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Entre beijos e cifras

Livro 'Até que o Dinheiro nos Separe' provoca reflexão
em casais que protagonizam brigam por causa de dinheiro

Andréia Meneguete
Do Diário do Grande ABC
10/10/2010 | 07:03
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Quem casa quer casa! E quer também comida, roupa lavada, viagens anuais, filhos em escolas particulares, lista de supermercado sem restrições e ainda independência financeira - embora o último requisito seja algo distante e às vezes impossível para muitos casais.

Este é o tema que norteia a obra Até que o Dinheiro nos Separe, da psicóloga Cleide M. Bartholi Guimarães, que analisou a relação com o dinheiro dos casais. O livro é focado na cultura financeira que cada um recebeu antes de casar. A partir disso, é possível analisar o que acontece quando duas pessoas com relações diferentes com o dinheiro se unem - e ainda prometem ser felizes para sempre, na riqueza e na pobreza!

"Nos meus atendimentos, o dinheiro sempre está na trama dos relacionamentos. Então surgiu o interesse de compreender a construção das pessoas em relação ao tema", explica. Pesquisas na área apontam que o dinheiro assume o topo dos motivos que levam um casal a se separar.

Segundo Cleide, o dinheiro é a ponta de um iceberg. Ele é capaz de trazer à tona vários problemas que são enfrentados de forma omissa.

Para os casais que se interessaram pela criação literária comportamental, vamos ao primeiro aviso: não é uma obra de autoajuda com fórmulas e dicas mais do que batidas sobre como sair do vermelho ou para salvar o casamento. Entre as páginas, na verdade, a autora provoca nos leitores momentos de pura reflexão questionamentos.

O livro fornece ainda experiências de relacionamento e gera condição para que se reflita sobre a importância da comunicação, negociações e respeito na hora de enfrentar a falta de dinheiro. "A conjugalidade não pode ser determinada pelo dinheiro", sentencia.

O Diário aproveita o tema e traz o perfil de três personagens que vivenciaram a questão da ausência do dinheiro no relacionamento.

 

Dormindo com um desconhecido
A falta de acordo e parcerias financeiras entre o casal pode resultar num casamento desastroso e com lembranças nem tão boas assim do conhecido que era para ser para sempre. Foi como aconteceu com a escritora paulista Renata Maria Rode, 34 anos, que por três anos viveu um relacionamento marcado por ações individuais e egoístas do ex-marido em tudo que se referia ao dinheiro.

"Banquei a casa por muito tempo e ignorava o que estava acontecendo. Mas, realmente, tudo começou a me incomodar quando deixamos de curtir momentos de lazer juntos por causa da falta de dinheiro. Entretanto, na contramão, ele sempre aparecia com acessórios novos para o carro", revela Renata.

De acordo com Thiago de Almeida, psicólogo especializado no tratamento para as dificuldades dos relacionamentos amorosos, a vida a dois começa a ser menos estressante quando se busca em conjunto os mesmos recursos para a sobrevivência e lazer.

A decisão do casal para a separação veio após longos e sofridos meses. "Sem querer, por falta de conversa ou pelo simples fato de querer mesmo, fomos nos distanciando e passamos a ter uma vida de solteiro. Não tínhamos mais planos juntos, não tínhamos mais nada em comum. O amor sumiu", desabafa a escritora.

Para o especialista, quando há um descontrole de consumo ou negligência por alguma das partes, o dinheiro começa a trazer brigas e muitos problemas para o casal.

"Quando há o gerenciamento dos recursos e do dinheiro por ambas as partes e um foco em conjunto, a vida do casal começa a entrar em harmonia, beneficiando a todos", completa o psicólogo Thiago de Almeida.

 

Quando ela ganha mais que o marido

Ganhar mais do que o marido pode ser a salvação de alguns problemas. Só de imaginar a possibilidade de comprar roupas, bolsas, sapatos e cosméticos sem ter que justificar o uso incontrolado do cartão de crédito com estes mimos, realmente, seria a libertação para qualquer mortal.

Mas este fato não é tão positivo quanto parece. Não, pelo menos, para a analista comercial Alice Sampaio*, 37 anos, de Santo André, que recebe mensalmente um salário bem maior que o do marido, Jorge Santana*, 37, que é funcionário de um cartório da região do ABC.

"Quando começamos a namorar, eu abdiquei de alguns momentos de lazer para poder investir na formação dele. Mas, depois do diploma nas mãos, ele continuou no mesmo cargo, ganhando a mesma coisa", explica.

Cansada de assumir as responsabilidades da casa, Alice expôs, com franqueza, a realidade do casamento e o que a incomodava.

Resultado? "Ele continua na mesma, sem ambições ou mudanças. Mas eu faço as minhas programações e viagens sozinhas", desabafa Alice.

Nesta versão - por mais que cause estranheza para muitos leitores -, o que faz dar certo é o acordo entre ambas as partes, embora que se tenha uma felicidade duvidosa.

"Toda a vida do casal deve ser transparente, satisfatória em longo prazo, não se deve pensar em tempo de validade. As tensões cumulativas geram briga", explica Almeida.

Segundo estudo realizado e apresentado no livro acima citado, jovens acreditam que aquele que ganha mais tem o direito de realizar mais gastos pessoais. A verdadeira autonomia com o dinheiro. (Andréia Meneguete)

 

Muito amor no coração e pouco dinheiro no bolso

"Ninguém consegue viver de amor e cabana. Chega uma hora que o casal morre de tédio", assim define a assessora de imprensa Fernanda Lemos *, 28 anos, ao justifica o fim do casamento de dois anos.

Por todo o período do relacionamento com o jornalista Denis Campos *, o casal abdicou de todos os programas de lazer com amigos e familiares por causa da falta de dinheiro.

A precipitação da união, antes mesmo de que cada um pudesse assumir a demanda financeira que vem junto com um relacionamento sério, foi o fator que pôs fim ao relacionamento, que, segundo ela, tinha a promessa de ser para sempre.

Tudo porque a união do salário, na época, de dois estagiários, não foi capaz de suprir com o compromisso das contas fixas de um lar.

"Éramos muito jovens, estagiários, no começo de carreira, almoçávamos no trabalho e jantávamos salsicha ou carne moída porque era mais barato. Não sobrava dinheiro para nada", revela Fernanda.

CONSUMO
Conforme relata em seu livro, Cleide afirma que é muito difícil crer que a sociedade conjugal possa ter forças para lidar com a sociedade de consumo, se a primeira não tiver recursos materiais para sobreviver na segunda.

"Sem o dinheiro essa relação é mais difícil", ressalta a especialista.

A autora traz à tona como o fim de um relacionamento é tratado de forma mais simples atualmente pelos jovens casais. "A ruptura do casamento é mais rápida hoje em dia e pode emergir das dificuldades financeiras", salienta a psicanalista. AM

* Os nomes foram alterados a pedido dos entrevistados. (Andréia Meneguete)




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