Figura que carrega sobrenome de peso, a cantora Alice, filha de Danilo e neta de Dorival Caymmi, mergulha na carreira musical e disponibiliza o primeiro disco, homônimo (Kuarup Música, R$ 27,90 em média). Dona de voz encorpada e poderosa, a jovem compositora de 22 anos emplaca dez canções no álbum, das quais oito são autorais.

Alice, que assina a direção artística do CD, poderia ter ficado na cartilha da maioria das novas cantoras. Mas ela se arrisca, demonstra talento e traz à tona harmonias delicadas junto de climas obscuros, desde a capa, em que aparece com rosto todo borrado de tinta, a algumas sonoridades pouco convencionais, como na música Revés.

Talvez seja por isso - pelas texturas obscuras que apresenta -, que tenha decidido regravar a faixa Unravel, da cantora islandesa Björk, sua maior influência depois de sua família, como conta Alice, em entrevista ao Diário. "Ela incorpora artes plásticas, é autêntica, tem posicionamento político, é engajada", diz.

A outra faixa não autoral que a carioca colocou no trabalho é Sargaço Mar, clássico do avô. "Sargaço Mar é a música predileta de meu avô. Ela tem uma visão trágica de relação com o divino. Eu quis fazer uma roupagem nova para essa música. Ela realmente é muito especial", afirma.

Filha, neta e sobrinha de ilustres, Alice conta que as comparações com a família são inevitáveis. Ela diz que acha bom que isso aconteça, por fazer parte de família brilhante, mas que não carrega essa pressão. "Eles me apoiam muito, tia Nana, tio Dory, meu pai. Eles sabem que minha vocação é essa. É uma relação muito bacana", afirma.

Alice conta que as composições ilustram principalmente sua vivência, as coisas que acontecem com ela. "Esse disco representa uma fase da minha vida, uma fotografia desse momento criativo", conta. "Esse trabalho foi colocado em prática em 2008. É o que sempre quis fazer desde que comecei a compor. É um sonho sendo realizado, é o que sempre quis fazer."

O processo para deixar o disco pronto foi rápido. De acordo com Alice, houve um pré-processo no estúdio, apenas com ela e um amigo esboçando e pensando nas coisas todas. "Fiz o disco todo, depois é que veio o produtor. Na segunda fase de trabalho já estava tudo pronto. Eu palpitei em tudo, nos arranjos, timbragens e até na estética do CD. Sou chata", brinca.

Inquieta, ela nem tirou o álbum de estreia do forno e já começa a ficar animada pensando no segundo trabalho. "Vou ver como vai reverberar esse disco. Mas estou doida para começar a criar. Preciso mudar de foco. Já sei para qual caminho irei".