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O solitário morador do Jardim do Mar, em São Bernardo

Jonas Alves e sua mulher são os únicos habitantes de edifício com 60 apartamentos

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
11/10/2014 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Imagine um prédio onde não há conflitos entre vizinhos nem problemas com barulho. Pois ele existe e fica no Jardim do Mar, em São Bernardo. Dos 15 andares do edifício situado na Rua Kara, com dois blocos e 60 apartamentos, apenas um – no primeiro andar – é ocupado. Lá, moram Jonas Pereira Alves, 64 anos, e sua mulher, Marlucia dos Santos Alves, 62.

De acordo com relatos dos moradores mais antigos do bairro, o imóvel existe há 37 anos e nunca foi habitado, a não ser pelo casal, que se mudou para lá no dia 2 de fevereiro de 2000, oportunidade dada por um dos herdeiros do empreendimento.

O que se sabe desse prédio é que ele está sendo disputado na Justiça por familiares dos empresários que o construíram. “Não sei exatamente qual é o problema. O que sei, mais ou menos, é que os dois sócios que construíram morreram e a obra ficou nas mãos dos herdeiros. Não sei se tem inventário, porque eles não contam nada para ninguém”, disse Alves.

Dois vigilantes contratados por uma empresa terceirizada se revezam para preservar a segurança do patrimônio e evitar invasões. A reportagem do Diário não conseguiu contato com os proprietários.

Antes de chegar ao edifício, Alves, que nasceu em Quijingue, pequena cidade da Bahia, trabalhou como zelador e jardineiro por oito anos no Morumbi, bairro da Capital. De lá, fez serviços no Jardim Santa Cruz, também em São Paulo, até perder o emprego. “Fiquei procurando trabalho e não achava. Então, um amigo que conhece o proprietário do prédio ficou sabendo que ele precisava de uma pessoa que já tivesse trabalhado de zelador para tomar conta do imóvel. Acertei com o dono e vim para cá, com a esposa e duas filhas, que já se casaram”, afirmou. Tanto ele quanto sua mulher recebem um salário mínimo mensal para se manterem.

Os apartamentos têm amplo espaço. “A sala é enorme, tem o quarto da empregada com suíte, dois dormitórios e dois banheiros”, listou Alves.

Se para muitos os vizinhos podem ser um incômodo, para Alves a ausência deles é uma frustração. “É muito ruim. Quando o prédio é habitado, você sempre tem contato com os moradores, a pessoa precisa do zelador para trocar uma lâmpada, fazer alguma coisa, e aqui não tem ninguém que precise de mim. Tenho que inventar serviço porque não consigo ficar parado.”

O solitário morador planeja, em breve, mudar-se com a mulher para um local onde a tranquilidade até pode permanecer, mas a solidão não. “Estou vendendo algumas coisas para juntar dinheiro e quero ir embora para o Nordeste. Tem um lugar na Bahia chamado Caldas do Jorro. É pequenininho, mas é turístico.”

Funcionário dedica carreira a parque

Em março do próximo ano, José Roberto Soglia, 59 anos, completará três décadas de dedicação à Cidade da Criança, localizada na Rua Tasman, 301. O parque foi inaugurado em 1968 e é um dos principais pontos turísticos de São Bernardo e do Grande ABC.

A trajetória foi iniciada em 12 de março de 1985, quando Soglia assumiu o cargo de guarda do espaço, por meio de empresa que prestava serviço terceirizado para a Prefeitura no setor de Segurança. Quando a companhia encerrou as atividades, ele viu no concurso público a oportunidade de manter-se no local. Fez a prova e passou.

Nos 48 mil m² de espaço, Soglia já fez de tudo um pouco. “Ajudei na parte operacional dos equipamentos, na manutenção dos brinquedos e agora estou como supervisor”, explicou.

O funcionário é tão conhecedor de cada pedacinho do parque que, durante o período em que o espaço ficou fechado para reforma (sendo reinaugurado em 2010), Soglia permaneceu por lá e foi peça fundamental para a execução dos trabalhos. “Fiquei porque tinha que orientar onde estavam os encanamentos, as ligações elétricas. Conheço tudo por aqui.”

O expediente começa às 8h e se encerra às 17h, de terça-feira a domingo, inclusive feriados. Para ele, quanto mais movimento, melhor. “É gostoso trabalhar aqui e, quando tem bastante visitante, a hora passa que a gente nem percebe.”

Com tantos anos de atuação no local, Soglia vê muitos dos pequenos de antigamente hoje com suas famílias formadas. “Tem muita gente que chega e fala que o pai o trouxe quando era pequeno e, agora, está trazendo os filhos. Tem visitante que também comenta: ‘Mas você ainda está aqui, José Roberto?’”, disse, aos risos.

E no que depender do funcionário, ele continuará na Cidade da Criança por um bom tempo. “Era para ter me aposentado em outubro do ano passado, mas estou com receio de ficar em casa. Gosto do que faço, não tem coisa melhor que ver as crianças se divertindo. Estou com saúde, graças a Deus, então, vamos trabalhar mais uns anos.”

Carrinhos atraem crianças e adultos

Embora fique dentro da Cidade da Criança, a loja de Marcelo Leduino dos Santos Traçatto, 43 anos, não atrai apenas o público infantil. Os mais de 7.000 carrinhos em miniatura dispostos nas prateleiras também fazem os olhos de gente grande brilhar.

Traçatto é colecionador dos brinquedos há uma década e foi o primeiro a levar exposições das peças a shoppings no Brasil, em 2005.

Certo dia, pediu à Prefeitura espaço na Cidade da Criança – que estava desativada –, para um evento que reuniria colecionadores iguais a ele. Com público de mais de 2.000 pessoas, recebeu o convite para montar um estabelecimento no ramo, hoje com quatro anos de existência.

Na loja, vende e troca itens. Lá podem ser encontrados desde os tradicionais modelos de mercado, ao preço de R$ 7, a peças exclusivas que chegam a custar R$ 380, como é o caso de dois carrinhos desenvolvidos e autografados pelo norte-americano Dave Chang, um dos mais renomados designers de miniaturas. “Ele veio a um evento no Brasil e fez dois carrinhos, um verde e um amarelo, e autografou. O Dave conheceu a nossa loja, inclusive”, relembrou.

Traçatto explica por que o universo dos minicarrinhos não é sucesso apenas entre a criançada. “Quando a gente era pequeno, ficava namorando o carrinho na vitrine. No aniversário ou em outra data especial, os pais até davam de presente, mas só um, porque era muito caro. Que eu me lembre, tive uns cinco ou seis quando criança. Atualmente, há modelos com preços mais acessíveis e dá para comprar em maior quantidade. Então, quando o adulto entra aqui e vê tanta variedade por um preço baixo, fala: ‘Não tive quando criança, agora vou ter.’”

Atuando paralelamente em sua empresa de comunicação visual, a loja de carrinhos é tida mais como um hobby. “É um negócio gostoso, onde você faz amizades com pessoas de todas as idades.”

O estabelecimento funciona de terça a sexta-feira, das 9h às 17h, e aos sábados, domingos e feriados das 9h às 18h. 




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