Nada menos do que 50 dos 178 candidatos do Grande ABC nesta eleição declararam à Justiça Eleitoral não possuir bens (veja lista abaixo). De cada dez, três não têm nada. O número é quase o mesmo dos concorrentes de Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires e Diadema a deputado estadual e federal juntos (51).
Entre os políticos nesta situação estão, inclusive, três vereadores que, apesar de sucessivos mandatos, dizem que não acumularam patrimônio nos últimos anos - exceção feita a José Ricardo (PSB), de Santo André, que fez retificação ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para informar o patrimônio verdadeiro (R$ 700 mil) - em 2008, registrou R$ 753 mil. Ontem ainda constava "nenhum bem declarado" no site do TSE.
A declaração de bens dos candidatos é prevista na Constituição Federal. Porém, nem a Carta Magna nem a legislação eleitoral estabeleceram a forma como isso será feito ou possíveis punições para quem omitir bens.
Não há regra nem sobre qual valor o candidato deve informar: se o de compra ou o atualizado. O assessoria do TSE confirmou o problema e disse que ambos são válidos, desde que o documento seja assinado pelo postulante para atestar a veracidade das informações.
Também é comum colocar o imóvel no nome de parentes, a fim de não precisar declarar o montante. Essa brecha é criticada por Cláudio Weber Abramo, diretor-executivo da ONG Transparência Brasil, de combate à corrupção na política. "Existe aí um terreno fértil para omissão", avalia.
Segundo Abramo, apesar da prestação de informação errada constituir falsidade ideológica, o MP (Ministério Público) pouco faz para impedir possíveis fraudes. "Não se trata meramente de uma questão formal. Mas os órgãos públicos, inclusive a imprensa, não fiscalizam de forma adequada e deixam esse crime passar sem consequências."
Mesmo que não exista irregularidades na lista, a falta de padrão dificulta ao eleitor comparar os recursos dos candidatos. Os vereadores Irene dos Santos (PT), de Diadema, Vandir Mognon (PSB), de São Bernardo, e Francisco Alberto, o Alemão do Cruzado (PSL), de Santo André, porém, afirmam que o problema não foi esse.
"Realmente, eu não tenho nada mesmo", diz Alemão do Cruzado, que mora na favela Cruzado II e diz não possuir documento do imóvel. "Só tenho um Vectra branco, mas ele está com prestações atrasadas, então não é meu, é do banco", desconversa. Em 2008, Alemão declarou Peugeot 2005/2006 (R$ 26 mil).
O mesmo alega Mognon. "Meu carro está financiado. E o apartamento, no nome do meu filho", justifica. No pleito há dois anos, o vereador registrou Uno 1998 (R$ 10,5 mil) e terreno em Jarinu (R$ 4.500). Já Irene diz que grande parte do salário é doado para o partido. "Vida de vereador do PT não é fácil", enfatiza. Em 2008, declarou linha telefônica de R$ 1.000.
Candidatos registram desde casa à linha telefônica e fax
Se alguns candidatos escondem bens dos eleitores, outros abrem o jogo e revelam quase tudo que possuem em casa, como fax, móveis e máquina fotográfica.
É o caso de Célia Maria, que concorre a deputada federal pelo PP. Com patrimônio declarado de R$ 180 mil, a advogada divulga valor de aparelhos celulares, equipamento de som para veículos, scanner, computadores, fax e até acervo de livros (R$ 30 mil).
Outros pleiteantes restringem mais a lista, como o presidente do Sindicato dos Servidores de Mauá, Jesomar Lobo (PCdoB), que disputa a estadual e informou ter apenas R$ 20, referentes a conta-salário em banco.
Já o corretor de imóveis Jorge Peres (PRP) registrou patrimônio de R$ 500. Porém, R$ 400 são pela compra de quatro linhas telefônicas. "Hoje tem valor simbólico, mas antigamente valia muito", justifica.TLRC
Três mais ricos acumulam R$ 8,7 milhões
Enquanto alguns não têm nada, outros 17 candidatos do Grande ABC entram no hall de milionários. Juntos, eles acumulam R$ 28,8 milhões - mais do que o valor pago de patrocínio ao Flamengo, atual campeão brasileiro, em 2010.
Se entram na mesma lista devido à avantajada conta bancária, as semelhanças entre os três mais ricos acabam aí. Com carreiras distintas, cada um fez sua fortuna de uma maneira.
O vice- prefeito de São Bernardo, Frank Aguiar (PTB), o Cãozinho dos teclados, fez sucesso como músico e empresário muito antes de entrar para a política em 2006.
Naquele ano, porém, declarou patrimônio de R$ 543 mil, valor 700% menor do que o atual, de R$ 3,8 milhões. "Transferi alguns bens da empresa para meu nome, até para ninguém falar que estou sonegando", diz o petebista, que tenta voltar à Câmara Federal.
Em segundo vem o ex-prefeito de São Bernardo, o médico William Dib (PSDB), que, além de competir com Frank pela posição de mais rico (o tucano tem R$ 2,6 milhões), também disputa vaga para federal.
Em seguida, vem o empresário José Tavares (PRP), de Rio Grande da Serra, que herdou fazenda em Campo Belo (MG) para somar patrimônio de R$ 2,3 milhões. O republicano, que nunca teve cargo público, quer ser o primeiro deputado estadual da cidade. TLRC
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.