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Entrevista da Semana
‘A população pode contar com a PM’

Gilson Hélio Jesus dos Santos (coronel Hélio), comandante da Polícia Militar no Grande ABC

Ana Beatriz Moço
Do Diário do Grande ABC
19/04/2021 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Nomeado comandante do CPA/M-6 (Comando de Policiamento de Área Metropolitano 6) há uma semana, o coronel Gilson Hélio Jesus dos Santos afirma que em sua gestão pretende “estreitar a relação da Polícia Militar com a comunidade” e afirma que isso depende, em parte, da valorização dos profissionais do setor, objetivo o qual se compromete realizar. Com 36 anos de profissão, coronel Hélio mantém bons laços com o Grande ABC, já que foi o responsável pela implantação do Baep (Batalhão de Ações Especiais) na região, em 2019, e avalia que o serviço tem parte na baixa dos índices criminais.

Qual a trajetória do senhor na Polícia Militar?

Desde o fim da adolescência eu já tinha essa vontade de ser policial militar, mas não tinha muita condição de estudar. A carreira militar sempre me chamou muita atenção, pela conduta. E comecei a trabalhar muito cedo, com 15 anos, e fiz serviço de muitas coisas. Trabalhei em canteiro de obras, fábrica de óculos, e fui vender calça jeans no Brás, para ganhar um salário mínimo, que usava todinho para pagar o curso para entrar na PM (Polícia Militar). Aí fui trabalhar como repositor de mercado, porque ganhava dois salários mínimos, para finalizar o processo. Prestei para polícia e entrei, aos 19 anos. Com 20 anos entrei na corporação como soldado. Fiz concurso e curso para soldado, cabo e sargento, e só depois de cinco anos que passei para o Barro Branco (academia de curso superior para formação de oficiais), quando já estava como segundo sargento. Fiz todas as escolas. Depois que fui para a de oficiais fiz ainda curso para ser major e depois para coronel. Como soldado e sargento trabalhei na Zona Leste, na Capital, e na Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Quando me formei no Barro Branco, fui servir o Batalhão de Choque, onde fiquei por dez anos, também passando pela Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas), e voltei para a Rota como tenente, fui promovido a capitão e tive uma passagem pelo Copom (Centro de Operações da Polícia Militar do Estado de São Paulo); ainda tive o prazer de servir por dois anos como instrutor do Barro Branco. Antes de vir para cá, por exemplo, como major, era chefe da divisão operacional do CPC (Comando de Policiamento da Capital), que cuida de todo o policiamento de São Paulo, então era o responsável por toda a parte operacional e, talvez pela trajetória, recebi o convite para formar aqui na região o Baep (Batalhão de Ações Especiais da Polícia Militar), e agora o comando do CPA/M-6.

E como foi implantar o Baep no Grande ABC?

Fiquei no Baep por dois anos e um mês. Cheguei no batalhão no dia 18 de março de 2019, e o trabalho começou na rua efetivamente no dia 8 de abril. Vim para cá justamente com a missão de treinar e executar esse projeto, mas ainda como major. Fui promovido a coronel depois, em maio. Foi minha primeira passagem no Grande ABC. Até vinha para cá quando estava no Choque, na Rota e Rocam, para ações, mas trabalhar aqui, diretamente, só no Baep, e agora, como comandante.

Como o senhor recebeu a indicação para comandar o policiamento no Grande ABC?

Vir para cá foi a realização de um sonho. Obviamente, quando temos a ideia de nos tornar oficial, temos entre os sonhos, pelo menos, comandar um batalhão. Gosto da parte operacional e de exercer a liderança. Foi uma realização, tanto comandar o Baep, que é um batalhão e de ações especiais, como assumir o comando da região. É um privilégio muito grande.

Qual a diferença, sobretudo ao senhor, que veio de policiamento ostensivo de rua, estar, agora, em função administrativa?

Tem uma diferença muito grande. A gente gosta dessa parte operacional, de estar nas ruas, se envolver e colocar em prática. Porém, a partir do momento em que vamos atingindo esses níveis de cargo, obrigatoriamente tem de mudar um pouco o foco. E o comando tem o papel de olhar o macro. O que a gente pode fazer para facilitar, contribuir e melhorar esse tipo de prestação de serviço à população? Não só na forma que fazemos, mas também o que precisamos para exercer bem, tanto em questão de equipamentos como treinamentos. E com a experiência começamos a ter visão mais ampla disso, de como é estar na ponta da linha, e o porquê de estar ali. Planejar como fazer o policiamento e o que a população quer, facilita pela experiência. Faz parte do processo.

E qual o principal desafio em ser coronel e, sobretudo, de gerir em meio a uma pandemia?

É um grande desafio. O que vejo é que, muito pelo lado da pandemia, a dificuldade é muito grande devido ao afastamento pessoal. E aqui, para mim, a proximidade é muito importante pelo exercício da liderança. Como exercer liderança em momento em que não se tem contato pessoal? Temos nos adaptado. Mas é difícil. E é impossível não admitir que essa fase está mexendo psicologicamente com muita gente. Potencializa tudo. A gente vem tentando criar mecanismos, mas fazer reuniões para tratar assuntos sérios, como é o caso da segurança pública, dificulta um pouco.

Como o senhor enxerga a importância da Polícia Militar neste momento?

É complicado porque, ao mesmo tempo que sofre as mesmas consequências emocionais da pandemia, nosso desafio é, primeiramente, contribuir com a comunidade, sobretudo neste momento de ajuda, que não é somente de atender ocorrência, mas também na orientação, conversa, e união. Papel de orientação, de calma, de auxílio, é muito importante. Apesar de ser um desafio, já que o policial está incumbido dessa função, vivendo a mesma coisa.

