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Sábado, 27 de Abril de 2024

Cotidiano
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Papo feminista
Rodolfo de Souza
14/03/2024 | 09:19
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Seri


Às vezes me ponho a pensar acerca das pessoas de antigamente. Eu mesmo que, por sinal, também sou uma pessoa de antigamente. Talvez seja essa uma das vantagens de se envelhecer, afinal: além da obviedade de se saber vivo, desfruta-se do privilégio de ter espiado o passar dos tempos, ano a ano, década a década. Quem não os viveu, só sabe de seu desenrolar por meio da história contada. E mesmo com a infinidade de canais que nos dias de hoje infestam as telas, as chamadas mídias, só uma ideia de tudo o que se passou vem resvalar o pensamento. Não se pode vivê-los, senti-los de verdade, por mais criativa que seja a imaginação.

É parte, pois, do meu ofício de cronista observar as contingências da vida, esta que tem como protagonista o ser humano. Mania que me acompanha desde os primórdios da minha existência, uma vez que observo o movimento ao meu redor, em que o bicho homem e o bicho mulher são atores num espetáculo cotidiano de variadas performances. Lembrando que a expressão ‘bicho homem’ nos acompanhou por um bocado de tempo até que a mulher, com toda a sua força, finalmente fizesse valer a sua importância. Foi então que ousei um pouco e resolvi, por conta própria, criar a garbosa expressão “bicho mulher”. É possível mesmo que eu tenha pensado nelas quando comecei a escrever estas linhas, em pleno mês consagrado à sua figura, brava figura que tanto fez e tanto faz por este mundo.

Diga-se de passagem, há um murmúrio constante que diz respeito à grande quantidade de parlamentares do sexo masculino, políticos de todos os escalões, em contrapartida ao número reduzido de políticas. Milênios de domínio macho submeteram a mulher à condição de serva, cujo papel era procriar, normalmente em larga escala, cuidar da prole, do marido, da casa... a chamada ‘do lar’. Combinação de palavras que significa viver uma vida desprovida da liberdade de se saber dona do seu próprio nariz. Direito concedido exclusivamente aos homens de então. Isso, sem dúvida, determinou que, para sempre, fosse dado à mulher o que era da mulher.

No entanto, mesmo debaixo de muita resistência por parte de uma sociedade conservadora masculina, elas não se fizeram de rogadas e os dissabores que carregavam de longa data não foram suficientes para detê-las. Antes, teriam fortalecido o seu engajamento na luta por justiça.

Falo com propriedade sobre o assunto, porque eu testemunhei, em épocas passadas, a mulher, ainda jovem, se encher de entusiasmo para revelar às amigas que ia deixar o emprego, porque fora pedida em casamento e que, portanto, a partir das núpcias, viveria para o lar. Não sabia, a infeliz, que trabalharia em dobro e sem remuneração, previdência, fundo de garantia, direito a férias...

Mas os tempos agora são outros, embora saibamos que alguma coisa vem sabotando a busca pela igualdade, e me parece que mentes conservadoras ainda veem com saudosismo os bons anos da rainha do lar.

Vejo mesmo com alguma apreensão esses novos rumos em que uma forte tendência ultradireitista pode sufocar uma luta que se arrasta por décadas, e que fatalmente levará a um retrocesso de tudo o que foi conquistado até aqui.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André.
É professor e autor do blog cafeecronicas.com




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