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Segunda-Feira, 29 de Abril de 2024

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Previdência
Dívidas tiram o sono
de 70% dos aposentados

Com queda do poder de compra, segurados têm
que recorrer a empréstimos para despesas básicas

Tauana Marin
do Diário do Grande ABC
25/07/2013 | 07:00
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Divulgação


 Sobreviver com o benefício pago pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) não é tarefa fácil para os moradores do Grande ABC. Na região, cerca de 70% dos aposentados estão endividados. Nas sete cidades há 369.905 beneficiários. Sendo assim, 258.933 daqueles que não estão mais na ativa acumulam dívidas. Entre crédito consignado, cheque especial e cartões, essa fatia da sociedade vê as contas ‘morder’ até 70% da renda mensal. É o que aponta levantamento da Associação dos Aposentados e Pensionistas do Grande ABC.

“O nível de comprometimento do orçamento é ainda maior quando falamos das pessoas que recebem o valor mais baixo pago pelo INSS, de um salário-mínimo, hoje em R$ 678”, conta o diretor da entidade Luís Antonio Ferreira Rodrigues.

Segundo ele, do total de beneficiários na região, cerca de 40% vivem apenas com um salário. “Nesses casos, muitos precisam voltar à ativa realizando trabalhos informais para complementar a renda.” As opções são servente de pedreiro, porteiro, e no caso das mulheres, faxina, cuidar de crianças e trabalhar no comércio.

Com Maria Petronilio de Sá, de 66 anos, não foi diferente. A aposentada de Santo André contribuiu 28 anos com a Previdência Social trabalhando como costureira e bilheteira de uma agência de transportes. Por motivos de saúde, em 2004, entrou com o pedido da aposentadoria mesmo faltando dois anos, tempo mínimo de contribuição para mulheres. O resultado: um salário-mínimo por mês, enquanto que durante o tempo de contribuição ela pagava o equivalente a três salários. De lá até o ano passado, Maria vendia caldo de cana e pastel perto de casa e conseguia renda extra de R$ 1.500. Mas, como voltou a ficar doente, desde 2012, vive apenas com o benefício. “É impossível. Não tenho mais plano de saúde. E, como dependo do SUS (Sistema Único de Saúde), muitas vezes, preciso pagar consulta particular e exames. A sorte é que enquanto vendia caldo de cana consegui guardar parte do que recebia e hoje tiro um pouquinho por mês da reserva.” Diante dos gastos com a saúde, Maria fez um empréstimo consignado, que pagará até 2015. “É descontado R$ 103 todo mês.”

A vida de Regiane Oliveira Alves, 38 anos, também mudou muito após de aposentar. Devido a problemas de saúde, a analista de atendimento viu a renda cair de R$ 1.200 para R$ 678. “ Deixamos de pagar convênio e ao invés de gastar R$ 600 no supermercado, reduzimos para R$ 300. Pagar escola nem pensar, meu filho frequenta a pública.”

No caso dela, o que lhe oferece maior segurança é o fato do marido ser funcionário público. “Mesmo assim, como temos o financiamento da casa, restringimos o consumo.”

PAÍS - Pesquisa realizada pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) em junho confirma tendência apresentada desde o início do ano e revela que a inadimplência no comércio está concentrada nas dívidas com valores acima de R$ 500 e que boa parte dos cadastros negativos concentra-se em CPFs de consumidores com mais de 65 anos de idade (24,22% do total – veja tabela abaixo). O gerente financeiro do SPC Brasil, Flávio Borges, explica que a maior causa do endividamento entre pessoas com mais idade, em geral, aposentadas, é a redução de salário. “Perde-se muito com o fator previdenciário.” Em segundo estão as despesas com saúde, que com a chegada da terceira idade são maiores. “A começar pelo convênio.”

Depois estão a abundância de crédito para quem é aposentado, como o consignado, que oferece taxas de juros menores e é descontado direto da folha de pagamento. “Por fim, muitas vezes, o beneficiário é o único da família que consegue comprovar renda. Filhos e outros parentes acabam fazendo dívidas no nome dessas pessoas, até mesmo pelas vantagens que oferece. Depois, não honram os débitos”, diz Borges.

Segundo ele, os aposentados de hoje viveram numa época bastante diferente. Há pouco mais de 20 anos, o mercado brasileiro era marcado por altos níveis de desemprego e super inflações. “As pessoas não focavam no planejamento financeiro, visando o futuro, como uma reserva ou previdência privada. Concentravam suas forças em conquistar a casa própria.”

Borges aconselha os mais novos a fazer diferente: “A primeira coisa é gastar menos do que se ganha e guardar ao menos três salários como fundo de emergência; depois focar em sonhos concretos, como a compra de um imóvel; e, por último, investir na aposentadoria” – tradicional ‘pé de meia’.

Operações somaram R$ 3,5 bilhões em junho

As operações de crédito consignado realizadas por aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) totalizaram R$ 3,501 bilhões em junho. Em valores nominais – isto é, sem considerar a inflação – o resultado foi 26,74% superior ao mesmo período de 2012, quando foram liberados R$ 2,762 bilhões. Em relação a maio deste ano, quando foram registrados R$ 3,826 bilhões, houve queda de 8,49%.

Em quantidade de operações, junho registrou 976.855 contratos, número 10,41% inferior ao de maio, quando 1.090.361 contratos foram efetivados. Comparando com o mesmo mês de 2012, houve aumento de 22,60%. Em junho de 2012, a quantidade de operações correspondeu a 796.774.

Ao se considerar a margem consignável para empréstimos de até 30% da remuneração líquida dos aposentados e pensionistas, ou de até 10% exclusiva para a modalidade cartão de crédito – cujos juros costumam ser mais altos –, no primeiro semestre, os valores consignados por meio de empréstimo pessoal representaram a quase totalidade das operações de crédito – foram emprestados R$ 3,497 bilhões em 975.361 contratos efetivados.

DESTAQUE - Das operações realizadas em junho, R$ 1,861 bilhão foi disponibilizado na região Sudeste, por meio de 484.986 contratos. São Paulo lidera tanto em volume quanto em quantidade de operações, com R$ 1,028 bilhão em 248.764 contratos.




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