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UFABC instala sistema para gerar
energia solar

Usinas fotovoltaicas dos campi de Santo André e São Bernardo conseguiriam abastecer mensalmente 330 residências

Anderson Fattori
Do Diário do Grande ABC
25/08/2021 | 00:01
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André Henriques/ DGABC


A UFABC (Universidade Federal do ABC) coloca em operação até o fim de setembro duas usinas fotovoltaicas em seus dois campi, em Santo André e São Bernardo. A ideia é captar a luz do Sol para desonerar a conta de energia elétrica da instituição, além de oferecer, na prática, conhecimento sobre a geração de energia limpa. Em 2019, antes da pandemia, quando o centro universitário funcionava integralmente, o custo médio mensal com a conta de luz nos dois campi era de R$ 390 mil e a expectativa é que o novo sistema de geração de energia consiga reduzir a fatura de 11% a 15%, ou seja, gerar economia de ao menos R$ 43 mil por mês.

As duas usinas juntas têm 663 kWp (kilo-watt-pico) de capacidade e vão produzir 66 mil kWh/mês com nove subsistemas instalados nos telhados dos edifício. O sistema teria condição de abastecer mensalmente 330 residências de porte pequeno a médio ou manter acesas 275 mil lâmpadas de LED em iluminação pública. Em dias ensolarados, a expectativa da instituição é que os módulos fotovoltaicos entreguem tensão contínua de aproximadamente 600 volts, que posteriormente será convertida em tensão alternada de 220 volts para ser compatível com a rede elétrica comum das edificações.

A instalação das usinas e a troca de lâmpadas fluorescentes pelo modelo de LED, que são mais econômicas – etapa que começou em 2016 –, contaram com investimento de cerca de R$ 5,5 milhões e as atividades de pesquisa e desenvolvimento da universidade receberam aportes de outros R$ 2 milhões. O financiamento tem como origem convênio firmado entre UFABC e a Enel, no qual a operadora do serviço de energia fez o investimento financeiro, como participante de projeto de eficiência energética conduzido pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).


Celso Carlos Soares Spuhl, subprefeito do campus de Santo André da UFABC, observa sistema que está pronto
e deve entrar em operação em setembro.
Foto: André Henriques/ DGABC

“Como a UFABC é uma instituição federal, a instalação dos painéis e do sistema como um todo exigiria processo licitatório. Essa foi uma das razões da parceira com a Enel e com a Aneel para viabilizar o projeto”, explicou o professor do curso de engenharia de energia da universidade Ricardo da Silva Benedito, que é o coordenador técnico do projeto.

De acordo com o docente, além de ajudar a diminuir os custos com a conta de luz, os painéis também farão parte da grade dos cursos de engenharia elétrica, engenharia de instrumentação, automação e robótica, além de engenharia ambiental e urbana. “Não será um sistema voltado exclusivamente na economia de energia elétrica da instituição, mas também será importante no currículo de cursos e também como um centro de dados solarimétrico (irradiação solar), algo que não tínhamos no Grande ABC. As informações coletadas por nós, por meio de sensores específicos que medem com precisão o tempo de Sol que temos por dia, por exemplo, podem servir de fonte para a execução de outros projetos da região”, finalizou Benedito.  

Objetivo é que projeto motive poder público e consumidores

A ideia é que as usinas instaladas na UFABC (Universidade Federal do ABC) possam servir de incentivo para que o poder público, estabelecimentos comerciais e consumidores em geral passem a considerar a ideia de gerar sua própria energia. De acordo com o professor do curso de engenharia de energia da universidade, Ricardo da Silva Benedito, responsável pelas usinas do centro universitário, o custo da implantação dos sistemas assusta, mas compensa a longo prazo.

“Ainda falta informação técnica de qualidade para que as pessoas possam vislumbrar a economia. Se o investimento for de R$ 30 mil, em cinco ou seis anos é possível recuperar o que foi gasto e depois usufruir da economia por pelo menos 25 anos. Vale a pena, ainda mais em um momento com a energia elétrica cada vez mais cara, com variações que dependem da questão dos níveis dos reservatórios, inflação, entre outras decisões de agentes públicos que podem interferir na conta de luz”, comentou o professor.

