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O governo é um fingidor
Carlos Brickmann
Para o Diário do Grande ABC
11/02/2015 | 07:00
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Como não disse Fernando Pessoa, um governo finge tão completamente que chega a achar que é certa qualquer história que invente. O governo federal vai mal, perdendo aliados (até o fiel dos fiéis, o gaúcho Olívio Dutra!), sofrendo oposição mesmo de partidos que contemplou com boquinhas, com aliados que o amam com todo o ódio. Qual a saída? João Santana. Dilma decretou que o problema está na falta de comunicação: é preciso trazer de volta o comunicador do Brasil cor-de-rosa para restabelecer a força vermelha. Porque, no Brasil, quando o governo não anda, mais verba para a propaganda. O setor de Comunicação do governo federal está com problemas: João Santana escreveu o discurso de posse de Dilma, saiu de férias e ainda não voltou. Thomas Traumann não queria ficar como porta-voz, mas não havia ninguém para pôr em seu lugar. Ricardo Berzoini não é do ramo. Mas talvez o problema não esteja apenas no que é dito, ou como é dito, mas naquilo que se sente: promessas descumpridas, alta de impostos, alta brutal da luz, Petrolão. Há quem reclame do uso do nome Petrolão. Mas, se fosse outro o nome, menor seria o escândalo? O governo tucano paulista tem o mesmo problema, enfrentado da mesma maneira: para reduzir o impacto da estiagem, baixou dicionário em tucanês castiço. Volume morto virou reserva técnica. Crise hídrica se transformou em alocação inteligente de recursos hídricos disponíveis para maximizar sua utilização. Enfrentar é menos importante: a eleição ainda está longe.

Dietas já
O prefeito de São Bernardo, o petista Luiz Marinho, cortou drasticamente a merenda escolar. Explicação: os alunos estavam ficando obesos. Se Dilma pode fazer dieta, por que os alunos seriam privados de passar fome?

Com gente é diferente
Lembra da propaganda de Dilma, em que os banqueiros embolsavam o dinheiro e a comida sumia da mesa da população? Dilma ganhou, os banqueiros também: em 2014, o Bradesco teve lucro líquido de R$ 15,3 bilhões, seu recorde (e, além disso, indicou um alto funcionário para ocupar o Ministério da Fazenda); o Itaú, só no último trimestre de 2014, teve lucro líquido de R$ 5,52 bilhões. Banqueiro tem pele grossa. Nenhum ficou chateado com a propaganda.

Tinindo as espadas
A festa de transmissão do comando do Exército do general Enzo Peri para o general Eduardo Villas Boas custou R$ 48 mil, segundo levantamento da respeitada Contas Abertas. No custo entram canapés, coquetel, jantar, mesa de salgadinhos, coffee break (que antigamente se chamava lanchinho) e flores.

Quem perde ganha
Não se preocupe com o bem-estar de Luciana Genro, candidata derrotada à Presidência da República pelo Psol, filha de Tarso Genro, candidato derrotado à reeleição pelo PT para o governo gaúcho. Luciana Genro ganhou o cargo de coordenadora geral da bancada do Psol na Assembléia gaúcha, com salário de R$ 16,9 mil. Quantos deputados tem a bancada que coordena? Um: Pedro Ribas.

O problema vem de longe
Ninguém pode criticar o governo paulista, os governos de outros Estados atingidos pela seca, o governo federal: todos foram surpreendidos pela falta d’água (se houvesse processo, os dirigentes diriam, em coral, o famoso ‘eu não sabia’). Foi mesmo uma surpresa. Amélia Guida Costa, assídua leitora desta coluna, comprovou que o alerta foi recente demais. Encontrou no jornal Correio Paulistano de 9 de novembro de 1867 uma notícia sobre a falta d’água com a seguinte abertura: “É facto importantíssimo o estado de penúria em que andam os habitantes da Capital a respeito d’agua potável. A julgar pela antiguidade e pertinácia do mal, é difficil de saber-se quando há de vir o necessário remédio. Se não falham nossas recordações, começou elle a preocupar à atenção dos governos provinciaes desde a presidência do conselheiro Saraiva (...)” José Antônio Saraiva governou São Paulo de 1854 a 1855. Como nossos atuais governantes poderiam trabalhar sabendo dos fatos com tão pouca antecedência, de apenas 160 anos?
Clique em http://www.brickmann.com.br/index.php e veja a nota de 1867. 




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