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Terça-Feira, 23 de Abril de 2024

Morre em Santo André o arquiteto Jorge Bomfim

Profissional assinou obras importantes na região, como o Fórum de Santo André e o Paço de São Bernardo

Vanessa Soares
Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
02/03/2021 | 12:41
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Orlando Filho/Arquivo/DGABC


Um dos arquitetos mais importantes da história do Grande ABC, Jorge Olavo dos Santos Bomfim morreu na madrugada desta terça-feira (2), aos 86 anos, por conta de complicações decorrentes de pneumonia aspirativa.. Ele estava em casa e, segundo a família, já algum tempo lutava contra deficiência neurológica. O sepultamento foi realizado hoje, no Cemitério da Saudade, na Vila Assunção, em Santo André.

 

Nascido em Ribeirão Preto e formado em Arquitetura pelo Mackenzie, em 1960, Bomfim se mudou para a região em 1961, para ser diretor de Planejamento Urbano de São Bernardo, a convite do prefeito Lauro Gomes. Foi responsável por diversos projetos arquitetônicos de destaque como o Fórum de Santo André, patrimônio tombado pelo Comdephaapasa (Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André) em 2018, o prédio do Diário do Grande ABC, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André, do Paço de São Bernardo, entre outros.

 

Filho do arquiteto, André Bomfim, 52, que segue a profissão do pai, diz que seu legado “foi buscar a verdade por meio da arquitetura. (Ele) Viveu na forma exata do termo, lutando sempre pelo ideal de beleza, honestidade, caráter e humor inteligente, sempre permeado das curvas generosas de sua particular geometria”.

 

André, hoje responsável pelo escritório Bomfim Arquitetura Construída, fundado em 1963, em Santo André, diz que sua tarefa, de sua equipe e de sua família, é continuar legado do pai, “tentando sempre procurar o ideal do rigor estético e da liberdade formal, na vida e na arquitetura”.

 

"É um perda muito grande para o Grande ABC, porque ele transformou Santo André. Quando veio para cá, a cidade não tinha muitos edifícios. Ele foi responsável pelo primeiro prédio da cidade, no bairro Jardim. Era uma figura muito importante", lamentou Felippe Matos Pereira, 33, arquiteto que trabalhou com Bomfim.

 

Bomfim era amante das artes plásticas. Tanto que apostava no uso de cores marcantes, agressivas, em contraste com material de alvenaria e concreto. Ao Diário disse em 2002 que “a cor evidencia elementos da arquitetura e é fundamental, seja na caixilharia de alumínio ou nas pastilhas de cerâmica, com equilíbrio e proporção”. Afirmou gostar de combinar cores complementares, como fazia o artista plástico andreense Luiz Sacilotto (1924-2003).

 

Sua pluralidade pôde ser observada em obras em Santo André, como o Fórum, de 1968, com apelo por linhas retas e tom acinzentado. Ao mesmo tempo, quase em frente, está o prédio da OAB andreense, com cores nos vidros e linhas arredondadas.

 

Uma das obras mais emblemáticas do currículo do arquiteto é o Paço de São Bernardo, instalado na Praça Samuel Sabatini, no Centro, e que, em 2019, completou cinco décadas. O projeto foi encomendado em 1964 pelo então prefeito Lauro Gomes e o responsável por colocá-lo em prática era o recém-formado Bomfim com grupo de jovens arquitetos. O projeto, que consistia no prédio do Executivo, de 19 andares, a Câmara, um centro cívico com parlatório em mosaico português – onde hoje há área gramada -, foi criado em cima de uma área de 65 mil metros quadrados. Quando ficou pronto, em 1969, o local não passou por inauguração oficial e os funcionários públicos foram simplesmente ocupando as salas.

 

Jornalista, historiador e responsável pela coluna Memória, no Diário, Ademir Medici conta que o quê o arquiteto Bomfim tinha de talento e competência, tinha também de humildade, que beirava o tímido. “Certa vez, num evento em São Bernardo, plateia lotada no Centro dos Professores, o vi sentadinho, anonimamente. Com certeza os organizadores e convidados não sabiam que, nos idos de 1966, 1967, o jovem Bomfim era funcionário da Prefeitura de São Bernardo e, nesta condição, projetou, com colegas, o Centro Cívico da cidade, incluindo o Paço e o prédio da Câmara. Seu pagamento, e o dos colegas, foi o salário de servidor do fim do mês. Imagine hoje quanto custa um projeto do gênero. A obra sofreu mudanças radicais nos últimos anos, principalmente o prédio da Câmara, e acho que Bomfim ficou triste. Imagino que não tenha sido ouvido”.

 

Para Medici, uma simples placa no local, com o seu nome e o dos colegas, “seria uma homenagem merecida, mesmo que tardia”.

 

Além das construções marcantes, Bomfim deixa algo ainda maior. Lições de generosidade e se seriedade. “Brigava sempre pela honestidade e pela retidão. Super profissional, excelente em sua profissão e um gênio na arquitetura. Marcou o (Grande) ABC com suas obras, seu caráter e forte personalidade. Me ensinou o que aprendeu com seu pai. (A) ser livre , sem preconceitos, sem amarras. Um homem moderno”, encerra o filho.




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