Existem alimentos que seguramente nos trazem benefícios, tais como grãos integrais, hortaliças e legumes, ricos em fibras que resistem às nossas enzimas digestivas, mas são muito bem aproveitadas por nossa flora intestinal para a produção de substâncias, que ganham a corrente sanguínea e beneficiam muitos setores orgânicos, especialmente o metabolismo da glicose.

De outro lado, o leite e seus derivados flutuam entre o céu e o inferno das orientações dietéticas, aclamados como fontes substanciais de cálcio e outros minerais, proteínas, carboidratos e gorduras, são também questionados por se relacionarem com intolerâncias a seus componentes, notadamente seu açúcar, a lactose, e suas proteínas, particularmente a caseína.

Existe debate em curso quanto a possibilidade de maior incidência de diabetes tipo 1 em crianças expostas precocemente ao leite de vaca, processo que seria mediado pelo sistema imunológico, o qual responderia com estranheza às proteínas do leite de vaca e erroneamente estenderia a agressão para o universo de células pancreáticas produtoras de insulina, para sua completa destruição. 

De qualquer modo, com o embate longe de ser concluído, deve ficar o estímulo ao aleitamento materno exclusivo ao menos até os 6 meses, porém, sem jamais sugerir sua retirada do cardápio juvenil a partir deste período, pois, o leite, naqueles que não possuem restrições a seus componentes, é alimento completo e imprescindível para o crescimento saudável.

Nesta mesma seara, houve um importante acontecimento na última semana, pois, o FDA (Food and Drug Administration), agência americana reguladora de alimentos e drogas (fármacos e inúmeros produtos), referência internacional neste plano, permitirá que os fabricantes de iogurte anotem em seus rótulos que este alimento pode prevenir o diabetes tipo 2.

A FDA respaldou sua decisão sob a métrica da revisão de 28 estudos que mostram evidências que pessoas que consomem mais iogurtes possuem menor probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2, muito embora não faltem pesquisas que contestem estes números.

O iogurte é resultado da ação de bactérias específicas no leite, transformando a maior parte da lactose em ácido láctico, que sequencialmente propicia a coagulação das proteínas lácteas, encadeamentos que fornecem virtudes adicionais que modificam o sabor e provavelmente auxiliem a flora intestinal.

O diabetes tipo 2, diferentemente do tipo 1, possui a população de células produtoras de insulina, contudo, este hormônio é atrapalhado em sua ação de entrega de glicose nas células, comumente por substâncias originadas no excesso de gordura, o que promove produções crescentes de insulina até a falência pancreática.

É possível que as bactérias presentes no iogurte possibilitem melhor status para a flora intestinal e seu consumo frequente estimule a produção de substâncias benéficas para o controle glicêmico. Mas, é ainda viável aceitar, que consumidores habituais de iogurtes são mais afeitos a comportamentos saudáveis que os protegem da obesidade e sua propensão para o diabetes tipo 2.

Na dúvida, iogurte três vezes por semana, preferencialmente natural, podendo ser misturado com frutas, ou mesmo com um fio de mel!

Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia.