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Estádio vazio
Corinthians joga,
mas Fiel se cala

Punido pela Conmebol após morte de torcedor, Timão encara Millonarios sem torcida no Pacaembu pela Copa Libertadores

Anderson Fattori
Do Diário do Grande ABC
27/02/2013 | 07:00
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Desta vez, ao subir as escadas que levam ao gramado do Pacaembu, os jogadores do Corinthians não vão ouvir o frisson que normalmente vem da arquibancada. Eles experimentarão a estranha sensação de jogar sem a Fiel e terão de reunir força para esquecer o que passou e se impor diante do Millonarios, da Colômbia, às 22h (Globo e Fox Sports), pela segunda rodada da Libertadores.

A ausência dos torcedores é em razão do cumprimento da punição aplicada pela Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) após a morte do torcedor boliviano Kevin Douglas Beltrán Espada, 14 anos, na quarta-feira. Ele foi atingido na cabeça por sinalizador disparado por corintiano durante a partida entre San Jose e Corinthians, na cidade de Oruro, na Bolívia. Segundo a entidade, o Timão não poderá receber torcedores durante a primeira fase - tanto como mandante quanto visitante -, ou até que o processo seja finalizado, o que deve levar cerca de 60 dias.

Essa será apenas a terceira partida na história em que o Corinthians não terá a presença dos fiéis seguidores no estádio, mas a primeira no Pacaembu. Os outros dois jogos aconteceram em 2005, pelo Brasileiro. Na ocasião, o time foi punido por atos de hostilidade de seus torcedores, que invadiram o gramado do Pacaembu após a goleada de 5 a 1 sofrida para o São Paulo e teve de mandar os confrontos diante de Flamengo e Fluminense em Mogi Mirim. O Timão venceu os flamenguistas por 4 a 2, e perdeu para o Fluminense, por 1 a 0.

A ausência de torcedores na arquibancada vai representar enormes prejuízos ao clube. Esportivamente, são incontáveis, uma vez que a torcida corintiana é temida pelos adversários e costuma empurrar a equipe nos jogos disputados no Pacaembu, ainda mais pela Libertadores, competição na qual o bicampeonato é objeto de desejo dos torcedores. Financeiramente, o clube de Parque São Jorge calcula que vai deixar de lucrar aproximadamente R$ 1 milhão apenas com receitas que viriam da arquibancadas - 28 mil ingressos haviam sido vendidos antecipadamente.

Punição justa ou não, a partida vai servir para profunda reflexão sobre a influência das torcidas organizadas no futebol e certamente usada como exemplo pela Conmebol na tentativa de moralizar os campeonatos sul-americanos, recentemente marcados por atos de violência tanto dentro como fora dos gramados.

Hoje, no Pacaembu, não será apenas um, mas 90 minutos de silêncio pela morte não só do torcedor boliviano, mas de muitos outros que já perderam a vida em partidas de futebol.

Torcidas evitam estádio e acompanham jogo no telão

Os torcedores do Corinthians chegaram a se articular nas redes sociais projetando invadir as redondezas do Pacaembu durante o jogo de hoje, às 22h, contra o Millonarios, da Colômbia. Mas, após reunião com a Polícia Militar, as principais lideranças das torcidas mudaram de estratégia e pedem para os associados não passarem perto do estádio.

A Gaviões da Fiel, maior torcida organizada do clube, promete instalar telão na quadra, localizada no Bom Retiro, em São Paulo, medida adotada também pela Camisa 12 e pela Estopim da Fiel, esta com sede em Diadema.

Em Santo André, corintianos também vão acompanhar a partida por meio de telão posicionados na Rua Fenícia, no Parque Novo Oratório.

Em comunicado, a Estopim informou que o objetivo é evitar qualquer tumulto e problemas com a Polícia Militar. A diretoria prometeu punir integrantes da facção que forem ao estádio vestidos com material que identifique a torcida.

PARA POUCOS

Em nota oficial publicada em seu site, o Corinthians informou que, após consultar a Conmebol, iria impedir que a imprensa fizesse a cobertura da partida. A Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos de São Paulo), porém, garantiu que jornalistas terão livre acesso ao estádio.

Tite barra Emerson e põe Pato como titular

A paciência de Tite com o atacante Emerson parece ter chegado ao fim. Ontem, na última atividade antes do duelo de hoje, às 22h, contra o Millonarios, no Pacaembu, o treinador deu oportunidade a Alexandre Pato no time titular e deixou Sheik na reserva. Além da questão técnica e física, o atacante, que sofre com dores no joelho direito, chegou atrasado em dois treinos consecutivos nos últimos dias, o que influenciou na decisão.

Após barrar o herói da Libertadores de 2012, Tite tentou explicar. "Trabalho em cima dos fatos. O Emerson não treinou dois dias por estar sentindo dores no joelho e ainda atrasou. Isso teve muito a ver com os filhos, o que não retira o erro cometido. Família é uma coisa sagrada, mas dá para administrar as duas coisas. Ele deve estar conosco no horário normal. É orientado e cobrado para isso", disse o treinador.

