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Orgulho corintiano
Por Rodolfo de Souza
Do Diário do Grande ABC
04/06/2020 | 07:30
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Não sou apreciador de futebol, em especial. Aliás, gosto dele como gosto de vôlei ou basquete, o que certamente não faz de mim um torcedor deste ou daquele time. Apesar de ser acometido, volta e meia, por alguma empolgação quando vejo o esquete que leva o nome da minha cidade ascender no palco do certame. Sabe, amigo, o Santo André costuma fazer bonito e encher de alegria este coração, que não se contém e bate acelerado quando vê seu brasão estufar a rede adversária.

A razão de tamanho entusiasmo está no amor que sinto pelo meu berço, pelo chão que tão bem recebeu este escritor, e que haverá de guardá-lo um dia. Daí a minha torcida pelo clube que o representa.

Quanto aos demais, têm todo o meu respeito. Respeito que, aliás, só fez crescer no último domingo. Eu, que venho de família com alguma tendência corintiana, fui obrigado a me render à sua torcida, que, unida a palmeirenses, tricolores e santistas estiveram na suntuosa avenida, não para comemorar, mas para defender aquilo que uma nação tem de mais sagrado, que é a sua democracia. 

Pelo que ouvi falar, teria partido da Gaviões a iniciativa de usar o seu nome e a sua força para gritar a plenos pulmões que esta Nação é democrática e que assim deve continuar. E, em momento tão crucial, com pandemia e tudo, fico orgulhoso de saber que alguém ergue a voz para deter o fascismo que cavalga impávido rumo ao poder supremo deste imenso quintal. 

E, por ter acordado para o fato incontestável de que democracia significa liberdade, as torcidas foram para a mais paulista das avenidas mostrar seu descontentamento e sua indignação. Planejaram um protesto pacífico, que vinha funcionando a contento. Não se sabe bem o porquê, no entanto, de os ânimos terem se exaltado para que tudo, de repente, resultasse em desordem.

Não resta dúvida de que alguém, conhecedor da sensibilidade nervosa ali, se encarregou de tocar fogo no estopim. Mencionaram uma bandeira nazista que fora infiltrada no meio da galera, como forma de provocá-la. E é sabido que a presença do fascismo no outro extremo da avenida também teria colaborado para o início do conflito. E a lei, representada por gente tão humilde quanto a gente que se manifestava, colocou-se contra ela, enchendo-a de revolta.

E, assim, o movimento acabou por ganhar o rótulo de vandalismo, só para satisfazer o desejo de uns poucos, que torcem o nariz quando o assunto é a desigualdade social daqui deste paraíso de desigualdades. 

Mas não tem nada não. De qualquer forma, o acontecimento também serviu para acender a luz de uma consciência que só enxergava a prática do autoritarismo e do racismo em outras terras. O grito na avenida, afinal, explodiu para dar um basta no preconceito que fora potencializado pela atitude de alguns, que viram ali um movimento voltado somente à baderna.

E tudo isso sensibilizou a alma deste cronista, que poucas vezes escreveu sobre o futebol e suas torcidas, e que agora toma nas mãos este rico papel digital para colocar nele palavras de júbilo pelo gol marcado neste dia memorável que me fez tirar o chapéu para uma gente que provou ali que não pensa só no campeonato.</CW>




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