Início
Clube
Banca
Colunista
Redes Sociais
DGABC

Domingo, 28 de Abril de 2024

Setecidades
>
Impunidade
Tragédia completa
1 ano sem culpados

Inquérito sobre a queda de laje do Edifício Senador está
parado; investigação é conduzida pela Polícia Civil e MP

Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
06/02/2013 | 07:00
Compartilhar notícia


A quarta-feira da professora Kelly de Oliveira, 31 anos, e seu marido, o metalúrgico José Fabrício Morais, 38, será marcada pela dor. Há exato um ano, o casal perdia a filha Julia de Morais, 3, uma das duas vítimas fatais do desabamento da laje do 14º andar do Edifício Senador, no Centro de São Bernardo. A angústia maior é pela falta de respostas: a família ainda não teve retorno positivo das investigações conduzidas simultaneamente pela Polícia Civil e Ministério Público sobre o ocorrido.

"A dor, a saudade e a impunidade continuam", disse Kelly. "A revolta cresceu muito. A gente vê que a Justiça não vai ser feita para nós."

Ela e Morais irão visitar a filha no cemitério nesta manhã. Levarão flores. A vida do casal não tem sido fácil. O metalúrgico, apesar de fazer acompanhamento médico, fisioterapia e cirurgia, perdeu os movimentos do braço esquerdo. Ele foi uma das sete vítimas graves do desabamento. Foi achado nos escombros horas após o desabamento, que ocorreu às 19h30 do dia 6 de fevereiro do ano passado e marcou sua vida para sempre.

Kelly precisou voltar a dar aulas na mesma escola de Educação Infantil onde trabalhava antes do acidente e onde estudava a filha. As lembranças são inevitáveis. "Tento me segurar, ser muito forte para não pensar nela, não chorar e não passar os meus sentimentos às outras crianças", explicou.

Apesar do sentimento de impunidade, as partes envolvidas mostram que o trabalho está mesmo estagnado. O delegado Victor Vasconcellos Lutti, titular do 1º DP (Centro) da cidade espera por novas evidências para dar sequência aos trabalhos.

"A investigação continua no sentido de tentar apurar se há, de fato, a culpabilidade de alguém", justificou. Lutti aguarda técnicos da Prefeitura para saber do suposto embargo feito a pelo menos duas obras de reformas ocorridas no local do desabamento. "Pode abrir um horizonte no que diz respeito a esse assunto", completou.

A situação é a mesma do Ministério Público. A promotora da Vara de Habitação e Urbanismo do município, Rosângela Staurenghi, esclareceu que o inquérito civil aguarda parecer técnico do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) sobre o prédio e os laudos divulgados pelo IC (Instituto de Criminalística) e a empresa Falcão Bauer, contratada por Prefeitura e os próprios condôminos. Entretanto, o órgão promete convocar os responsáveis pelo prédio para depor em março.

Em nota, a Prefeitura disse que não foi indagada sobre possíveis embargos pelas autoridades e não há registros recentes de veto à realização de obras no Edifício Senador. A administração diz que não foi procurada para esclarecimentos a respeito da atual situação do prédio.


Detalhes do acidente ainda estão vivos na memória

"Isso não sai da memória da gente." O síndico Lauro Salera resumiu o sentimento da maioria das pessoas que vivenciaram o desabamento na noite daquele dia. Além dos familiares das vítimas fatais, entre elas a enfermeira Patrícia Alves Faria de Lima, 26 anos, comerciantes vizinhos relembram em detalhes os momentos.

"O barulho foi o que mais me assustou. Um estouro muito grande. Fiquei com aquilo na cabeça. Qualquer som parecido que ouvia já pensava que era algo caindo", disse a balconista de farmácia vizinha ao prédio, Sandra Maria de Souza, 42. "Demorei um tempo para me recuperar. Infelizmente vem a lembrança constante, das pessoas que morreram, de tudo que aconteceu naquela noite."

Até 3.000 pessoas circulavam diariamente pelo Edifício Senador. O acidente interferiu no comércio local. Muitos restaurantes foram vendidos. "Antes vendia 80 almoços. Hoje, 20", disse Roberto Casetti, 45, proprietário de lanchonete vizinha.

A maioria dos condôminos - médicos, advogados e outros profissionais liberais - já se estabeleceu em outros endereços próximos. Muitos anunciam a sua mudança no próprio tapume que cerca o prédio. "Mas o pessoal ainda espera retornar", disse Salera.


Autorizada em laudo, reforma não tem prazo

Condôminos do Edifício Senador esperavam que o local pudesse ser reaberto até 2015. Mas o prazo pode ser maior. O próprio síndico, Lauro Salera, explicou que, apesar da Falcão Bauer atestar em novo laudo, revelado pelo Diário, que o local pode ser totalmente recuperado, não há prazo sequer para o início das obras de recuperação.

"Ainda estamos providenciando o projeto (da reforma). Não temos nem o orçamento de quanto irá custar", disse o síndico. De certeza, apenas o fato de que os condôminos optaram pela reforma geral do prédio e não apenas da área afetada.

O processo burocrático também deve tornar a reforma do edifício mais lenta. A Prefeitura diz, em nota, que não recebeu o laudo da Falcão Bauer encomendado pelos condôminos e que libera o local para intervenções, descartando o risco de desabamento. A empresa foi contratada pelo município antes para atestar as causas do acidente.

O poder municipal disse que ainda não teve acesso ao laudo. Por conta da falta de informações, não tem como emitir alvará liberando as intervenções. O pedido de autorização, no entanto, virá somente após a finalização do projeto.

A falta do laudo também impede a Prefeitura, segundo a nota, de liberar a calçada da Avenida Índico, que seguia interditada até ontem. O motivo é o risco de queda de objetos em cima dos pedestres. Segundo o poder municipal, a liberação só virá quando for constatado que não há mais riscos.

A retirada da GCM (Guarda Civil Municipal) do local também foi pedido dos condôminos, que informaram terem contratado seguranças particulares para tomar conta do imóvel.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.