Externamente, os ventos não eram desfavoráveis: a economia norte-americana diminuíra um pouco o ritmo de crescimento, mas oferecendo sinais de uma aterrissagem suave, e os preços do barril de petróleo se mantinham relativamente estáveis no mercado mundial.
Havia, portanto, razões para acreditar que a economia brasileira poderia manter aquele ritmo de crescimento e até mesmo ampliá-lo em 2001. Mas não foi bem assim.
Reversão – Os fados e alguns equívocos importantes na condução da política econômica brasileira logo iriam reverter a expectativa de crescimento que se tinha nos primeiros meses do ano que termina. No primeiro trimestre houve uma seca que afetou a produção agrícola, produzindo um choque de oferta que pressionou alguns preços, especialmente no setor de hortigranjeiros.
Choques como esses não podem ser neutralizados com elevação das taxas de juros, mas o nosso guardião da moeda se assustou e abandonou a sadia política de redução da taxa básica. Em março, o Banco Central elevou substancialmente a taxa de juros, de uma forma equivocada, um pouco talvez pressionado pelo agravamento dos problemas de nossos vizinhos argentinos, o que introduziu um clima de incerteza nos setores produtivos.
O que era incerteza transformou-se em desânimo nos meses de abril e maio, quando se constatou que era inevitável o racionamento de energia e se assistiu ao governo admitir, confusamente, que foi surpreendido pela crise. Sem a segurança no fornecimento de energia, o setor industrial reduziu dramaticamente a produção e logo os índices de desemprego voltaram a crescer.
Atentado – Em setembro, o atentado terrorista nos Estados Unidos complicou de vez a situação, produzindo uma onda de mal-estar que se espalhou pelo mundo, atingindo em cheio o comércio internacional, adiando investimentos, reduzindo o crescimento industrial e causando prejuízos ainda difíceis de dimensionar em setores como transportes e turismo, especialmente.
Com todas essas dificuldades, de origem interna e externa, o Brasil termina o ano com um crescimento do Produto Interno Bruto em torno de 2%, contra a expectativa inicial de 4% ou 4,5%.
O resultado da inflação, tendo superado ligeiramente a meta do Banco Central, ficou dentro do razoável, próximo dos 7%.
Nessas circunstâncias, não há muito a ser comemorado, muito embora terminemos este ano com uma certa sensação de alívio, em contraste com o sentimento que ainda era dominante há apenas algumas semanas, quando se temia o alargamento do conflito militar além das fronteiras do Afeganistão.
Normalidade – Não tendo acontecido o pior, é de se esperar que os negócios mundiais caminhem aos poucos para a normalidade e que a economia norte-americana confirme as previsões de sair da recessão no segundo ou terceiro trimestre de 2002. O Brasil, tendo perdido o objetivo do crescimento em 2001, pode melhorar sua performance em 2002, graças ao crescimento da produção agrícola e ao aumento das exportações.
O câmbio flutuante permitiu o resultado mais positivo da economia este ano ao impulsionar as exportações e favorecer a substituição de importações, melhorando as condições do balanço de pagamentos.
Além dos fatores externos, a possibilidade de maior crescimento econômico em 2002 depende de acertos na política monetária (maior oferta de crédito e menor taxa de juros estão entre esses fatores), da regularização da oferta de energia e da ampliação dos estímulos às exportações. Nada nos autoriza, contudo, a pensar em um crescimento superior a 2,5%, devido ao alto grau de vulnerabilidade externa de nossa economia.
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