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Sem previsão de melhora
Momento é de dificuldade para profissionais da arte

Sem trabalho por causa da pandemia da Covid-19, pessoas ligadas ao mundo artístico temem presente e futuro

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
14/04/2020 | 23:55
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Celso Luiz/DGABC


Há cerca de um mês, shows e apresentações artísticas de todas as linguagens começaram a ser cancelados por causa da pandemia do novo coronavírus e como maneira de evitar aglomeração de pessoas e contágio da Covid-19. Desde então, profissionais ligados ao universo artístico quebram a cabeça para conseguir sustento e esperam por dias melhores.

Este é o dilema do pessoal da Companhia Canta Circo e Teatro, de São Caetano, que teve 18 apresentações canceladas entre temporada em São Paulo e eventos em unidades do Sesc. “Para a gente o prejuízo é estimado em torno de R$ 70 mil”, comenta João Rocha, 35 anos, um dos responsáveis pelo grupo. “A situação é extremamente preocupante e para o próximo mês não há mais o que fazer financeiramente.”

Além de Rocha, a companhia é formada pelo ator Wesley Soares. E há também os que colaboram indiretamente, que contam com os espetáculos do grupo para sobreviver. “Temos dois técnicos, um outro trabalho com banda de cinco palhaços e duas produtoras. Umas 12 pessoas, contando todos projetos”, diz Rocha.

A companhia fez uma apresentação infantil on-line recentemente, por meio da página do grupo Cia da Matilde, também de São Caetano, o que ajudou a angariar dinheiro. “O Erike Busoni, da companhia, fez contato com algumas mães e o pessoal assistiu e pagou ingresso simbólico pela apresentação. Nos ajudou nas contas. Tudo o que está acontecendo é uma prova de fogo”, acredita Rocha. Toda a verba que o grupo conseguiu foi usada em março. “Para o próximo mês a previsão é zero”. O grupo fará outra live domingo, às 11h, pelo mesmo canal.

Giselle Maria, 38, de Santo André, trabalha com música há 22 anos e tem seu sustento em aulas de canto e apresentações ao vivo. “Os shows que eu tinha para abril, maio e julho caíram”, diz. Ela perdeu metade dos alunos. Workshops e oficinas que fazia em escolas e as aulas nas paróquias também cessaram. Ela está dando aulas de canto de casa, via internet. “Estou me dedicando a entender as plataformas digitais. Estou readaptando tudo”. Mas a preocupação não para. “Minha cabeça fica pensando em como vou ganhar dinheiro para pagar as contas”, diz.

É como produtor técnico de shows de diversos artistas que Rafael Fuzzaro, 37, de São Caetano, ganha a vida. Com a chegada da pandemia e o cancelamento dos eventos culturais, viu sua programação ruir. “Tinha trabalho firmado até junho. Tudo caiu. Se for ver, caiu praticamente 100% do que recebia”, explica.

Além disso, Rafael é contrabaixista e é luthier (quem trabalha com construção ou reparo de instrumentos musicais). Mas ambas as atividades estão paradas. Sua oficina de luthieria está fechada, já que um amigo precisou do espaço para isolamento por estar com suspeita da Covid-19.

E tanto Giselle quanto Fuzzaro acreditam que as atividades artísticas levarão tempo para serem retomadas. “Estas coisas acontecem com aglomeração de pessoas. Não vejo saída a médio prazo”, lamenta. “Após o (novo) coronavírus, o entretenimento será o último a ser lembrado. Até o fim do ano não acho que voltará a ter movimento”, frisa Giselle.
 

Músico acredita que respeitar isolamento social é necessário

O contrabaixista de Santo André Stefano Moliner, 48 anos, que estava divulgando seu primeiro disco autoral, viu toda sua agenda de apresentações ser cancelada com a chegada da pandemia do novo coronavírus e o fechamento dos espaços de shows.

Ele é também professor e leciona em escola estadual, mas diz que a música é 80% de sua renda. “Tinha uma agenda de cinco shows por semana, em média. Não tenho feito lives (ao vivo por meio de redes sociais). Sou contrabaixista e preciso de outros músicos para poder tocar. Estou à deriva.”

Com a falta de eventos e a não entrada de dinheiro, ele cortou todos os gastos que não sejam essenciais. “Não sei quanto vou precisar dispor da pouca renda que tenho”, pondera. “Estamos enfrentando situação que ninguém tem resposta. A única ideia que se tem para agir de forma eficaz é o tal do isolamento social. Eu, me preservando, na minha casa, quebrando o ciclo de alastramento do vírus, eu, automaticamente estou cuidando de você”, explica.

O músico diz que o inverso também é verdadeiro. Quando alguém ignora a condição do isolamento social, “essa pessoa está automaticamente colocando a vida do próximo em risco”.

Moliner lembra que os músicos dependem, obrigatoriamente, da presença de pessoas. “Nós trabalhamos à noite, tocando em ambientes que espera-se que tenham pessoas. Essa será, talvez, a camada que mais demore para retornar à normalidade. Quanto mais a gente deixa a pandemia circulando, mais uma pessoa como eu vai se prejudicar.”




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