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Sábado, 27 de Abril de 2024

Governistas terao dificuldades para barrar investigaçao
Do Diário do Grande ABC
16/04/2000 | 19:10
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A possibilidade de o processo de impeachment ser aberto ainda nesta semana pela Câmara Municipal de Sao Paulo dividiu os vereadores que integram a base de sustentaçao do Executivo, dificultando a definiçao de uma estratégia para barrar o início das investigaçoes já na sessao de terça-feira à tarde. Essa dificuldade existe porque, além de uma parte dos vereadores governistas já ter declarado voto contra o prefeito Celso Pitta (PTN), os que temem a instalaçao da Comissao Processante ainda temem dizer nao em plenário por causa do inevitável desgaste político-eleitoral que terao de enfrentar.

Além do secretário do Governo Municipal, Carlos Meinberg e alguns poucos vereadores aliados, Pitta assumiu pessoalmente a articulaçao.

Desde quinta-feira à tarde, o prefeito e os seus operadores políticos têm procurado os parlamentares mais resistentes para tentar convencê-los a "discutir tecnicamente" a questao.

A intençao é mostrar que o relatório assinado pelo vereador Brasil Vita (PPB), aprovado por Wadih Mutran (PPB) e Ivo Morganti (PMDB), rejeitou juridicamente todos tópicos da extensa denúncia apresentada pela seçao paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP). Ao mesmo tempo, apresentarao o voto em separado das oposiçoes na Comissao Especial, que foi aprovado graças ao voto do vereador governista Natalício Bezerra (PTB).

A intençao de Pitta, segundo alguns governistas, é mostrar que os próprios vereadores serao alvo das investigaçoes, pois foram incluídos pelos vereadores do PT, PSDB e do PL - respectivamente Arselino Tatto, Gílson Barreto e Cármino Pepe.

Se conseguir convencer os parlamentares resistentes, o governo nao terá mais do que duas alternativas. A primeira é pedir que garantam o quórum de 33 votos para o relatório ir a voto, depois terá de ter um grupo que vote contra e, na pior das hipótes, garantir número necessário de abstençoes ou ausências para que a oposiçao nao consiga os mínimo de votos necessários para aprovar o início do processo.

Um dos vereadores procurados pela tropa de choque "pittista" - o nome do interlocutor nao foi revelado - foi o vereador Mílton Leite (PMDB). Ele, que já declarou-se favorável ao início das investigaçoes na Câmara, recebeu um telefonema, antes do início da tarde deste domingo. "Você aceita discutir, tecnicamente, os dois relatórios da Comissao Especial com o Executivo?", perguntou o interlocutor do governo. " Nao. Já tomei a minha decisao", respondeu Leite. "Tá bom", disse o interlocutor do governo. A conversa foi confirmada por vários parlamentares da base governista. Leite nao foi localizado para confirmá-la.

Os vereadores pemedebistas tornaram-se os mais importantes para o governo na luta contra o início do processo de impeachment. Com uma bancada de 10 parlamentares, o partido passou a ser uma peça chave porque poderá decidir a votaçao prevista para terça-feira.

Desde sexta-feira, comenta-se na Câmara que a vereadora Myryam Athie (PMDB), que está doente, estaria sendo pressionada pelas facçoes pró e contra as investigaçoes. Em nota oficial distribuída semana passada, Myryam afirmou que seguiria a orientaçao dos diretórios Municipal e Estado do PMDB e votaria a favor do início do processo.

Depois dessa declaraçao, Myryam teria sido procurada em sua por dois companheiros de partido para mudar de posiçao ou ausentar-se na sessao. Procurada pela reportagem, Myryam nao foi localizada e nao retornou o recado deixado em sua secretaria eletrônica.

O vereador Miguel Colasuonno (PMDB), que já havia dito que a princípio votaria a favor das investigaçoes e agora está reavaliando a sua posiçao, está ajudando o Executivo a tentar abortar o processo. Ao ser questionado como seria o seu voto se a sessao fosse hoje (ontem), respondeu: "Provavelmente, reagiria contra".

Novamente perguntado se isso significa votar contra o impeachment, Colasuonno saiu-se com essa: "Votar contra é conseqüência." Colasuonno passou a defender a tese de que a inclusao de nomes de alguns vereadores no relatório realizado pela oposiçao na Comissao Especial manterá a Câmara Municipal "injustamente" no atual processo político.

"A abertura de uma Comissao Processante vai manter a Câmara como bode expiatório e servir de palanque político-eleitoral para o PT e o PSDB durante 90 dias", argumentou Colasuonno. "A Câmara precisa ser preservada, parando, com coragem e coerência, esse festival de politicagem."

Os diretórios Municipal e Estadual do PMDB, que tentaram preservar a imagem do partido orientando os vereadores a votar a favor da admissao da denúncia da OAB-SP, devem convocar uma nova reuniao para o início da noite desta segunda. De acordo com parlamentares que integram a executiva municipal do partido, a intençao é fechar questao pelo início das investigaçoes.

No PPB, o ex-partido de Pitta que ainda é controlado pelo ex-prefeito Paulo Maluf, a maioria deve apoiar o prefeito. Há, entretanto, dissidências estimuladas por causa da pressao popular.

Entre os dissidentes, está o ex-secretário das Administraçoes Regionais e vereador pelo PPB, Domingos Dissei. Ele assumiu posiçao favorável ao início das investigaçoes. "Votarei a favor, até porque acho que será uma chance de o prefeito provar a sua inocência em relaçao a todas essas denúncias", justificou.

Ele disse que, como passou a maior parte do fim de semana fora de Sao Paulo, nao conversou com nenhum representante do governo ou integrante da base governista.

A oposiçao, que tem de conseguir pelo menos 33 votos para conseguir iniciar o processo de impeachment, nao está prevendo nenhuma grande estratégia. Promete os tradicionais atos públicos e um grupo mais isolado estuda uma açao judicial, para anular a sessao em caso de derrota em plenário alegando que parlamentares com interesse próprio em envitar as investigaçoes votaram contra e teriam de declarar-se impedidos, como determina o Regimento Interno da Câmara. Com isso, assumiriam os suplentes. Sem vínculo com o governo municipal, poderiam dar a vitória para a oposiçao.




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