Na Câmara, entre ser derrotado e despir-se de todos os pudores para fugir do desastre político, o governo Dilma Rousseff (PT) escolheu despir-se dos pudores. E foi derrotado.
Na Petrobras, entre dar novo rumo à Petrobras e garantir o emprego da amiga da presidente, o governo escolheu a amiga. Só a afastou pela pressão dos fatos. E não tomou atitude firme: negou a demissão de Graça Foster quando até os estranhos seres marinhos das profundezas do pré-sal já sabiam de tudo.
Em poucas palavras: a administração é comandada por uma presidente hesitanta, mas que faz questão de botar rédea curta até nos seus poucos bons auxiliares e examina minuciosamenta suas decisões, especialmente as mais lógicas, ameaçando-os com ataques de mau-humor. A articulação política está nas mãos de Aloizio Mercadante, Pepe Vargas e Miguel Rossetto, mas podem chamá-los de Moe, Larry e Curly. Dilma é coerenta e gosta de filmes. No primeiro mandato, tinha Os Três Porquinhos e o ministro Lobão. É: demorou, mas a casa caiu.
E agora? Não é fácil, mas dá para trabalhar. As ações da Petrobras subiram tão logo se soube da demissão de Graça Foster. Não que os investidores a detestassem, mas sua gestão teve problemas demais. Um executivo de bom nível, respeitado, manda para o arquivo a bobagem do prejuízo de US$ 88 bilhões (que nunca existiu) e coloca no balanço algo bem mais palatável – provavelmente, menos de US$ 5 bilhões, uma quantia imensa, mas bem mais razoável. Quanto aos três articuladores, quem os escolheu foi Dilma. Ela pode cuidar deles.
Ao mestre, sem carinho
Dilma tem, se quiser acertar sua articulação política, um mestre do ramo: Lula. Lula errou muito, mas tem também grandes acertos. Obteve o apoio de empresários, banqueiros, ruralistas, sua política econômica foi bem vista pelo mercado, controlou setores incômodos como sindicatos, UNE, militantes próximos a teses revolucionárias. Teria o que dizer, se Dilma lhe pedisse conselho. Mas ela tem feito questão de errar sozinha – pior, auxiliada por Mercadante, Rossetto e Pepe Vargas. Na eleição do Congresso, Lula não se mexeu. Esperou ser chamado. Mas é um trunfo que a presidente pode usar, se usar também a cabeça.
Amanhã vai ser...
Eduardo Cunha, novo presidente da Câmara, está magoado com o PT e com Dilma (com Mercadante, Vargas e Rossetto, não, mas é porque nem se importa com eles). Mas não vai causar terremotos. Não é seu estilo. Pode até deixar correr um impeachment, se houver condições políticas para isso – o que não há no momento. Mas não tomará iniciativas que destruam a governabilidade. Cunha é afável, dialoga, é capaz de ouvir e entender bons argumentos. Quem o chamar de “caro amigo” estará usando a expressão correta.
...outro dia
Quem acha que mudando a lei dos partidos vai anular o poder de Gilberto Kassab pode ir tirando as raposinhas da chuva. Kassab articula um novo partido, o PL, que arregimentará políticos descontentes em geral; como é um partido novo, não há restrições legais para que troquem de legenda. Depois disso, fundiria o PL com o seu PSD e teria um partido grande, capaz de se contrapor ao poderio do PMDB. A nova lei determinaria que os partidos só poderiam se fundir a outros após cinco anos de registro. Ir para o PL sem perder o mandato é ótimo; mas, se não houver a fusão, o novo partido fica sem tempo de TV e sem verbas do fundo partidário. E seus parlamentares ficam sem dinheiro e sem exposição.
A palavra do TRT
A assessoria de imprensa do TRT-SP (Tribunal Regional do Trabalho) envia esclarecimentos sobre a nota Coisa Estranha, publicada domingo, a respeito da contratação de uma empresa cearense para prestar serviços de segurança, embora tenha certidão positiva de débito do Ministério do Trabalho e seja acusada de não cumprir obrigações trabalhistas.
Segundo a carta do TRT, a Servis participou de pregão eletrônico, venceu com o menor preço, cumpriu todos os requisitos exigidos, apresentou todos os documentos necessários, que estão regulares. “Exigiu-se, no item 8.2 do edital, que a empresa não constasse do Banco Nacional de Devedores Trabalhistas, comprovando a inexistência de débitos inadimplidos perante a Justiça do Trabalho. Ressalta-se que certidões positivas com efeito negativo indicam que qualquer débito perante a Justiça do Trabalho já foi negociado e está sendo cumprido”, diz a carta.
Registrado. Mas a certidão emitida pelo Ministério, citada na nota, existe e é legal. Essa certidão não é contestada na carta.
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