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Chiclete com banana
Por Carlos Brickmann
27/04/2022 | 13:12
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Lula, dizem as pesquisas, tem ampla vantagem sobre Bolsonaro, até com a possibilidade, na margem de erro, de ganhar em primeiro turno. Dúvida: como é que um candidato em primeiro lugar nas pesquisas tem a campanha em crise? E a crise é séria: Franklin Martins, amigo de fé e irmão camarada de Lula, pai do controle social da mídia (nome que os petistas dão à censura e que o candidato já anunciou que irá implantar), foi varrido: a comunicação da campanha fica nas mãos de Jilmar Tatto e Gleisi Hoffmann, que entendem do tema tanto quanto de física quântica. A coordenação do setor deve ficar com o prefeito de Araraquara, Edinho Silva – amável, articulado, simpático. E tem alguma experiência na área: foi ministro da Comunicação de Dilma, no mandato em que as manifestações antipetistas se avolumaram e Dilma foi impedida. O fato é que, na hora de agir, o PT optou pela disputa interna.

O marqueteiro escolhido é Sidônio Palmeira, o mesmo que cuidou da campanha derrotada de Fernando Haddad, em 2018. É a chance de devolver a Jair Bolsonaro a surra que o PT levou nas últimas eleições.

E Lula? Está estranho. Um amigo pessoal de mais de 40 anos, o jornalista Ricardo Kotscho, que foi seu primeiro secretário de imprensa na Presidência, não consegue falar com Lula nem com ninguém do comando do PT há uns bons seis meses. Por que? Boa pergunta. Kotscho nota também a diferença na organização da campanha: em outras épocas, já estaria tudo pronto.

Banana com chiclete
Decisões simples estão atrasadas. O lançamento da pré-candidatura foi adiado quatro vezes. Agora está marcado para 7 de maio. Até lá alguém terá de convencer Geraldo Alckmin, o candidato a vice, de que seu papel não é fingir-se de petista, o que fica ridículo. O papel do vice é repetir José Alencar: mostrar que Lula tem apoio fora da esquerda. E aí mobilizar a militância petista, que sempre ocupou as ruas, para mostrar que o candidato a entusiasma. Hoje parece que o menos entusiasmado é Lula.

Leite Moça na picanha
Bolsonaro repete sua tática: escolhe um tema que não tem nada com nada e o discute como se importante fosse. Como o voto impresso: até hoje ninguém se queixou de perder por fraude nas urnas. Mas Bolsonaro se queixa e chegou a dizer que sua própria eleição foi fraudada. Na verdade, teria ganho no primeiro turno. A tática é descrita num livro interessantíssimo, Os Engenheiros do Caos, de Giuliano Da Empoli, sobre o estilo de campanhas eleitorais dos fascistóides que venceram poder na Hungria, na Itália (governo anterior), na Polônia. Crie sua pauta, por ridícula que pareça, e a divulgue ao máximo, usando os que mugem em uníssono e os robôs. Esses temas dominam o debate e coisas incômodas para os engenheiros do caos são esquecidas; rachadinhas, funcionários fantasmas, cheques de R$ 89 mil, milicianos. Criando caso sobre o deputado Daniel Silveira, evitou-se a discussão sobre compras maciças de Viagra, Cialis, próteses penianas. A campanha vai por aí. O chefe é o filho 02. E que equipe ele tem!

Goiaba com ketchup
Teremos de torcer muito para surgir um candidato mais aproveitável à Presidência. Em compensação, temos boa chance de votar em candidatos de qualidade para deputado estadual, deputado federal e, talvez, até em um ou outro pretendente ao Senado. Mas é preciso tomar cuidado: avaliar bem para não votar em algum maluco ou em pessoas que já demonstraram ser incapazes. A ex-ministra da Mulher, Damares Alves, quer ser candidata ao Senado, por Brasília – concorrendo com a também ex-ministra Flávia Arruda, ambas, uma em cada partido, com Bolsonaro. Sejam bolsonaristas ou petistas, verifique o passado do candidato: se não se livrou do Petrolão ou coisa parecida apenas por procedimento processual, não por inocência; se não está envolvido em rachadinhas – contratar, com dinheiro público, assessores desnecessários, e obrigá-los a devolver a maior parte do salário ao parlamentar que o contratou – nem com atividades de milicianos.

O rei do gado
Lembra do general Pazuello, que ocupou o Ministério da Saúde? Num dia ele assinou um compromisso de compra de vacinas e no dia seguinte desistiu, porque Bolsonaro mandou (e ainda explicou: “um manda, outro obedece”). Bolsonaro é ótimo para descobrir esse tipo de gente: agora, no Rio Grande do Sul, estava no palanque e determinou ao ex-ministro Tarcísio de Freitas que subisse. Tarcísio não queria, Bolsonaro foi terminante: “Eu estou mandando”. Tarcísio subiu na hora. Um detalhe: Bolsonaro não é mais seu chefe. Mas ele obedeceu. Uma dúvida: Tarcísio foi também alto funcionário de Dilma Rousseff. Se ela lhe desse a ordem, ele cumpriria? Tarcísio é o candidato de Bolsonaro ao governo paulista. Entende-se: se ambos fossem eleitos, Bolsonaro teria um governador bem obediente. E o lema de São Paulo, “não sou conduzido, conduzo” (Non Ducor Duco), onde ficaria? 




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