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A demência além do Alzheimer
Antonio Carlos do Nascimento
19/06/2022 | 20:17
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Faz pouco tempo que o diagnóstico de demência era compreendido como resultado natural do envelhecimento, proporcionado pelo enrijecimento dos vasos sanguíneos arteriais e comprometimento da oxigenação e nutrição do cérebro. Então, idoso que evoluísse progressivamente com esquecimento e dificuldades para articulação de ideias seria diagnosticado com demência senil.

Embora o médico Alois Alzheimer tenha descrito, em 1906, alterações cerebrais microscópicas, dentro e no entorno de neurônios do cérebro de um paciente que morrera aos 56 anos, com quadro demencial, faz apenas três décadas que passamos a compreender que esta é a causa mais comum de demência.

Todavia, não demorou para que passássemos a cometer novo equívoco conceitual, pois qualquer deficit de memória e conjugação do pensamento passaria a receber diagnóstico de doença de Alzheimer.

O fato é que a doença de Alzheimer é responsável por aproximadamente dois terços dos quadros demenciais e infelizmente pouco podemos fazer para reverter sua evolução, enquanto o restante possui causas vasculares, de depósito, tóxicas, traumáticas, assim como outras doenças degenerativas.

O comprometimento vascular é a segunda causa mais frequente de demência, desde as lesões da microvasculatura patrocinadas pelo tabagismo, diabetes, dislipidemias (níveis altos de colesterol e triglicerídeos) e hipertensão, até os quadros de acidentes vasculares isquêmicos e hemorrágicos, provenientes dos mesmos transtornos anotados acima.

A terceira causa mais comum de demência resulta de modificações na estrutura da sinucleína, proteína presente dentro dos neurônios envolvidos na cognição, promovendo depósitos arredondados conhecidos como corpos de Levy. O acúmulo progressivo dos corpos de Levy resultará na disfunção completa destas células nervosas, contudo, assim como no Alzheimer, existe pouco a ser feito, além das medidas de apoio. 

A toxicidade do tecido nervoso provocada pelo consumo abusivo e crônico de álcool (e outras drogas), traumas cranianos frequentes, como observados em alguns esportes, notadamente boxe (e derivantes) e outras doenças específicas, respondem pelo restante das causas dos quadros demenciais.

Ao menos para as causas vasculares, podemos fazer muito para impedir esses desfechos, pois originam-se de patologias tratáveis, porém, muitos estudos sugerem que os cuidados com dieta, exercícios, sono e não fumar, padrão ouro da proteção vascular, protejam-nos também de desenvolver Alzheimer.

Em tempos que o tabagismo diminui vertiginosamente, enquanto a utilização de outras drogas e hormônios de toda a sorte aumentaram proporcionalmente inúmeras vezes mais, é difícil vislumbrar como serão as velhices futuras.

De todo modo, envelhecer é um privilégio, que chegará à plenitude apenas para alguns, ensejo que aproveito para citar Millôr Fernandes: “Qualquer idiota consegue ser jovem. É preciso muito talento para envelhecer”.




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