Além de perder a vaga no time, Emerson terá outro problema. Ontem, ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal no Rio de Janeiro à Justiça acusado de participar de contrabando de veículos, em processo investigado pela Polícia Federal desde 2012.

Além de Sheik, Tite teve de fazer outra mudança na equipe, mas essa por questões físicas. Com lesão muscular na coxa direita, Jorge Henrique foi vetado e será substituído por Renato Augusto.

Durante a atividade de ontem, o técnico tentou ajustar o posicionamento de Pato e Guerrero para que um não ocupe o espaço do outro. Por diversas vezes pediu para os jogadores conversarem para decidir sobre quem deve ficar mais centralizado na área. Na maior parte das jogadas, Pato atuava mais pelo lados e preparava as jogadas para o peruano.

Sobre o fato de disputar a partida sem a presença de torcedores, o treinador garantiu que o a motivação do time será dobrada. "Vamos sentir, pode ter certeza absoluta de que vamos sentir falta. Nunca trabalhei neste tipo de situação que, em se tratando de Corinthians, é mais difícil ainda. Mas vamos jogar pra caramba. É nova situação, novo desafio, uma oportunidade de retribuir aos torcedores o carinho com que eles nos tratam", observou o técnico.

MILLONARIOS

Um dos trunfos do time colombiano é o técnico Hernan Torres que, em 2011, no comando do Tolima eliminou o Corinthians na pré-Libertadores. De volta a São Paulo, o treinador releva o fato de enfrentar o rival no Pacaembu vazio. "A torcida (do Corinthians) tanto pode pressionar, como ajudar a equipe local. É claro que seria uma vantagem deles, mas nós não nos importamos com isso.", avisou Torres.

Algoz de Palmeiras e Grêmio na Copa Sul-Americana de 2011, o Millonarios chega em baixa para o jogo, após a derrota por 1 a 0 para o Tijuana, na estreia, em Bogotá.

Revoltado, diretor de futebol faz duras críticas à Conmebol

Após ter recusada apelação para jogar diante dos torcedores, hoje, no Pacaembu, a diretoria do Corinthians criticou duramente a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) e pediu punição mais justa. Pela sanção imposta pela entidade, o time terá de jogar com portões fechados todas as partidas na primeira fase da Libertadores.

O clube tentou apelar da decisão ontem, mas não foi bem-sucedido. "O Corinthians foi punido. Não nego, não corro.Mas o regulamento é claro, o estádio inteiro estava com sinalizadores. Por que as autoridades não tomaram providências?", questionou o diretor de futebol Roberto de Andrade.

Na avaliação de Andrade, o time foi punido por causa da morte e não em razão do sinalizador. "Esta punição foi em cima do artigo 11.2 (do Regulamento Disciplinar da Conmebol) porque foi aceso o sinalizador. Fomos punidos por uma morte e a morte foi consequência da causa. O estádio inteiro tinha sinalizador", argumentou. "Tem que morrer alguém para ter punição? Queremos exigir que a Conmebol cumpra o regulamento. O San José tem de ser suspenso."

Sem medir palavras, Andrade ainda acusou a entidade de não cumprir outros itens do regulamento. "Enviamos ofício à Conmebol dia 22 de janeiro relatando que Oruro não tinha aeroporto para nos receber. Como consta no regulamento, é preciso que a cidade tenha aeroporto internacional em uma distância de 150 quilômetros. Cochabamba fica a 210 quilômetros", ressaltou. "Não é que o aeroporto de Oruro estava em condições precárias. Para ficar precário, era preciso melhorar muito. Tem esgoto a céu aberto, cachorro na pista. Isso são condições de segurança? Tudo o que começa errado tem grande chance de acabar da mesma forma", esbravejou.

O departamento jurídico do clube prepara defesa para enviar a Conmebol, o que deve ocorrer até amanhã e espera que a entidade julgue o caso o mais rápido possível. A expectativa do advogado do clube, Luiz Felipe Santoro é que se resolva a situação antes do próximo jogo do Timão no Pacaembu, pela Libertadores, dia 14 de marco, contra o Tijuana.

TORCEDORA NA JUSTIÇA

A corintiana Lucelita Ferreira de Vasconcelos protocolou ontem ação no Fórum de Pinheiros, na Capital paulista, para ter acesso à arquibancada do Pacaembu, hoje, contra o Millionarios. Ela havia comprado o ingresso antecipadamente e espera conseguir liminar hoje, de acordo com seu advogado, Paulo Cremonesi."Nos baseamos no Estatuto do Torcedor e no Código de Direito do Consumidor. Estou pedindo liminarmente que ela tenha acesso, nem que seja de forma individual. Vai dar margem, por exemplo, para torcedores entrarem de forma coletiva", explicou o advogado.

Procurado, os dirigentes do Corinthians disseram desconhecer a iniciativa da torcedora.




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