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Cidadão da História vive no Centro de São Caetano

Comerciante Antonio Chinelato foi um dos moradores que conquistaram título na cidade

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
24/01/2015 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


A parede ostenta o título de Cidadão da História, conquistado em setembro de 2010 pelo proprietário do Comércio de Artefatos de Couro São Paulo, Antonio Chinelato, 80 anos, por fazer parte da trajetória do Centro de São Caetano. Não é para menos. São 40 anos atuando no mesmo endereço, na Rua Amazonas.

Chinelato nunca fez outra coisa na vida que não fosse trabalhar com esse tipo de material. “Desde pequeno atuei como cortador de calçados. Aprendi praticamente sozinho, pois ninguém da família trabalhava com isso. Comecei fazendo cortes da parte de cima do sapato”, lembra ele, que nasceu em Taiúva, no interior do Estado, e se mudou para São Caetano em 1970.

O que produzia ele colocava em uma sacola e saía pelas ruas. “Vendia para os sapateiros e depois comecei também a atender casas de couro que comercializavam o que eu fabricava. Peguei uma boa freguesia”, conta, orgulhoso.

Com experiência na área, abriu seu próprio negócio. No início das atividades, o estabelecimento oferecia apenas artigos para sapateiro, como tintas e acessórios para consertos. As duas filhas cresceram acompanhando o pai na rotina de trabalho e, hoje, uma delas é seu braço-direito, juntamente com a mulher, Irene Maria da Silva Chinelato, 76. A filha Márcia, 53, incrementou o estoque do comércio. “Quando ela chegou, colocou chapéu e calçados para vender”, explica o proprietário.

Na vitrine, a variedade de modelos chama a atenção, mas os mais procurados, segundo o comerciante, são os de estilo country. Todos vêm de fábricas localizadas no interior paulista.

Mais que elegância, ele ressalta que os chapéus são grandes aliados na proteção contra os raios solares. E diz isso com conhecimento de causa. “Uso chapéu todo dia. Apareceram umas manchas na testa e a médica recomendou que eu use para proteger do Sol.”

No amplo espaço que sedia o comércio estão três máquinas de costura, nas quais Chinelato trabalhou muito nestas quatro décadas. Hoje ele conta que não atua mais, só acompanha o trabalho da mulher, da filha e de mais um funcionário.

A loja funciona de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 17h30, e aos sábados até as 13h. Chinelato está presente todos os dias. “Inclusive aos domingos, quando a loja está fechada”, destaca a mulher.

Indagado sobre o que vai fazer por lá quando deveria estar descansando, ele responde: “Dou uma olhadinha nas coisas, leio o jornal e depois vou embora.” A leitura é feita em tradicional cadeira de balanço que fica na entrada do estabelecimento.

Dona Irene faz uma observação para justificar o motivo de o marido ir à loja até nos dias de folga. “Ele não sai daqui porque é o sonho e a luta de uma vida inteira. Aliás, é isso que faz com que todos nós venhamos aqui diariamente.”

“Essa loja é tudo para mim”, reitera Chinelato.

Kebab de libanês é sucesso de vendas

Na cidade formada principalmente pela cultura italiana – inclusive com tradicional festa realizada em agosto –, o libanês Farid Riman, 44 anos, conquistou seu espaço para apresentar a rica gastronomia do Oriente Médio.

Apesar disso, Riman se considera mais italiano que nativo do Líbano, já que saiu do país aos 15 anos, juntamente com a família, em decorrência dos conflitos existentes no local, e morou na Itália até 2008. Por lá, passou pelas cozinhas de diversos restaurantes e hotéis até conhecer uma brasileira moradora de São Caetano. “A gente decidiu vir ao Brasil, porque o País estava crescendo e na Itália se aproximava a crise.”

Desembarcando por aqui, ao lado da então mulher (atualmente Riman está separado) e do filho ainda bebê, ele começou a trabalhar nas empresas da família da ex-mulher, também do ramo alimentício, área da qual sempre gostou. Com bagagem no ramo, abriu seu próprio negócio em 2013, na Avenida Goiás.

Com a forte influência italiana, ele até pensou em apostar em um restaurante do tipo, mas já havia vários. “Preferi abrir uma coisa diferente”, fala ele. E o diferente seria justamente a culinária típica de suas origens.

Tímido, Riman não quis ser fotografado. Preferiu retratar sua cultura por meio de um prato típico da Turquia – o kebab, carro-chefe de seu restaurante. Trata-se de um recheio feito com carne assada e especiarias, envolto em pão sírio. “Mas também coloquei alguns pratos que são comuns na Turquia e Líbano, já que são países que fazem fronteira”, fala.

A adaptação ao Brasil não foi fácil. “Aprender as culturas libanesa, italiana e depois a brasileira causa um choque na cabeça da pessoa.”

A saudade dos familiares também é difícil de suportar. “É uma situação muito delicada. É lógico que às vezes a gente se sente um pouco sozinho, mas é uma escolha que fiz e, graças à internet, conseguimos ter contato com todo o mundo.”

Do solo brasileiro, especificamente da Grande São Paulo, algumas coisas o incomodam (nada muito diferente de quem vive por aqui). “É muito concreto, muitos prédios, o trânsito é chocante, um pouco de chuva para tudo”, lista. “Mas de resto, gosto de viver em São Caetano”, frisa.

Pão de queijo é tradição na área central

Difícil encontrar alguém que resista a uma das mais famosas tradições mineiras: o pão de queijo. Sabendo disso, Ana Maria Alves e o marido trouxeram todo esse sabor para a Rua Baraldi em 1979. A receita, passada de geração para geração, é sucesso imortal.

“O marido da Ana trabalhava como mestre de obras e um cunhado tinha uma casa que vendia pão de queijo, então, a partir daí, decidiram entrar no ramo também”, conta a gerente do estabelecimento e também mineira, Lucia Silva, que está no local desde a inauguração. “Meu marido trabalhava com o da Ana e nos convidou para abrir a lanchonete com ele.”

Para não fugir das origens, o polvilho que vai na massa vem de Minas Gerais. A equipe só sai da tradição para ousar nos sabores. “Além do pão de queijo simples, fazemos também os recheados, como de presunto e queijo, doce de leite e goiabada”, fala Lucia. Os tradicionais custam R$ 3,50 e os recheados, R$ 6.

O local tem clima interiorano, de fazenda, que convida a combinar café com pão de queijo. Além do delicioso aroma, quem passa por lá também respira história. O prédio é considerado bem cultural de interesse histórico, já que abrigou a primeira administração do município, chefiada em 1949 pelo prefeito Angelo Raphael Pellegrino.

Questionada sobre o motivo que leva a culinária mineira a fazer tanto sucesso em qualquer canto, Lucia é enfática: “Mineiro cozinha bem.” 




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