Perfeccionista e, por isso mesmo, conhecido por seu comportamento tirano nos sets, o cineasta norte-americano Stanley Kubrick ganha a partir de amanhã um ciclo no Centro Cultural São Paulo. Kubrick, 80 Anos revisa nesta semana 12 de seus filmes, duas produções influenciadas por ele e um documentário póstumo, dirigido por seu cunhado, Jan Harlan. O diretor completaria oito décadas em 26 de julho próximo.
Só ficam de fora os documentários (curta-metragem) Flying Padre (1951), Day of the Fight (1951) e The Seafarers (1953), além de seu primeiro longa, o drama Fear and Desire (1953), bancado pela família. Kubrick odiava o filme e adquiriu todas as cópias que encontrou para evitar que alguém o visse.
Morto em 1999, ano de lançamento de De Olhos Bem Fechados, seu último filme, Kubrick não entrou exatamente no esquema de produção em série. Talvez porque só participasse de projetos em que tivesse total autonomia criativa.
Essa decisão foi tomada após assumir Spartacus (1960) quando o veterano diretor Anthony Mann foi demitido. Os estúdios modificaram diversos aspectos do longa, o que desagradou muito o diretor.
Sua fama de difícil começou aí, inclusive por ter se desentendido durante as filmagens com a estrela e produtor executivo do épico, Kirk Douglas. Os dois trabalharam juntos em Glória Feita de Sangue (1957).
Dois anos depois da grande produção, investiu na polêmica adaptação de Lolita de Vladimir Nabokov, lançada em 1955. O autor também adaptou a obra para o cinema, embora se alegue que o impetuoso Kubrick tenha praticamente ignorado o roteiro do russo e usado suas próprias anotações.
Assim foi também em Dr. Fantástico (1964), 2001 – Uma Odisséia no Espaço (1968) e sua outra produção polêmica, Laranja Mecânica (1971). A versão do cineasta para o livro de Anthony Burgess teria enfurecido o autor.
Mais tarde, em uma adaptação do livro para o teatro, um personagem fisicamente semelhante a Kubrick era espancado até a morte por Alex (interpretado no longa por Malcom McDowall) e sua gangue de drugues. Stephen King também não gostou nada do roteiro do cineasta para O Iluminado (1980) e escreveu ele mesmo um novo para uma versão para a TV produzida em 1997.
Casca de ferida - O comportamento de Kubrick deu origem a diversas lendas nos sets, principalmente as relacionadas ao elenco. Ele refazia cenas dezenas de vezes sem descanso se fosse preciso. Shelley Duvall, de O Iluminado (1980), parece ter sido a recordista. Repetiu por mais de uma centena de vezes uma seqüência em que grita.
A única exceção provavelmente é Peter Sellers, protagonista de Dr. Fantástico, que costumava ajudar o diretor a compor personagens. Ele e R. Lee Ermey, o sargento de Nascido Para Matar (1987) foram os únicos permitidos a improvisar em cena.
Por isso, as filmagens dos projetos de Kubrick costumavam demorar anos. Para De Olhos Bem Fechados, o então casal Tom Cruise e Nicole Kidman se mudou para Londres (onde o cineasta estava radicado) por dois anos para se dedicar integralmente a ele. Quando finalizou o filme, declarou que esse era seu melhor trabalho.
Spielberg - Além dos filmes do cineasta e o documentário sobre a sua vida, o ciclo traz A.I. Inteligência Artificial (2001), que Kubrick pretendia filmar depois da produção com o casal Cruise/Kidman.
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