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Terça-Feira, 30 de Abril de 2024

Gus Van Sant resvala na essência da juventude
Patrícia Vilani
Do Diário do Grande ABC
01/04/2004 | 19:02
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O diretor Gus Van Sant há muito tempo investiga o universo dos adolescentes, de Drugstore Cowboy (1989) a Gênio Indomável (1997), mas nunca chegou tão perto da essência do ser jovem como em Elefante (Elephant, EUA, 2003), que estréia nesta sexta em São Paulo. Com o filme, ele ganhou a Palma de Ouro de direção em Cannes. O espectador atento entenderá que foi um dos prêmios mais justos do festival: Van Sant transforma o massacre de Columbine em um impressionante jogo de câmeras ao filmar várias vezes a mesma cena de diferentes ângulos, mas sempre com perfeição de detalhes.

Como nada em Elefante está ali por acaso, isso acontece porque o diretor opta por seguir os passos dos adolescentes um a um, sempre com planos-seqüência (sem cortes), numa metáfora à individualidade dos adolescentes de hoje. O realismo está também nos personagens, todos eles estudantes de verdade, todos eles tratados pelo nome real. Para cada um, a experiência de estudar numa escola de subúrbio típica dos Estados Unidos é diferente: estimulante, amistosa, traumática, solitária.

Não é um documentário, mas uma ficção baseada em fatos reais. A diferença de Elefante para Tiros em Columbine é que o diretor deste, Michael Moore, assume uma posição: ele é contra o porte de armas e coloca a culpa na cultura bélica dos Estados Unidos. Já Van Sant não julga, em nenhum momento, os envolvidos no massacre. Ele apenas mostra fatos.

A história trata de um dia comum de outono, mas que não será nada típico até o desfecho. Elias está a caminho da escola e convence um casal a posar para suas fotografias. Nate termina o treino de futebol e vai almoçar com a namorada. John passa apuros no caminho da escola com o pai bêbado ao volante. No refeitório, Brittany, Jordan e Nicole, três amigas bulímicas, fazem fofocas e reclamam da bisbilhotice de suas mães. Michelle toma bronca na aula de Educação Física e John anda até o gramado, onde encontra Alex e Eric, que chegam à escola armados até os dentes.

Tudo é muito sutil em Elefante, daí a ironia no nome. Van Sant ganha confiança o bastante para não cortar demais, não preencher silêncios com ruídos ou trilha sonora. É uma obra pura, que coloca o espectador no lugar dos adolescentes, da mesma maneira que tudo ocorre para eles.




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