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Cirurgias que não podem esperar

Procedimentos de urgência e partos são temidos por conta da Covid-19; centros médicos mudam rotina e restringem acesso de visitantes

Por Bia Moço
do Diário do Grande ABC
05/04/2020 | 00:01
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Arquivo pessoal


Com o crescimento de casos do novo coronavírus no Brasil, hospitais e clínicas – tanto da rede pública, como particulares –, cancelaram temporariamente a realização de cirurgias eletivas, entretanto, procedimentos de urgência, assim como partos, não podem esperar. A questão que fica na cabeça dos pacientes é o risco de contrair a Covid-19, já que precisam se submeter ao ambiente hospitalar, muitas vezes com a imunidade baixa, sobretudo no pós-cirúrgico.

Embora concorde que as unidades de saúde sejam ambientes temidos pelo “alto risco de infecções”, Juvencio Dualibe Furtado, professor de infectologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e chefe do departamento de infectologia do Hospital Heliópolis, na Capital, explica que o contágio pode ocorrer “em qualquer lugar”. “É preciso ter contato com a doença para adquirir. Não é porque a pessoa vai fazer uma cirurgia que ela está sob maior risco porque está dentro do hospital. O risco é o contato com a doença, por isso devemos controlar as visitas hospitalares”, enfatizou.

O engenheiro aposentado Jorge Luiz Sevciuc Maria, 63 anos, foi um dos pacientes que sentiu este medo. No dia 23, o morador do Valparaíso, em Santo André, precisou realizar cirurgia para retirada de um tumor no rim esquerdo. Em princípio, o procedimento estava marcado para o dia 26, mas por conta do avanço do vírus, o Hospital Oswaldo Cruz, na Capital, optou por antecipar a data. O paciente foi informado de que só poderia permanecer com ele um acompanhante, sem possibilidade de trocas. Além disso, soube que não seria possível receber visitas no hospital, tampouco em sua casa depois que tivesse alta. “A preocupação era ir para um local que houvesse pessoas infectadas com o novo coronavírus, mas chegando na unidade, notei que estava em um prédio onde só havia cirurgias, o que me tranquilizou”, explicou Jorge.

O aposentado ressalta que os profissionais tiveram cuidado com a higiene, embora no primeiro dia a falta do uso de máscaras tenha lhe chamado atenção. “Questionei o motivo dos funcionários não estarem utilizando máscaras a todo momento, mas me disseram que naquele espaço não seria necessário já que não havia infectados pela Covid-19.”

Jorge relembrou que, no dia seguinte, com a justificativa de que “o protocolo tinha mudado”, todos os funcionários estavam com o equipamento, o que o deixou “preocupado”.

Moradora do Jardim Ciprestes, em Santo André, Andressa Gomes da Silva, 25, ficou receosa com sua estadia no Hospital da Mulher, na mesma cidade. Ela, que realizou cesariana para a chegada da filha Helena, disse que a insegurança “foi grande”. “Tive medo (da Covid-19) pela minha filha, ainda mais que recém-nascido não tem tanta imunidade”, relembrou Andressa.

A jovem relatou que durante os dois dias de internação não recebeu visitas e não teve acompanhante. “Em casa não recebo ninguém e redobrei os cuidados com a limpeza. Meu filho mais velho (Bryan, 6) e meu marido também estão tendo muito cuidado, não só pela bebê, mas por todos nós”, garantiu a puerpéria.

Hospitais intensificam protocolos de higiene

A restrição temporária de cirurgias eletivas tem como objetivo, além de não sobrecarregar o sistema de saúde, evitar que o vírus seja propagado dentro do ambiente hospitalar. Especialistas ressaltaram que, diante da pandemia, os protocolos de higiene das unidades de saúde ficaram ainda mais rigorosos.

Coordenadora do Internato de Medicina da Família da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Jocelene Batista Pereira explicou que hospital, de maneira geral, sempre foi ambiente de risco, devendo ser utilizado em caso de “real necessidade”. “O novo Coronavírus só aumentou os riscos de infecção hospitalar, portanto, as unidades estão mais rigorosas com criação de barreiras, esterilização e desinfecção das áreas”, reforçou a especialista.

O ginecologista Rodrigo Jibrirm disse que, não somente em partos, mas em todas as cirurgias que não podem ser adiadas, os hospitais e profissionais estão seguindo protocolos de segurança ainda mais reforçados que o habitual. “O risco de exposição (à Covid-19) sempre acaba existindo, mas é totalmente controlado e minimizado diante dos cuidados hospitalares”, reforçou.

Segundo o médico, áreas da maternidade e da obstetrícia, assim como os centros cirúrgicos, normalmente são cautelosos com a higienização. O que mudou com a chegada da Covid-19 foi a restrição de visitas e troca de acompanhantes – em alguns casos, a visita foi até mesmo proibida. “A orientação passada aos familiares é bloquear o contato”, disse Jibrirm.

O Hospital e Maternidade Christovão da Gama, do Grupo Lefort, em Santo André, montou um plano de contingência no combate à Covid-19. Os pacientes que chegam ao pronto-socorro apresentando sintomas da doença, recebem imediatamente uma máscara de proteção individual e são encaminhados para área de isolamento. Segundo o grupo, estas iniciativas “minimizam o risco de contaminação aos paciente que realizam cirurgias de urgência”.

Além disso, o grupo está investindo na desospitalização e a continuidade de tratamentos em ambiente domiciliar até a alta médica. Desde janeiro, 26 pacientes de três unidades foram incluídos neste programa, o que corresponde a 105 dias de tratamento domiciliar, com média de quatro dias por paciente. “Em âmbito hospitalar, houve uma queda média de 50% no período de internação destes pacientes”, afirmou o grupo destacando que, desta forma, conseguiu aumentar o número de leitos disponíveis caso haja aumento de casos da doença. 




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