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Segunda-Feira, 29 de Abril de 2024

Meu novo país

Conheça as histórias de quem nasceu em outro país e agora vive no Brasil

Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
03/08/2014 | 07:00
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Há 10 meses no País, Juan José Montes Ospina, 5 anos, está se adaptando ao português e à nova rotina. Ele nasceu em Cali, na Colômbia. Seus pais também são de lá. Apesar de já gostar do Brasil, o menino sente muita saudade de sua terra natal. Para ele, ainda é difícil fazer amigos, principalmente por causa das diferenças entre os idiomas (ele fala castelhano).

Agora, Juan estuda Emeief Monsenhor João do Rego Cavalcanti, em Santo André. Durante a Copa do Mundo, a classe dele fez trabalho sobre a Colômbia, deixando-o muito feliz. Ele levou arepa – espécie de pãozinho feito com farinha de milho – para todos os colegas.

Mas Juan não é o único aluno internacional da escola. No local também estudam Emanuelly Forte Parada, 3, da Bolívia, e Elis Bryce dos Santos, 6, do Canadá. 

Elis viajará agora para sua terra natal, que fica no Hemisfério Norte. Sua mãe também é de lá, mas o pai é brasileiro. A menina vai visitar o avô materno, tias e primos. “No Canadá, as crianças não tomam café nem com leite. Também não usam uniforme (nas escolas públicas).” Outra grande diferença é que em algumas regiões do país faz muito frio em boa parte do ano. “Gosto porque brinco na neve.” No dia em que Elis nasceu na cidade de Whitehorse, por exemplo, fazia 30°C negativos!

Emanuelly visita os familiares na Bolívia – onde sua mãe também nasceu – com muita frequência. Sempre passa o Natal lá. Natural de Santa Cruz de La Sierra, a menina veio para o Brasil com 8 meses. Em seu país, gosta de ir à piscina, ao parque e ao zoológico.

Grandes lembranças da terra natal

Os irmãos Rafael Keiji Okagawa, 11 anos, e Lívia Emi Okagawa, 8, guardam grandes recordações do Japão, onde nasceram. Eles vieram para o Brasil com 6 e 4 anos, respectivamente. “Nos feriados, a gente fazia churrasco no parque. Convidava um monte de amigos e parentes”, diz o menino. 

Na época, eles já sabiam português, pois os pais são brasileiros, filhos de japoneses. “Falávamos um pouquinho no Japão para não esquecer”, afirma o garoto.

Alunos da Emeief Carlos Drummond de Andrade, em Santo André, os irmãos também amavam ir para o colégio japonês. “A gente usava um terninho preto e, quando chegava na escola, trocava por um avental azul-claro para não sujar. Tinham muitas aulas de artes. Tenho saudade dos amigos e da professora”, diz Lívia. “Depois do almoço, a gente limpava as mesas e as cadeiras”, completa Rafael. 

Por todos os lados existiam coisas e costumes diferentes dos que têm no Brasil. “Lá não tinha lixo no chão, as ruas eram limpas. No inverno, neva. Para entrar em casa tinha de tirar sempre o sapato”, explica Rafael. 

O menino conta que dormia no futon (tipo de colchão tradicional japonês). Também recorda que sempre visitava parques com a família. “Eram pertinho de nossa casa”, afirma Lívia.

Dá para ajudar o colega

É fácil ajudar o colega que nasceu em outro país a se adaptar mais facilmente à cultura e à rotina no Brasil. Chamá-lo para brincar é um dos modos mais bacanas de se fazer isso. Na verdade, costuma acontecer naturalmente, sem nenhum adulto precisar falar. O legal é que o novo amigo também poderá ensinar divertimentos que você não conhece, mas que são comuns na terra natal dele. Já pensou que sensacional pode ser essa troca de experiências?

Dá ainda para ensinar palavras diferentes em português e pedir para que ele faça o mesmo em sua língua. Só cuidado para não pressionar demais o colega. Ele pode ficar com vergonha e não querer falar. Nesse caso, não dá para obrigá-lo a fazer algo contra sua vontade. 

Na escola, que tal sugerir à professora desenvolver trabalho especial sobre o país do colega, envolvendo toda a classe? Assim, ele se sentirá querido e perceberá que a cultura de sua nação é tão importante quanto a da nossa. Aliás, uma vez por semana, a turma pode pesquisar e conhecer um lugar diferente do mundo. Todos ficarão surpresos com as descobertas!

Não deveria ser necessário lembrar, mas tem gente que esquece que é horrível tirar sarro do colega estrangeiro, seja qual for o motivo. Quem faz isso pode acabar com as chances de fazer novo amigo e aprender infinidade de coisas novas.

É natural ter coração dividido

Quem nasceu em outro país, às vezes, se sente um peixinho fora d’água no Brasil. Natural, e esse sentimento logo passa, principalmente se no meio do caminho surgirem amigos bacanas. De qualquer forma, é importante preservar as raízes e cultura da terra natal. 

Filho de brasileiros, João Alexandre Venancio Bernardo, 7 anos, nasceu no município de Torrevieja, na província de Alicante, na Espanha. Na época, seu pai trabalhava no país europeu. “Lembro de comer paella (prato típico). Minha mãe ainda faz.”

O menino, que estuda na Emeief Tarsila do Amaral, em Santo André, chegou ao Brasil quando tinha cerca de 3 anos. Por isso, não se recorda de muitos detalhes. “A foto que gosto sempre de ver é a que estou no colo do meu pai perto do rio que existe lá.”

Segundo João Alexandre, seu coração é dividido entre as duas nações. “Metade da minha infância passei lá e a outra aqui. Quando tiver 10 anos, tenho vontade de visitar a Espanha”, afirma. 

Os irmãos Rafael Keiji Okagawa, 11, e Lívia Emi Okagawa, 8, também amam o Brasil e o Japão. Já fazem planos para passear pelo país no futuro.

Saiba mais

Não tem feijão na Bolívia. O alimento que as pessoas costumam consumir no país todos os dias é a sopa de diferentes tipos, acompanhada por pão ou mandioca cozida.

Nas escolas públicas do Canadá e da Bolívia, os alunos não recebem merenda como ocorre no Brasil. É preciso levar lanche de casa ou dinheiro para comprar a refeição.

Consultoria da psicopedagoga Sandreilane Cano, especialista e doutoranda em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano pela USP.




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