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Coronéis somem da política nacional
Por Juliana de Sordi Gattone
Do Diário do Grande ABC
03/02/2007 | 21:39
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Esqueça de vez a figura do coronel. Não existe mais, garantem especialistas e políticos. E um dos grandes responsáveis pelo desaparecimento desse personagem da política brasileira é o fortalecimento da comunicação.

Hoje, ao contrário do período de redemocratização do país, em 1980, a informação é veloz, muitas vezes até em tempo real, e acessível. Além disso, a entrada dos marqueteiros nas disputas eleitorais tornou o jogo político um produto vendável. Ou seja, os políticos dependem da comunicação para tornarem-se conhecidos, divulgarem suas imagens e serem competitivos.

Nas últimas eleições, por exemplo, novos elementos entraram na disputa. Ao lado das páginas dos candidatos na internet – onde era possível conhecer o currículo, as propostas e opiniões e até fazer doações para a campanha – havia ainda links de ONGs que mostravam a trajetória dos parlamentares, com os fatos positivos e negativos. Algo que, há 30 anos, ninguém se atreveria a fazer e tampouco se imaginaria que pudesse acontecer. A democratização da informação deu ferramentas para o povo fazer a escolha.

O cientista Marco Antônio Carvalho Teixeira acredita que estamos em meio a um processo de mudança na forma de fazer política. “Antes, os partidos tinham mobilização, pessoas envolvidas. Atualmente, outros agentes entraram – como as ONGs e associações – fazendo os partidos perderem espaço. Hoje, eles são mais legendas do que partidos.”

Rui Tavares Maluf, também cientista político, vai mais fundo: diferentemente do ocorrido no passado, os partidos são iguais quando estão no poder.

Mas outros elementos, segundo especialistas, contribuiram para a mudança. Imprensa e Ministério Público passaram a utilizar artifícios disponíveis desde o fim da ditadura – mas não empregadas pela falta do exercício da democracia –, como ações, investigações e representações, abraçando o papel de vigilantes. Isso também influenciou na atitude dos políticos, que modificaram a conduta por temerem ter o nome atrelado a qualquer escândalo de corrupção.

Para Maluf, antigamente os políticos se pautavam pelos interesses pessoais. “Atualmente, na medida em que o Brasil começa a perceber a importância da comunicação, 90% deles se guiam em cima do que a imprensa reporta.”

Esse é um dos motivos que levam o cientista a afirmar: “A democracia está muito mais enraizada aqui do que nos demais países da América do Sul. Não há riscos de censura, mas temos de ficar sempre alertas.”

O analista cita outro motivo para o fim da presença dos coronéis: “As Câmaras passaram a ter poder e acabaram um pouco com o domínio do Executivo. Mas as vezes utilizam a fiscalização de forma errada”.

Líderes partidários são mais contundentes. Eles avaliam que, realmente, houve uma mudança brusca na forma de se fazer política. Nesse sentido, o prefeito de São Bernardo, William Dib (PSB), lembra que o segmento tem de responder ao chamado da sociedade.

Presidente do PFL de Santo André, o advogado Raimundo Salles diz que a comunicação foi um divisor de águas. “Por um período, a política foi formulada pela elite. Hoje, é exercida de forma mais democrática.”

Coordenadora da macrorregião do PT, Maria Inês Soares diz que o processo democrático levou a outro fenômeno: partidos de esquerda adotaram pensamentos ortodoxos para chegar ao poder, enquanto as siglas de direita tiveram de acrescentar o discurso social para atingir o eleitorado.

Tunico Vieira, presidente do diretório peemedebista de São Bernardo, cita o lado negativo da comunicação: a falta de lideranças. Para ele, o advento do marketing tornou as campanhas muito caras, dificultando o surgimento de novos nomes interessados em disputar cargos públicos.



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