Ricardo explica que atualmente os sistemas das usinas fotovoltaicas são eletrônicos e o maior risco é que algum componente queime, principalmente o inversor de corrente, que é o equipamento que transforma a corrente contínua captada pela energia solar em alternada, que é a utilizada nas edificações. “Uma peça como o inversor é cara e pode chegar a 20% do valor do projeto, mas não significa que queimou você joga fora. É possível fazer as substituições de componentes, como em qualquer outro aparelho eletrônico. Normalmente é possível arrumar”, argumentou o professor.

O valor para a instalação de um sistema de energia solar, seja em residências ou comércios, varia de acordo com o tamanho e a necessidade, já que os projetos são desenvolvidos de forma personalizada de acordo com o gasto mensal com a energia elétrica. Para se ter uma ideia, o proprietário de uma casa com dois dormitórios e que gasta, em média, R$ 250 por mês com a conta de energia elétrica teria que investir algo em torno de R$ 17 mil para gerar sua própria energia, reduzindo a conta à tarifa mínima, que pode chegar a R$ 25. Assim, com economia de R$ 225 por mês, o consumidor iria recuperar o investimento em pouco mais de seis anos.

Subsídio para quem já tem painéis solares vai até 2045

A Câmara aprovou no dia 18 de agosto texto de projeto que acaba gradualmente com subsídios para consumidores que produzem a própria energia. Acatada por 476 votos favoráveis e três contrários, a proposta mantém a isenção de encargos para quem já possui painéis solares até 2045. Já para os novos, a cobrança das taxas será gradativa, a partir de 2023, e até 2029 todos os encargos deverão ser integralmente pagos. 

“Quando a pessoa instala um sistema de captação de energia, ela envia tudo para a rede da distribuidora, que faz o cálculo do que foi gerado e consumido para emitir a conta daquele consumidor. O que as empresas estão querendo é cobrar pelo uso deste sistema e dos fios. Atualmente, quem tem pago esse custo das pessoas que têm sistemas geradores de energia é o consumidor comum, por meio dos reajustes das tarifas”, explicou o professor do curso de engenharia de energia da UFABC (Universidade Federal do ABC) Ricardo da Silva Benedito. 

A votação do tema na Câmara foi possível após o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos-MG) apresentar proposta de “consenso”, aceita pelas entidades do setor, Ministério de Minas e Energia e a Câmara. Nos últimos meses, embate entre as distribuidoras e associações do setor impediu que o texto fosse votado. Apesar de entrar na pauta mais de 20 vezes, o texto nunca chegou a ser analisado. A medida teve apoio de todos os partidos e o projeto segue agora para o Senado, sem data para ser apreciado.

“Nós iniciamos com um debate absolutamente acirrado, com dois polos se confrontando sobre a proteção do consumidor cativo (população em geral que é atendida pelas distribuidoras) e a proteção dos investidores em energia solar e chegamos agora a texto de consenso, assinado por todas as entidades representativas tanto das distribuidoras como das (produtoras de) energias solar”, afirmou o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM).

O projeto prevê que consumidores que solicitarem acesso à rede das distribuidoras até 12 meses após a publicação da nova legislação também serão beneficiados com a isenção de encargos e taxas até 2045. Já para os novos consumidores, o repasse dos encargos começa em 15% em 2023 e assim gradativamente até atingir 100% em 2029. Os custos serão suportados pela CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), fundo setorial usado para bancar subsídios para diversos segmentos, como irrigadores e empresas de água e saneamento. Só neste ano, o total de subsídios embutidos nas contas de luz vai atingir R$ 19,6 bilhões.

O texto não deixa claro sobre como a conta será paga na prática. O projeto de lei define que as diretrizes serão definidas pelo CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) em até seis meses e calculadas pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).




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