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Cotidiano
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E o pensamento voa
Rodolfo de Souza
25/07/2021 | 00:01
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Talvez porque faça parte da minha estrutura genética a dádiva do pensamento, procuro exercitá-la como se exercita os músculos. Considerando, claro, que o cérebro humano tenha sido concebido, a princípio, para pensar, a despeito de outras funções, da mesma forma, essenciais. Assim, quando exercitamos a mente em busca da informação apurada, do conhecimento, estamos ampliando e fortalecendo a nossa capacidade de reagir de forma sensata aos fenômenos que nos acometem diariamente.

E, diante da realidade caótica, à qual estamos submetidos aqui debaixo desta imensa lona, pensar se tornou hábito um tanto mais profundo, com o qual convivo madrugada adentro quando o sono se vai. O que acontece com alguma frequência, tendo em vista os cataclismos que fazem estremecer nossos nervos, dia a dia. É a peste da miséria, é a peste da mentira, é a peste do ódio, é a peste da violência, é a peste.

Ponho-me, volta e meia, a pensar, por exemplo, nas mirabolantes desculpas para se tentar explicar o inexplicável. Atitudes a que muitos seres destituídos de um fiapo de vergonha se sujeitam. Falo de homens flagrados espancando suas companheiras, que choram na cadeia, dão uma desculpa qualquer e se dizem arrependidos. Há também aquele que ataca a Suprema Corte e a democracia do País, e depois assume postura semelhante quando a água lhe bate no queixo. Tem o gatuno que se empenha para ganhar um extra à custa da morte de centenas de milhares, contratando atravessadores para vender vacinas pelo dobro ou pelo triplo do preço. E tem o indivíduo que fomenta tudo isso.

E as denúncias se avolumam e fazem lambuzar os beiços o jornalismo sério, que investiga e corre em busca da verdade.

Indiscutivelmente muitas são as patifarias que permeiam o fabuloso universo da mente humana. Fico ainda a refletir acerca do apetite incontrolável pela riqueza. Logicamente que a condição social do pobre não lhe permite sonhar com isso. Mas se o destino presenteia o homem com a possibilidade de acumular algum bem, a obsessão pode, em dado momento, não lhe permitir uma parada, um instante de sensatez que talvez possa reverter o quadro de gula extrema, sobretudo se o ganho fácil lhe estiver às mãos.

Imagine, por exemplo, um ministro de Estado que tenha um soldo vultuoso, e que mais vultuoso se torna quando somado ao gordo salário governamental, que as mordomias acrescentadas tornam ainda maior. Sem dúvida isso deve lhe proporcionar um estilo de vida de causar inveja em muitos funcionários públicos de mesmo nível de outros países.

Mas todo esse luxo rapidamente se torna costumeiro e deixa de ser assim tão atraente, como no tempo em que ainda era novidade. E, como se fosse uma droga, o volume de bens acumulados e a vida abastada se tornam insuficientes para o seu deleite. É preciso mais. Seus olhos gordos, então, ficam cegos para a miséria reinante à sua volta. Procura desviar da mente pensamentos vis que lhe exponham a pobreza de seu povo, a derrocada do seu País e as lágrimas que sua gente derrama e derramará por causa de suas atitudes enquanto governante.

E o cérebro entorpecido finge não saber que não viverá o suficiente para gastar toda a riqueza espoliada. Torna-se, pois, refém dela, que lhe sopra constantemente no ouvido a sua condição de deus imortal. 




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