A vila de Paranapiacaba, em Santo André, perdeu sábado à noite parte de seu patrimônio histórico tombado por três instâncias: municipal, estadual e federal. Um incêndio com suspeita de origem criminosa destruiu totalmente uma casa erguida por engenheiros da estrada de ferro a partir do ano de 1897, e que ainda permanecia com fachada original, na rua Rodrigues Alves, 472. A via é conhecida popularmente como rua dos Engenheiros, onde existem apenas outras três casas datadas da mesma época, chamadas de Antiquário, Centro de Visitantes e Pousada. Mas o imóvel consumido pelo fogo tinha tipologia única na vila, com duas lareiras, fogão a lenha, paredes duplas de madeira e base em alvenaria. A casa tinha mais de seis cômodos, pintura azul, paredes de madeira européia pinho de riga e tubulação da calha e gradil escoceses.

A família que ocupava a casa destruída foi despejada pela Prefeitura de Santo André há cerca de duas semanas, por não pagar aluguel. Moravam na residência tombada uma mulher chamada Olga, com seu filho e duas netas. Defensores da preservação da vila afirmam ter corrido boato de que a família despejada “tocaria fogo na casa” caso a Prefeitura seguisse com a reintegração de posse.

A inquilina removida Olga não foi encontrada pela reportagem para se defender da acusação. Moradores disseram que ela está com um dos filhos no interior do Estado. O incêndio foi notado por volta das 20h30. O Corpo de Bombeiros chegou após as 22h, o quartel mais próximo fica em Ribeirão Pires.

Toda a vila de Paranapiacaba pertence à Prefeitura de Santo André. A compra foi a primeira ação do prefeito João Avamileno (PT) à frente da administração municipal, ocorreu logo após a morte do prefeito Celso Daniel, que articulou a aquisição da vila.

Para a monitora ambiental (guia turística) Daniela Bergamini, houve displicência por parte da Prefeitura de Santo André no episódio. “A administração deve prever que pessoas expulsas podem reagir dessa maneira. Além disso, essas casas precisam de sistema de combate a incêndios. Não há extintores químicos nem hidrantes”, disse ela. Outras dez casas da vila, que é inteiramente tombada, devem passar por reintegração de posse.

O policial ferroviário Elias Pereira da Silva, morador de Paranapiacaba, afirma estar temeroso com o desfecho das outras ações de despejo. “A Prefeitura não põe ninguém para fiscalizar essas casa. Ficam todas abandonadas à sorte. A administração pública também é responsável.” Olga, que vivia na casa destruída, não é a única apontada como suspeita pelos moradores. No momento em que o fogo se alastrava, uma minoria de habitantes teria comemorado o desastre.

A Prefeitura respondeu, por meio de nota, que lamenta o incêndio e espera apuração rápida das causas pelas autoridades policiais. No 1º DP de Santo André, foi registrado o boletim de ocorrência 12.545/2005 sobre o incêndio. Segundo a polícia, as investigações não começaram e o BO deve ser transferido ao 6º DP segunda-feira.

Colaborou Luciele Velluto