O senhor falou dessa questão da parceria com a sociedade e, embora seja exceção, acompanhamos alguns casos de abuso de autoridade. No comando, como o senhor enxerga essa situação e como trabalhar isso para evitar desvios de conduta na corporação?

É importantíssimo criar mecanismos para tentar conscientizar, diante de todas as dificuldades que estamos passando, que não se pode ter esses excessos. Temos de fazer contato com os policiais para que evitem essas ocorrências mal conduzidas, criar mecanismos que os profissionais possam se desestressar e ter consciência de que naquele momento eles têm de auxiliar. Temos de ver se, por trás disso, há um problema com o agente e, em retaguarda, auxiliar, porque é um ser humano e, às vezes, também está passando por problemas. Ali também existe um ser humano. E jamais fica impune, se errou, não deveria ter errado e passará por todos os processos internos. Não adianta. Não há como ser diferente, ter dó. Existe uma norma, leis, regulamentos. Se provado que ocorreu, temos de tomar providências e responsabilizar o policial. Mas é um desafio. Temos de ver onde está o problema e preparar mecanismos para evitar isso.

A região tem deficit de cerca de 300 policiais. Até que ponto isso pode prejudicar o trabalho de combate ao crime?

Hoje temos 3.316 policiais no Grande ABC. Claro, quanto maior o efetivo e maior ele estiver, melhor será a prestação de serviço e a ostensividade, ou seja, a presença policial. Procuramos, de formas paralelas, suprir as necessidades.

Os índices criminais na região vêm caindo desde o ano passado. O senhor acredita que isso tem a ver com a pandemia?

Olha, eu sou suspeito para falar, porque acredito que um dos principais fatores na região foi a chegada do Baep. Crimes em que o Grande ABC tinha um índice muito grande, como roubo de veículos, caíram bastante. Furto de veículos, latrocínio, são crimes que caíram muito. Entender que, com a pandemia, os carros pararam de circular, não dá. A gente vê que está tendo circulação normalmente, caiu um pouco em alguns meses, e mesmo assim tinha carros nas ruas. O ladrão espera oportunidade. Crimes fáceis. Não deixou de roubar. Houve um trabalho muito forte em todos os batalhões, e foram desenvolvidas operações nesse período que também influenciaram, mas o Baep começou em abril de 2019 e, de lá para cá, consequentemente tivemos uma queda de indicadores criminais. Somam-se. Baep e os batalhões.

Com a pandemia os números de violência doméstica, que já estavam em alta, foram ainda mais alarmantes. Como a Polícia Militar pode trabalhar para evitar esse tipo de crime?

É um desafio e tanto. É um crime que acontece dentro das casas, e que depende da denúncia de alguém que, muitas vezes, só o faz depois de várias agressões. Só consegue ser combatido com prevenção primária, sejam palestras de orientação ou reuniões educativas. Nossa ideia é tentar levantar ocorrências de violência doméstica e mapear, analisar se há pontos com mais casos para que o policiamento local seja mais forte. Vamos tentar conscientizar para voltar as ações da polícia para prevenção, tentar antecipar e, eventualmente, mapeando locais para evitar recorrências.

Acompanhamos a evolução do Baep na região, sobretudo em ações contra o tráfico com grandes apreensões. O que mudou no policiamento regional com o batalhão?

A criação do Baep na região veio muito com esse foco de combater crime organizado, violentos, e de ameaça à vida, mas também ao tráfico. Um dos focos principais foi, de fato, o tráfico, porque acaba sendo a ponte que agrega vários crimes para se sustentar. O furto de um simples celular alimenta o tráfico. Por isso, sim, resolvemos atacar esse ponto para tentar minimizar esse crime, que chama outros maiores, como crimes organizados. O Baep atua 24 horas por dia, com viaturas rodando o tempo todo nos sete municípios. E tivemos muito sucesso, apreendendo mais de 14 toneladas de entorpecentes no ano passado, além de outras tantas ocorrências. Acho que em todos os sentidos o Baep foi positivo, tanto em atuação como no apoio e incentivo aos demais batalhões. Suporte e retaguarda.

Qual o legado que pretende deixar em sua gestão?
Quero estreitar o laço entre a polícia e a comunidade, com confiança e proximidade. Acho que isso é muito importante. Mostrar que a população pode contar com a PM. E um segundo ponto, que é fundamental para conseguir esse primeiro, é a questão da valorização policial. Meu trabalho específico enquanto comandante do CPA/M-6, que tem de ver os dois lados, público interno e externo, é esse. Olhar esses profissionais, instruir, orientar, preparar, treinar e dar para eles a motivação necessária e bem-estar para que, assim, possibilitemos essa boa relação com a comunidade. 

RAIO X

Nome: Gilson Hélio Jesus dos Santos (coronel Hélio)
Estado civil: casado
Idade: 55 anos
Local de nascimento: nasceu em Alagoinhas, na Bahia, e mora na Capital
Formação: bacharel em direito; bacharel, mestre e doutor em ciências policiais de segurança e ordem pública
Hobby: corrida de rua
Local predileto: minha casa
Livro que recomenda: As Cinco Pessoas que Você Encontra no Céu, de Mitch Albom
Artista que marcou sua vida: Ayrton Senna
Profissão: coronel da Polícia Militar
Onde trabalha: CPA/M-6 (Comando de Policiamento de Área Metropolitano 6)




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