPI que indicam que Hildebrando Pascoal pagou os serviços do trabalho de Badan.
Durante o depoimento, o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) disse possuir documentos comprovando que Badan foi chamado apenas para descobrir a causa da morte do menino Brito Júnior, mas acabou extrapolando ao também concluir que a criança nao poderia ser identificada.
"O pai nao tinha certeza da identidade do filho", retrucou Palhares.
Os deputados nao se convenceram com as explicaçoes de Badan, que diz estar sendo vítima de "injúria" de colegas e profissionais adversários.
Ele citou ter tido atritos com o colega legista Nelson Massini. O deputado Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ) questionou o fato de o legista ter concluído que Asfora se suicidou considerando que a cena do crime foi modificada. O perito Tochetto, perito oficial do crime na Paraíba, considerou ser impossível o suicídio sendo que a arma foi usada com a mao direita, mas foi encontrada do lado esquerdo da vítima.
De acordo com o relator da CPI, Palhares deixou uma "dúvida terrível" nos parlamentares. "Só nao há, agora, mais nenhuma dúvida sobre a necessidade de quebra do sigilo do legista", emendou.
Segundo Torgan, Palhares nao estaria conseguindo explicar o laudo do menino Brito Júnior. "Foi um descuido lamentável ele nao pedir um exame mais detalhado no caso do garoto", afirmou. "Nao identificando o menino, ele pode ter beneficiado quem executou Brito Penha Júnior, e a suspeita da execuçao recai, hoje, sobre o ex-deputado José Gerardo", afirmou Torgan.
Palhares negou que soubesse, na época, de ligaçoes entre José Gerardo e o pai do garoto e disse nao conhecer o ex-deputado. Os deputados deixaram claro que nao havia ainda indícios suficientes para um eventual indiciamento do legista. Palhares informou à CPI que nao pediu o exame de DNA porque a família o garoto era pobre. Além disso, segundo ele, a Unicamp nao tinha os equipamentos necessários para fazer o trabalho. "Falhas que beneficiam pessoas poderosas nao sao normais", afirmou o deputado Eber Silva (PDT-RJ). A CPI poderá pedir a exumaçao do corpo do garoto para tentar realizar o exame de DNA.
Paraíba - Sobre a arma encontrada próxima ao corpo do vice-governador da Paraíba, Palhares explicou que a desconsiderou pelo fato de ela ter sido retirada e novamente posta no local pelo instituto de criminalística. "A arma nao foi considerada", afirmou Palhares. Segundo ele, "certamente no processo" constava a informaçao de que mexeram no local. O laudo do legista concluiu que os indícios apontavam para o suicídio. Embora Palhares negasse, alguns parlamentares disseram que o sangue no rosto do vice-governador "escorria para cima". "Nao é verdade; isso é porque as fotos nao foram tiradas no plano horizontal", justificou Palhares.
O deputado Robson Tuma perguntou se o legista recebeu depósito em uma conta poupança em valor além do normal em 1996, e o legista recebeu que nao se lembrava.
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