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Mulheres ganham R$ 812,69 a menos do que os homens

No Grande ABC, a diferença da média salarial é de 24,01%; somente setor de serviços possui maior presença feminina

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
22/10/2019 | 07:16
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Pixabay


O mercado de trabalho formal do Grande ABC é um retrato da desigualdade entre homens e mulheres, tanto na quantidade de trabalhadores quanto na média salarial. No total, são 320,1 representantes do sexo feminino e 416,1 mil do masculino, sendo que elas recebem cerca de 24,01% a menos do que eles, o que representa uma diferença de R$ 812,69 – 81,4% do valor do salário mínimo vigente (R$ 998).

Os dados são da Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério da Economia, e foram tabulados pelo Diário. Os números se referem a dezembro de 2018.

A remuneração média na região é de R$ 3.385,01 para os homens e R$ 2.572,32 para as mulheres. O indicador tem o melhor resultado para as trabalhadoras em Diadema (onde elas ganham R$ 2.997,76) e, o pior, em Rio Grande da Serra (R$ 2.051,94). A faixa salarial feminina, porém, não chega na casa dos R$ 3.000 em nenhuma cidade, enquanto que a masculina alcança R$ 4.406,19 em São Bernardo.

Apesar de a quantidade de homens com emprego formal ser maior, o que pode explicar a média salarial mais alta, até mesmo no setor de serviços, o único dentre os quatro principais ramos – indústria, comércio, serviços e construção civil – em que a presença feminina supera a masculina, isso se repete. São 170,4 mil mulheres com média salarial de R$ 2.380,05. O que representa R$ 579,38 a menos, ou 24,34% de diferença em relação ao que trabalhadores recebem no segmento (R$ 2.959,43).

“Atualmente, o setor de serviços é a porta de entrada mais fácil para o mercado de trabalho (foram geradas 9.842 vagas no ramo durante todo o ano passado) e há diversas vagas destinadas a mulheres, como nas áreas de estética e de limpeza. E, infelizmente, acabam sendo salários mais baixos”, afirmou o coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero.

Apesar de resultar no problema econômico da desigualdade de renda, a raiz da situação é social, assinalou Balistiero. “Nossa sociedade ainda é predominantemente patriarcal, mesmo que a mulher tenha se inserido bastante no mercado de trabalho nos últimos 40 anos. Há um processo lento e gradativo de as mulheres buscarem postos que elas não ocupavam no passado. Porém, temos retrocedido principalmente na questão política, já que há pouca participação feminina no governo.”

A mestranda e pesquisadora do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Gisele Yamauchi, concordou. “Diante desses resultados de diferenças salariais (na região) são necessárias várias políticas públicas que objetivem diminuir essas diferenças.”

O CEO da Passadori Comunicação, Liderança e Negociação, Reinaldo Passadori, citou que, segundo relatório do Fórum Econômico Mundial de dezembro do ano passado, a igualdade de gênero no trabalho, ou seja, a equiparação de salários entre homens e mulheres, levaria mais de 200 anos para ser superada no mundo. “É um número que me deixou bastante surpreso e é alarmante. Alcançar isso é necessário para o desenvolvimento, já que, quanto mais dinheiro circulando, maior a movimentação da economia, e mais próspero tende a ser o País”, avaliou.

INDÚSTRIA

Em todos os setores os homens ganham mais do que as mulheres. Na indústria, segmento que mais agrega ao PIB (Produto Interno Bruto) do Grande ABC, é onde está a maior diferença de salários, de 32,18%. São 134.270 funcionários do setor industrial, com remuneração mensal média de R$ 4.186,52, e apenas 46.124 mulheres, que recebem média de R$ 2.839,31 por mês – R$ 1.347,21 menos.

De acordo com a diretora executiva do SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC) e responsável pela formação de dirigentes, Michelle Marques, apesar de conseguirem equiparar os salários das mesmas funções entre homens e mulheres no setor, ainda há poucas operárias e menos ainda mulheres que conseguem alçar posições de chefia. Segundo ela, o sexo feminino representa 15% da categoria na região, e não chega a ter efetivo de 10% nas montadoras, que remuneram maiores salários, por isso em São Bernardo, onde há cinco fabricantes, o rendimento deles é maior. “Ainda é um problema grave, porque, apesar de ganhar salário igual para as mesmas funções, as mulheres dificilmente chegam a cargos de liderança e em áreas técnicas nas fábricas. No máximo, chegam a operadora de máquina, e a maioria das mulheres é contratada para o ramo administrativo. No metalúrgico, ainda há muito preconceito e machismo no dia a dia”, afirmou.

Segundo ela, algumas empresas alegam o ‘horário de creche’ das mães trabalhadoras (horário comercial, já que em algumas empresas a saída e/ou a entrada, por exemplo, é às 15h) como entrave para possível promoção. “É uma justificativa ilusória, porque a trabalhadora de outras categorias, como a bancária e a de serviços, por exemplo, também tem compromisso. E o horário é o de menos, a mulher se vira, e às vezes recorre até a parentes por conta da jornada. Na maioria das vezes, é uma mulher ajudando a outra.”

A entidade já tentou levar para a negociação da mesa coletiva a questão do percentual fixo de contratação de mulheres, mas não houve avanços. Porém, esse ponto ainda continua sendo visto como uma solução para a entrada das mulheres no segmento.
 




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