A entrega da segunda etapa das obras de canalização do Ribeirão dos Couros e construção de marginais no bairro Jordanópolis, em São Bernardo, sofrerá atraso. Prevista para ser concluída em janeiro de 2014, a intervenção deve ficar pronta apenas no fim do ano que vem. Isso porque, segundo a Prefeitura, a chuva e a renovação de licenças ambientais diminuíram o ritmo dos trabalhos, iniciados há um ano.

Moradores das ruas Carlos Estevão e Mário Júlio Rodrigues garantem que, desde o começo do ano, as máquinas deixaram o local, uma das principais frentes de trabalho da segunda etapa da canalização. O fato ocorreu após as intervenções se tornarem alvo de investigação do TCE (Tribunal de Contas do Estado), que julgou irregular o contrato da Prefeitura com o Consórcio Ribeirão dos Couros, orçado em R$ 146,5 milhões e que inclui as obras viárias. Do total de investimentos, R$ 79 milhões são provenientes do PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento) e R$ 10 milhões da Sabesp.

Sem a conclusão, a comunidade sofre por ter o córrego como vizinho indesejado. "Viver aqui é um tormento. Os mosquitos entram na casa e o cheiro é insuportável no calor. Quando a obra começou, achamos que iria melhorar, mas faz tempo que não vemos ninguém trabalhando", diz a autônoma Iracema Alves Listi, 46 anos, 28 deles no bairro. A convivência com a água poluída cobrou seu preço da família de Iracema: os filhos têm alergias e seu pai, de 86 anos, sofre com problemas de pulmão.

O que o chaveiro Paulo Brito, 50, que mora há 34 anos no bairro, mais teme é o risco de dengue. "Tivemos alguns focos aqui e ficamos com medo. Também espero que, quando a obra fique pronta, a canalização não cause enchentes, pois aqui nunca aconteceu." Um dos principais objetivos das intervenções é exatamente evitar as cheias do rio.

VIÁRIO

Para o aposentado Yoshikatsu Funaki, 77, o principal benefício será a implementação da avenida marginal ao Ribeirão dos Couros, que ligará a Avenida Piraporinha até a altura da Avenida São Paulo. "Hoje o bairro não tem saída. Temos que andar muito para chegar ao Centro ou acessar a Rodovia Anchieta. As obras podem melhorar nossa situação e nos tirar desse isolamento."

A via terá 920 metros de extensão, com uma pista para cada sentido, com três faixas de rolamento em cada uma. Na prática, será a continuação da Avenida Robert Kennedy, localizada no bairro Planalto.

Com a obra pronta, os moradores dessa região terão mais facilidade para se deslocar para bairros como Rudge Ramos e Taboão. A Prefeitura avalia ainda que o corredor irá ajudar a desafogar o tráfego da Avenida Lucas Nogueira Garcez e dos acessos ao Km 18 da Anchieta, considerados pontos problemáticos de congestionamento na cidade.

Famílias fazem triagem de material reciclável nas margens

Enquanto a decisão sobre a continuidade das obras não sai, ao menos quatro famílias utilizam as margens do Ribeirão dos Couros para fazer a triagem de materiais antes de mandá-los para a reciclagem. Foram instalados galpões de madeira no local, que recebem todo tipo de detritos, incluindo aparelhos eletrônicos, que tem componentes tóxicos.

Uma dessas famílias é a de Vera Lúcia Pereira de Lima, 58, que está ali há 17 anos. Segundo a catadora, no ano passado a Prefeitura passou a cobrar pelo uso da área. "São quatro parcelas de R$ 120 por ano, mas pago com gosto porque é daqui que eu e meu marido tiramos nosso sustento, dos nossos três filhos e dois netos."

Procurada, a Prefeitura garantiu que não há cobrança de taxas para o uso da área e que o ecoponto que existia ali teria sido desativado por conta da obra. Ainda conforme a administração, não há autorização para instalação de outro ecoponto no local. As famílias garantem não ter sido informadas sobre a remoção.