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Naturalmente descafeinado
Por Camilla Muniz
Ciência Hoje/RJ
16/08/2010 | 07:18
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Os amantes do bom cafezinho que têm problemas com a ingestão de cafeína poderão em breve experimentar uma versão da bebida naturalmente descafeinada. Pelo menos é o que esperam os pesquisadores do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), que estão realizando testes com uma planta cujo teor da substância é de apenas 0,07% - dez vezes menos que o café consumido habitualmente.

O cafeeiro é um exemplar da espécie Coffea arabica, que normalmente possui cafeína em sua composição e é a mais consumida no mundo.

"A característica diferenciada da planta que usamos nas pesquisas é resultado de uma mutação natural", explica a engenheira agrônoma do IAC Maria Bernadete Silvarolla.
Para os pesquisadores, o cafeeiro é um verdadeiro tesouro. Trazido da Etiópia para o Brasil, através da Costa Rica, na década de 1970, ele foi descoberto em meio a 2.500 mudas preservadas em banco genético, após muita dedicação e paciência da equipe.

O objetivo dos testes é verificar se este café naturalmente descafeinado pode ser introduzido nas lavouras e render boas safras. Segundo a engenheira agrônoma, a mutação que reduziu a concentração de cafeína na planta também reduz sua produtividade, o que a diferencia das cultivares melhoradas de Coffea arabica, que são altamente produtivas. Por isso, os pesquisadores do IAC estão trabalhando no melhoramento genético do cafeeiro, a fim de viabilizar a produção em larga escala.

Por meio da hibridização, a equipe espera reunir em uma só planta duas características: baixo teor de cafeína e alta produtividade. A técnica consiste em fazer cruzamentos dirigidos manualmente, visando a transferência dos genes do café descafeinado para sementes de uma cultivar modelo de Coffea arabica. Os pesquisadores já obtiveram a segunda geração desse vegetal híbrido e agora realizam mais testes.

"Esta etapa é importante para que nós possamos verificar quais genes estão governando as características da planta, além de corrigir defeitos e analisar necessidades de plantio, como adubação e espaçamento entre as plantas", conta a engenheira.

O café descafeinado encontrado hoje nos supermercados é produzido industrialmente. O método mais utilizado é à base de solvente químico - geralmente o diclorometano -, passado nos grãos para extrair o estimulante.

De olho no exterior

A engenheira agrônoma acredita que a produção de café naturalmente descafeinado no Brasil pode ajudar a incrementar as exportações do País, maior produtor e exportador mundial do produto.

Por aqui, apenas 1% da bebida consumida é sem cafeína, mais procurada por aqueles que apresentam dores de cabeça ou agitação ao ingerirem a substância. Já no exterior, o café descafeinado é o preferido de aproximadamente 10% dos consumidores.
"Nossa meta é proporcionar às pessoas mais uma alternativa", ressalta a pesquisadora do IAC.

Quanto às propriedades da bebida, Maria Bernadete Silvarolla garante que o descafeinado não fica devendo nada ao café comum.

"O fato do cafeeiro encontrado também pertencer à espécie Coffea arabica, que é o tipo mais saboroso e aromático de café, nos dá ainda mais esperanças de que poderemos obter bons resultados nos testes."




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