Dilma, Marina e Aécio partem para o ataque
direto; nanicos também levantam polêmicas
O último debate entre os candidatos à Presidência da República antes do primeiro turno, realizado ontem pela Rede Globo, teve temperatura elevada, com forte acirramento entre os principais rivais na disputa ao Palácio do Planalto. Episódios de esquema de corrupção envolvendo PT e PSDB, por exemplo, esquentaram o clima na discussão. A presidente petista Dilma Rousseff, postulante à reeleição, o senador tucano Aécio Neves e a ex-ministra Marina Silva (PSB) ficaram em saia justa quando questionados sobre casos de escândalo.
Em contrapartida, o trio não fugiu do confronto direto e partiu para o ataque, rivalizando a concorrência. Por outro lado, os pleiteantes nanicos também levantaram polêmicas dos adversários. O quadro da emissora foi aberto e seguiu em seus quatro blocos com denúncias de corrupção na Petrobras e nos Correios, o esquema do Mensalão, tanto do petismo (em Brasília) quanto do tucanato (em Minas Gerais), e a suposta compra de votos na apreciação da emenda de reeleição durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Nome do Psol, a ex-deputada Luciana Genro enquadrou logo de cara a atual presidente ao tratar do reconhecimento de desvios de recursos públicos feito pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Dilma alegou que o governo adotou medidas para combater a corrupção, repetindo discurso de que a gestão petista foi “a primeira a não jogar (irregularidades) para baixo do tapete”. “Faremos com que o caixa dois seja considerado crime eleitoral. No caso da Petrobras, nós demitimos o ex-diretor. Não acredito que tenha alguém acima da corrupção.”
A petista leu ata da exoneração do ex-funcionário da estatal. Aécio e Marina rebateram a informação colocada por Dilma. O tucano utilizou a fala da presidente para criticar que Paulo Roberto foi elogiado ao ‘sair’ da Petrobras “pelos serviços prestados”. “Ele assaltou os cofres da Petrobras. No meu governo, vamos devolver a estatal aos brasileiros”, disse, retrucando a acusação de que privatizaria a principal estatal do País.
Trazido ao debate pela mediação, a autonomia do BC (Banco Central) confrontou propostas de Dilma e Marina. Quando pesquisas de intenções de voto mostravam empate técnico entre elas, a petista começou a explorar o tema, dizendo que a adversária queria dar independência ao BC por influência de banqueiros – foi quando a presidente associou a imagem de Marina à de Neca Setubal, herdeira do Banco Itaú e colaboradora do plano de governo do PSB.
“A senhora defendeu a autonomia do Banco Central quatro anos atrás e depois recuou. Qual Dilma que está falando agora, a do discurso ou da convicção?”, questionou Marina. A petista respondeu: “Deliberadamente você confunde autonomia com independência. Independência só para os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Dar independência ao BC é instituir quarto poder. Sugiro que a senhora leia o que escreveu no seu plano de governo”. Na tréplica, a socialista atacou. “Virou presidente sem experiência porque nem vereadora foi. Confunde os poderes. Acha que autonomia do BC é para combater a inflação, que está em alta no seu governo.”
Marina negou encerrar programas bem-sucedidos do governo petista, como o Bolsa Família, e anunciou a instituição da 13ª parcela do benefício. Aécio também garantiu que continuará com o projeto.
Rivais enquadram Levy por fala contra gays na Record
Integrantes do bloco dos nanicos, Eduardo Jorge (PV), Luciana Genro (Psol) e Levy Fidelix (PRTB) protagonizaram ríspida discussão em relação ao público homossexual. A pauta foi levantada pelo verde, motivada pelo discurso de Levy no debate anterior, realizado pelo TV Record, em que declarou “que o aparelho excretor não reproduz” e que seria necessário “enfrentamento aos gays”.
Chamado para perguntar, Eduardo Jorge enquadrou o rival, exclamando que ele “extrapolou limites” e “deveria pedir perdão” pelas declarações. De maneira áspera, Levy rebateu: “Você não tem moral nenhuma porque faz apologia ao uso da maconha e ao aborto. Eu apenas segui o que resta a Constituição federal. Artigo 226 prevê homem e mulher, filhos. Então, meu candidato, fique certo que não é você quem vai colocar o povo brasileiro para defender algo contrário à Constituição. Pense duas vezes antes de me atacar de algo que não fiz. Defendi a posição cristã.”
Na sequência, o tema foi trazido à tona por Luciana Genro, após crítica direta feita pelo renovador-trabalhista em outra questão. “Levy, você chocou e ofendeu milhares de pessoas com seu discurso homofóbico. Incitou o direito de suposta maioria enfrentar direitos de minorias”, condenou.
Repetindo a postura com Eduardo Jorge, Levy partiu ao ataque, garantindo que não cometeu qualquer irregularidade. “Mentira sua. Em nenhum momento fiz apologia. Não pedi que as pessoas atacassem alguém. Legítimo direito de defender a família. Direito de expressar minha posição católica cristã”, explicou.
Na tréplica, a socialista voltou a condenar o discurso do rival. “Nem mesmo ateus compartilham dos seus discursos de ódio. A presidente Dilma, por pressão da bancada fundamentalista, desistiu do kit gay”, relembrou.
Nas considerações finais, Levy voltou a defender sua posição. “Neste País, hoje se vive uma inversão de valores. Eu só defendo que as coisas não vão para o descalabro”, finalizou.
Formato coloca presidenciáveis cara a cara e aumenta tensão
O formato estabelecido no último debate presidencial, organizado pela Rede Globo, contribuiu para o acirramento entre os presidenciáveis. Os candidatos fizeram todas as perguntas frente a frente em mesa específica e puderam escolher pelo menos duas vezes o mesmo debatedor, o que deu condição de temas serem mais explorados.
A presidente Dilma Rousseff (PT), por exemplo, foi questionada por Marina Silva (PSB) sobre a falta de apresentação do programa de governo e emendou afirmação de que a adversária não estaria cumprindo promessas de campanha para reduzir impostos e combate à corrupção. A situação gerou nervosismo entre ambas e, após a tréplica da petista, que pediu que ela fosse “correta”, a socialista continuou debatendo como se estivesse no quarto direito de resposta e foi corrigida pelo mediador.
Aécio Neves também protagonizou embates tensos com Dilma e Marina.
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