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Sexta-Feira, 26 de Abril de 2024

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Violência
GCM morre após ser agredido em parque de Santo André

Benedito Manoel da Silva, 56 anos, foi atacado por jovem que se recusou a guardar narguilé

Vanessa Soares
Do Diário do Grande ABC
16/01/2020 | 23:45
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Nario Barbosa/DGABC


Um ser humano alegre, profissional dedicado e bom amigo. É assim que familiares, amigos e colegas de trabalho descrevem o GCM (Guarda-Civil Municipal) Benedito Manoel da Silva, 56 anos, que morreu na madrugada de ontem, horas depois de passar mal após ser agredido por um jovem no Parque Prefeito Celso Daniel, em Santo André, onde trabalhava.

“O Manoel era um anjo. Era muito dedicado ao trabalho. Ele gostava de trabalhar no parque por ser um ambiente familiar, com muita criança, esportistas. Perto do Natal ele estava tão feliz por causa da decoração”, contou Isabela Felix, 51, casada com Silva há dez.

De acordo com o boletim de ocorrência, atendendo reclamação de uma mãe que estava com o filho no playground do parque no fim da tarde de quarta-feira, Silva solicitou a casal de jovens que fumava narguilé (espécie de cachimbo de água utilizado para fumar tabaco aromatizado) que interrompesse o uso. Nova queixa sobre o problema chegou à GCM e, na companhia de um colega, Silva se dirigiu até Giovani Aquiles Atallah Rodrigues, 22 anos, que estava com a namorada em um dos bancos do equipamento público. 

Rodrigues se negou a deixar de fazer uso do equipamento e, quando Silva se abaixou para pegar o narguilé, foi agredido pelo jovem com socos no peito. Rodrigues foi imobilizado pelo outro GCM e levado para guarita da corporação no parque. 

Silva começou a se sentir mal e foi socorrido à UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Central do município. Ele sofreu três paradas cardíacas e chegou a ser transferido em estado grave para o CHM (Centro Hospitalar Municipal), onde não resistiu e morreu. 

O prefeito Paulo Serra (PSDB) decretou luto oficial de três dias e, pelas redes sociais, lamentou o episódio. “Cidade chora? Chora, sim. Hoje, Santo André está chorando. A morte do cidadão, pai de família, ... é insuportável. Machuca, dói, entristece. Mais ainda quando a causa é a associação de desrespeito e violência. Ainda mais quando ocorre no cumprimento do dever. Neste momento, duas famílias choram mais que todos nós: a do agredido e a do agressor.”

O caso foi registrado como resistência e lesão corporal. O agressor foi ouvido e liberado. Inquérito civil foi instaurado e a polícia aguarda resultado de laudo do IML (Instituto Médico-Legal), que pode demorar até 30 dias para ficar pronto. 

O corpo de Silva está sendo velado no Cemitério do Curuçá e o enterro será às 9h15 de hoje. Ele trabalhava há 33 anos na GCM e deixa três filhos do primeiro casamento.

Violência é reflexo de crise civilizacional

NATÁLIA FERNANDJES
Do Diário do Grande ABC

A agressão de um indivíduo da sociedade civil a um agente do Estado, como é o caso do GCM (Guarda-Civil Municipal) Benedito Manoel da Silva, 56 anos, morto em Santo André, é “reflexo da crise civilizacional”, considera o professor do curso de sociologia do Mackenzie Rogério Baptistini. 

Para o especialista, vivemos em momento de incertezas em relação ao futuro – consequência da globalização, crise econômica e da dificuldade de o Estado dar respostas às demandas da população – e isso colabora para que a violência esteja aflorada na sociedade. “Nos faltam verdadeiros líderes, gente capacitada a costurar o consenso. Com isso, as pessoas perdem referências civilizatórias”, explica.

Na visão de Baptistini, não apenas o governo federal “dá mau exemplo” em relação a condutas truculentas e à falta de diálogo como também os demais atores da sociedade – governadores, prefeitos, empresários. “Lideranças políticas investidas de mandato, quando não são capazes de propor o diálogo, acabam jogando combustível na fogueira.”

A situação de crise também reflete no descrédito da população em relação às autoridades em todo o mundo. “Observamos que a juventude geralmente opta pelo confronto e pela transgressão da ordem. Na visão deles, o indivíduo com farda defende o status quo e, como estão na linha de frente, funcionam como amortecedores do governo. O que se esquece é que são homens comuns, pais de família”, ressalta Baptistini.




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