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Conar suspende por preconceito propaganda da FEI
Kléber Werneck
Da Redaçao
23/11/1999 | 20:10
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O Conselho Nacional de Auto-Regulamentaçao Publicitária suspendeu a veiculaçao na mídia da campanha publicitária do vestibular da Faculdade de Engenharia Industrial, de Sao Bernardo, por considerá-la discriminatória à profissao de psicólogo.

A suspensao se deu através de uma liminar concedida pelo órgao na semana passada, acatando pedido do Conselho Regional de Psicologia do Estado de Sao Paulo. O Conar considerou que a propaganda fere o Código Brasileiro de Auto-Regulamentaçao nos seus artigos 1º, 2º e 20º e em seu anexo B. O artigo 20 determina que "nenhum anúncio deve favorecer ou estimular qualquer espécie de ofensa ou discriminaçao racial".

A agência Ghirotti, contratada pela FEI para elaborar a campanha, já apresentou sua defesa, e o caso será julgado no dia 9 de dezembro.

O CRP contestou, principalmente, a frase "Se você escolhe faculdade pelo número de meninas por metro quadrado, vá fazer psicologia, moda, decoraçao etc". Segundo o CRP, o anúncio incorre em duplo preconceito: contra a profissao de psicólogo e contra a mulher.

A frase é considerada discriminatória por insinuar que a psicologia é uma categoria que tem por finalidade apenas o entrosamento com meninas. Além disso, sugere que a psicologia é uma categoria menor por ser formada majoritariamente por mulheres.

Tanto a FEI quanto a Ghirotti alegam uma falha de interpretaçao por parte do CRP na recepçao da mensagem passada pelo comercial. "Na verdade, o que estamos criticando é aquele aluno que escolhe faculdade usando como critério o número de mulheres e nao as mulheres ou psicólogos", afirmou Paulo Ghirotti, proprietário da agência que está há dois anos com a FEI e já realizou para a faculdade quatro campanhas publicitárias.

Ele argumenta que as citaçoes aos cursos de Moda, Psicologia e Decoraçao sao feitos porque os mesmos têm, estatisticamente comprovado, um número maior de mulheres. "O fato de ter mais ou menos mulher nao quer dizer que o curso é melhor ou pior. E a propaganda nao estabelece essa relaçao em nenhum momento", disse.

O vice-diretor acadêmico da FEI, Alessandro La Neve, ressaltou ainda que a universidade vem tendo um participaçao feminina cada vez maior. "Há 20 anos nenhuma faculdade de Engenharia tinha mulher. Hoje temos em torno de 14% a 15% na FEI", disse. La Neve afirmou que a intençao do comercial foi informar ao público o aspecto "exigente" que caracteriza a faculdade.

A propaganda da FEI foi veiculada durante 15 dias na televisao e no rádio, três vezes ao dia, e contou ainda com anúncios em jornais e 100 outdoors espalhados pela Grande Sao Paulo.

Ghirotti disse que o tempo de duraçao da campanha da FEI já havia encerrado quando a liminar foi concedida, por isso, a agência e a universidade nao terao prejuízo. La Neve projetou em 2,8 mil o número de inscriçoes para o vestibular deste ano, um aumento de 10% em relaçao ao ano passado.

Opinioes - A psicanalista e colunista do Diário, Regina Navarro Lins, 50 anos, considerou "preconceituoso" o conteúdo da propaganda. "Eu sou contra a censura, mas acho que nesse caso a idéia é burra, vai na contramao da tendência atual. Ela ainda pode inibir que rapazes com aptidao para psicologia, moda ou decoraçao façam estes cursos por puro preconceito", afirmou.

Psicólogo, Moacir Costa considerou o comercial um "apelo publicitário". "Quem fez este comercial deve ter algum problema com mulheres", disse. A vereadora Ivete Garcia (PT), 37 anos, de Santo André, defensora das causas feministas, afirmou ter ficado "chocada" quando viu a propaganda.




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