Do montante, R$ 91,2 mi foram computados em contratos firmados pelas prefeituras sem licitação
Levantamento do Diário, baseado em dados colhidos pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado), aponta que, juntas, as prefeituras do Grande ABC já despenderam pelo menos R$ 162,42 milhões na tentativa de minimizar os efeitos da pandemia do coronavírus. Deste montante, os gastos com contratos emergenciais, assinados mediante dispensa de licitação, atingem o patamar de R$ 91,23 milhões no período consolidado de dois meses de balanço. O compilado registra informações prestadas pelas gestões municipais sobre o plano de enfrentamento da Covid-19 questionado pela corte.
Mesmo com o investimento efetivado, a região contabiliza pouco mais de 1.000 mortes pelo vírus. Os valores computam números entre março, quando houve o decreto da quarentena, até o fim de maio. No topo da lista aparece São Bernardo, com R$ 54,5 milhões aplicados para combate à doença, sendo R$ 31,5 milhões sem abertura de certame. Logo na sequência do quadro está Santo André, que desembolsou R$ 47,28 milhões. Destas cifras, R$ 17,2 milhões foram sem concorrência pública. Em ambas, os ajustes se deram pela Lei de Licitação número 8.666/93, que permite a modalidade em estado de calamidade pública.
O Paço andreense formalizou junto ao tribunal três hospitais de campanha neste intervalo ao custo de R$ 8 milhões, ao todo. O valor destinado ao pagamento de pessoal contratado emergencialmente impactou em R$ 2,13 milhões. Já em solo são-bernardense houve registro de R$ 102,2 mil com mitigação das sequelas da alteração da rotina escolar. No âmbito estadual, incluindo 644 municípios de São Paulo – excetuando-se a Capital –, a soma de todos os contratos feitos com dispensa de licitação alcançou R$ 1,018 bilhão. As quantias abrangem ainda compra de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), testes e materiais de limpeza.
São Caetano e Diadema gastaram quantias aproximadas. A primeira despendeu R$ 19,18 milhões – sendo R$ 380 mil com o hospital de campanha – até agora, durante a crise, enquanto a segunda, R$ 19,76 milhões – R$ 2,52 milhões para atenuar problemas relacionados à mudança na rotina escolar. Foram R$ 4,55 milhões (R$ 3,3 milhões pela Lei de Licitações e R$ 1,2 milhão realizado com fundamento na Lei Federal 13.979/20, que abrange, por exemplo, flexibilidade para aquisição de bens, serviços e insumo de saúde) e R$ 13,5 milhões sem processo licitatório, respectivamente.
Mauá, por sua vez, investiu R$ 17 milhões, sendo destes R$ 15,56 milhões com dispensa de certame. A cidade implantou um hospital de campanha, alvo, inclusive, do Ministério Público, mas a descrição não consta no extrato. Os valores da instalação e manutenção do equipamento envolvem cerca de R$ 4 milhões. Ribeirão Pires marcou R$ 4 milhões – R$ 779,6 mil com hospital de campanha – e Rio Grande da Serra, R$ 661,1 mil.
RECURSOS
Diante do decreto de pandemia, os municípios do Estado receberam destinação de R$ 923,9 milhões, provenientes de repasses dos governos estadual e federal. No recorte regional, as transferências competem a R$ 100,3 milhões – com a maior fatia, São Bernardo obteve R$ 39,7 milhões no período. A União foi responsável por R$ 60,45 milhões do total de recursos encaminhados às sete cidades. Já o governo de São Paulo destinou R$ 39,86 milhões ao Grande ABC.
O relatório do TCE destaca também que as cidades paulistas apresentaram redução de receitas em relação ao previsto para o período. Nos cinco primeiros meses do ano, as administrações municipais arrecadaram R$ 27,6 bilhões a menos do que o esperado. A expectativa era de angariar R$ 76,3 bilhões. Os números levantados registram, contudo, receita da ordem de R$ 48,7 bilhões – Santo André contabilizou volume de R$ 1,06 bilhão e Diadema, R$ 478,45 milhões.
Ribeirão prorroga estado de calamidade pública
Ribeirão Pires prorrogou por 90 dias decreto de estado de calamidade pública. A situação também é mantida pelas demais cidades do Grande ABC, bem como no Estado. O reconhecimento permite flexibilização das regras e, diante disso, a destinação excepcional de mais recursos à saúde sem incorrer em crime fiscal.
O Paço ribeirão-pirense confirmou os valores de gastos frente à crise, mas rechaçou que o volume em contratos sem licitação atinja R$ 8,5 milhões, conforme consta no portal do TCE. Alegou que a quantia corresponde à metade deste montante: R$ 4,24 milhões. “A Prefeitura solicitará ao tribunal a correção do dado.”
Em março, São Caetano efetivou o estado de calamidade por seis meses. A cidade sustentou que os valores investidos em ações de combate à pandemia chegam perto de R$ 43 milhões em três meses, englobando aumento no número de leitos de UTI, de 40 para 80, exclusivos para pacientes com Covid-19, criação do disque coronavírus com coleta de exames domiciliares e drive thru de testagem.
São Bernardo aborda também a implantação de dois novos hospitais de referência para a doença, adequação de leitos, contratação de novos profissionais e testagem em massa. Frisou que essas medidas ajudaram no avanço do município, junto com os vizinhos do Grande ABC, à fase amarela do Plano São Paulo, anunciado na sexta-feira.
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