Em silêncio, na tarde de domingo, cumpriu-se a trajetória de uma das maiores personalidades culturais do Grande ABC. O titular da Orquestra Sinfônica de Santo André, Flavio Florence, morreu no Hospital A.C. Camargo, à 0h20 de domingo aos 51 anos, vítima de câncer. A cerimônia de despedida, no Crematório da Vila Alpina. não foi acompanhada de manifestação musical. "Os filhos vão se lembrar de um pai alegre, presente, amigo e que sempre os ensinou. Flavio tinha uma preocupação muito grande com seu trabalho e eu quero estar presente para dar continuidade e partilhar muitos desses pensamentos nesse momento de transição", disse a flautista da Sinfônica, Mônica Ferreira Camargo, casada com o regente por 20 anos e mãe de dois de seus três filhos.

O velório ocorreu das 11h30 às 15h no saguão do Teatro Municipal, palco de grandes momentos da carreira de Florence, que se misturam à história da orquestra que criou em abril de 1988. Prestaram homenagens colegas maestros, músicos, familiares e autoridades.

Embora o regente evitasse a todo custo o posto de vítima, sua batalha comoveu quem acompanhou seu esforço para conciliar quimioterapia e cirurgias às temporadas da orquestra. O câncer de cólon foi diagnosticado em novembro de 2006 e, em março do ano seguinte, o maestro procurou o Diário para tornar pública a doença. Queria tranqüilizar a platéia que ajudou a formar e avisar que estaria mais ausente.

Repercussão da morte
"Foi uma perda irreparável para a cultura de Santo André e do País. Ele foi a pessoa que criou a orquestra de Santo André. Nossa orquestra continuará, pois esse foi sempre o sonho dele", João Avamileno, prefeito de Santo André

"Quando ele criou a orquestra, em 1988, achava que não iria durar um ano, mas durou 20. Nesse último período da vida dele nós já sabíamos que isso aconteceria, mas a sua luta representou um marco", Daniel Melo, produtor da Orquestra Sinfônica de Santo André

"A dedicação de Flavio e o legado que ele deixa são inestimáveis" Eduardo Gonçalves, diretor do Departamento de Cultura da Prefeitura de Santo André

"Com as dificuldades que nós tínhamos e dentro do limite do poder público, essa orquestra sempre representou muito bem a cidade de Santo André", Acylino Bellisomi, ex-secretário de Cultura de Santo André

 "Ele foi um visionário. Tomara que todo o material que ele produziu seja editado e se transforme em um livro", Carlos Moreno, maestro da Orquestra Filarmônica de São Bernardo

"Ele foi um homem brilhante. Morreu sendo aplaudido com toda honra à sua glória", Helenice Audi, pianista

"Trabalhei com ele por 20 anos. Era ótimo trabalhar com o maestro Flavio", Ronaldo Pacheco, fagotista da Orquestra Sinfônica de Santo André

"Desde 1989 eu trabalhava com ele. Ele era um cara espetacular e competente, mas às vezes era muito rigoroso, até demais em alguns casos", Mario Rocha, trompista da Orquestra Sinfônica de Santo André

"Ele fazia um trabalho muito competente. Em todas as oito vezes que eu toquei com ele como músico convidado foi uma satisfação. Foi uma pessoa muito querida e, sem dúvida, é uma grande perda", Marcos Pedroso, saxofonista

"Eu acho que nós perdemos uma grande personalidade. Era um homem de uma cultura muito grande. Desde os primeiros concertos, há 20 anos, eu já tocava com o maestro", Cláudio Cruz, spalla da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto (OSRP)

"O Flavio não era só regente, ele levou o seu trabalho na orquestra como se fosse a vida dele. Ele foi o responsável pela orquestra ter reconhecimento e prestígio internacional", Lutero Rodrigues, maestro regente da Sinfonia Cultura - Orquestra Sinfônica da Rádio e TV Cultura

"Ele tinha uma facilidade musical impressionante. Nos conhecemos quando ainda estudávamos música juntos", Marcos Pupo Nogueira, diretor do Instituto de Artes da Unesp de São Paulo

"Ele sempre foi meu ídolo. Ele era um poço de conhecimento. A música perdeu muito com a morte do maestro Flavio", Beatriz De Luca, regente assistente da Orquestra Sinfônica de Santo André

"Foi uma perda inestimável para a cultura e para o cenário da música de Santo André", Simone Zárate, secretária de Cultura de Santo André

"Eu fiquei chocadíssimo quando soube, porque Flavio sempre foi um lutador, tanto para manter a orquestra quanto para se manter vivo. Ele era um intelectual abnegado", John Neschling, maestro titular da Osesp

"Conheci o maestro em meados dos anos 1980, quando dividimos um prêmio de regência. Ele sempre foi um criador. De espaços, lugares e dessa orquestra", Abel Rocha, maestro da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo

"Flavio tirou o Grande ABC da letargia cultural por meio do projeto da orquestra. Intelectual muito refinado, formou público e repertório. E isso tudo tem um valor inestimável", Marcelo Lopes, diretor executivo da Fundação Osesp

"O maestro é mais do que um exemplo para mim. Ele foi meu professor e me ajudou muito na parte profissional, no sentido de dizer às pessoas que elas podiam confiar em meu trabalho. Perto do último dia dos Pais eu escrevi para para dizer que ele era como se fosse um pai. Estou me sentindo órfão. Espero que a orquestra se mantenha, da maneira com que o maestro planejou",Roberto Ondei, maestro do Coral Municipal de Santo André

"Todos nós estamos lamentando a perda de uma grande pessoa. Há dois anos que ele lutava contra o câncer, mas infelizmente não resistiu. Estou rezando pela família dele, dou aulas para o filho dele, Pedro", Elisa Fukuda, violinista

"Nós perdemos uma figura do cenário musical muito importante para Santo André, ele era muito dinâmico", Eduardo Monteiro, pianista

"Santo André perde um grande músico. O maestro foi alguém que ajudou a construir um patrimônio cultural da cidade", Ivete Garcia, vice-prefeita de Santo André 

 "Flavio foi um pai musical para mim. Estudamos juntos na Unicamp, ele na terceira, eu na primeria turma. Ele tinha uma paixão pela literatura musical e todos que estavam a seu redor se beneficiavam disso. Me sentia muito acolhida, que me chamava para trabalhar sempre com ele", Claudia Feres, maestrina e ex regente-adjunta de Florence